A intervenção da Fly Modern Ark nas Linhas Aéreas de Moçambique tem muitas zonas de penumbra e abre espaço para se acreditar que estamos perante mais uma bolada que interessa alguém com punhos para mexer pauzinhos no Executivo.
Toda narrativa do sucesso não é consistente, os dados do governo sobre os contornos da intervenção são mentirosos, e o que é verdadeiro nisso tudo é que a empresa que intervém está a facturar, e bem mesmo, o que justifica a propaganda triunfalista para legitimar o tacho pago. E antes da hora do balanço, sonha-se em estender o contrato em dois anos. O tacho justifica, mas os resultados da intervenção não.
É no mínimo criminoso que uma empresa, que da boca de um governante ouvimos que traria seus próprios meios e que não seria paga, venha a ser a mesma a tirar dinheiro para os bolsos dos intervencionistas. E não deixa de ser curioso o facto de os dois únicos funcionários da FMA, com ficha manchada, sejam os mesmos a conduzir as operações em Maputo. Em física seria uma descoberta dizer que os suspeitos atraem-se, em oposição a máxima que diz que os opostos se atraem.
As três supostas grandes conquistas da FMA, desde que chegou em Maputo, estão alicerçadas num chão de vidro, primeiro a redução da dívida que estava escondida numa fórmula matemática, por “culpa” dos financeiros “incompetentes” que não conseguem distinguir o passivo do activo. Depois temos a redução das tarifas em 30%, que afinal nunca existiu. Bastou um leigo estar em frente de caixa de qualquer agência da LAM para perceber que a empresa sempre reduziu em 30 por cento os primeiros dez assentos de classe económica nos seus bilhetes promocionais e que o único detalhe que houve foi aumentar as cadeiras para bilhetes promocionais.
Agora domina a propaganda de novas rotas, uma ambição que só devemos celebrar quando efectivamente se concretizar e confirmar que de facto não sobrecarrega a LAM, e não é campanha para alugar mais aviões e aumentar a factura da FMA. É que, para os mediadores, a contratação dos serviços dá uma margem extra, num país em que há gente que enriquece ganhando comissões.
Qualquer celebração no cenário actual não passa de distração para delapidar mais a empresa num momento decisivo, em que o poder pode estar em transição, e é crucial tirar o máximo de barganha para garantir a sobrevivência após o poder.
O que os moçambicanos mais querem não são novas rotas em aviões cansados, mas, antes de tudo, voos consolidados, em termos de pontualidade, e que oferecem segurança acima de tudo. Garantido isto, que é o básico, podemos falar de novas rotas.
E desta vez tinha que ser Magala o mensageiro. Logo Magala, o idóneo, competente, técnico e menos político. E ele que garantiu a grandeza do FMA e serviu de testemunha da empresa cujo perfil não deixa dúvida de que estamos perante pessoas que viram na LAM oportunidade de facturar, e logo no primeiro mês de trabalho começaram a encher os bolsos em surdina.
Surpreende sim a coragem de Magala, que até deu peito no parlamento e chegou ao cúmulo de afirmar que a LAM vive 90% do endividamento sem se importar com a reação do mercado e da banca. Vendeu a versão da maçã podre quando devia ter aproveitado o momento para explicar os contornos da contratação da FMA, os integrantes da comissão que escolheu esta empresa e retirar todo o secretismo que assombra o processo. Já se vão quatro meses, os dois aviões prometidos ainda não foram vistos e os velhos não aceitam mais remendos.
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