Alunas de Ka-Mubukwane denunciam assédio sexual entre colegas da escola

SOCIEDADE
  • Apalpos indecentes geram constrangimentos e revolta

Raparigas da Escola Secundária Ka-Mubukwana, com idades compreendidas entre 13 e 15 anos e que frequentam a 8ª classe, embora novas no ensino secundário, relatam episódios constangedores de assédio sexual de que são vítimas, muitas vezes protagonizados pelos seus colegas. Numa palestra organizada pela direcção da escola, quebraram o silêncio e o medo e revelaram ter já sido apalpadas em suas partes íntimas por rapazes da mesma turma contra a sua vontade, e outras ainda avançaram ter já sido abraçadas a força e apalpadas a nádega e peitos por colegas mais velhos, da 10ª classe, durante as aulas de educação física. Um desses casos foi flagrado por um professor que em repúdio à atitude do aluno infractor levou-o à direcção da escola para uma advertência com vista a desencorajar a ocorrência de casos do género. Com uma abordagem modelo, a escola já dispõe de um canto de aconselhamento, onde casos de abuso e assédio sexual são encaminhados e monitorados por professores devidamente designados para o efeito, como explica Adriano Ouana, professor da 7ª e 8ª classes, que é um dos assistentes.

Renato Cau  

Na semana passada, a direcção da Escola Secundária Ka-Mubukwane, na Cidade de Maputo, juntou cerca de 67 alunas e alunos da 8ª classe para consciencializa-los sobre o assédio sexual e os vários mecanismos de apoio e denúncia, o que acabou sendo uma oportunidade para muitas raparigas que têm sido vítimas de assédio sexual, desabafarem.

É que, na verdade, poucos eram os alunos que sabiam o significado de assédio sexual e que alguns comportamentos e praticas constrangedoras iam contra as regras de conduta, porém, após a explicação de  forma simplificada sobre o problema, algumas raparigas prontificaram-se a partilhar um pouco das suas experiências de assédio no meio escolar.

Joaquina Martins e Laila Chichava, ambas de 13 anos de idade, dizem já terem sido assediadas por rapazes na escola, particularmente por alguns da mesma sala de aulas que de forma insistente as atacam quando bem entendem.

“O mais recente caso foi na quarta-feira, de manhã, quando eu estava a vir à escola para a aula de agropecuária e estava com as minhas duas amigas. Ao entrar na escola vi dois moços, que são da 10ª classe, e eles começaram a nos chamar e nós ignoramos, mas um deles gritou para o amigo que quer a menina que está no meio, e era eu. Ele veio e pegou meus seios e pegou a minha ‘bunda’, enquanto eu não queria. Mesmo aqui tem pessoas que fazem isso, e até posso apontar”, disse Joaquina visivelmente aborrecida com o sucedido.

Joaquina deixou evidente que embora ainda tenha pouca idade, se sente constrangida quando um colega ou qualquer pessoa invade o seu espaço e mexe com a sua intimidade, pior ainda quando tem que conviver com o assediador na mesma sala de aulas.

Tal como outras meninas da sua classe, Joaquina não sabia o que fazer e para onde encaminhar as suas queixas, mas prometeu que a partir da informação disponibilizada passará a informar aos seus professores e a direcção da escola quando presenciar casos de assédio e abuso na escola.

“Para mim, foi um aluno daqui mesmo da escola. É um que gosta de me abraçar e pegar os seios. Um dia ele me pegou seio à força e eu lhe bati porque eu não gostei. Isso não aconteceu só comigo. Ele gosta de fazer isso”, avança Laila Chichava, outra vítima.

Escola cria mecanismos de denúncia

Para estes casos, o professor Adriano Ouana disse, em representação do corpo directivo e docente da escola, que foi criado um cantinho na escola com a missão de receber e dar o devido seguimento aos casos de assédio entre os alunos, bem como entre professores e funcionários.

“Nós temos sempre deixado mensagens às crianças para que sempre que estes casos acontecem aproximem e nos digam para que falemos com os professores que forem identificados. Os alunos estão instruídos a terem que aproximar à direcção da escola sempre que tiverem dificuldades para aquisição de materiais escolares e sempre que sofrerem algum tipo de abuso, seja em casa ou na rua, para buscar orientação de professores pedagogicamente preparados para lidar situações similares”, sustenta.

Facebook Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *