MaxCom, parceiro da AMT, culpa sistema de governação corrupto por mais um “falhanço”

DESTAQUE SOCIEDADE
  • Implementadores já assumem fracasso do sistema Bilhética Eletrónica “FAMBA”
  • Projecto fracassou logo no primeiro ano de implementação e não há sinais de revitalização
  • As cabines estão abandonadas e as máquinas praticamente desmanteladas
  • Munícipes não têm dúvidas que o Famba é mais um projecto falhado do Governo

Lançado em Fevereiro de 2021, o sistema de Bilhética Electrónica, conhecido como Famba, deu sinais de fracasso logo no seu primeiro ano e mesmo depois de o Governo ter prometido resgatar e massificar o Famba para subsidiar directamente os utentes, não passa de mais um projecto falhado do Governo. Actualmente se contam a dedo os autocarros que têm as máquinas operacionais e as cabines de atendimento já não abrem, o que não surpreende aos munícipes da cidade de Maputo, que olham para a Bilhética Eletrónica como mais um dos vários fracassos do executivo. Por sua vez, a MaxCom, parceira da Agência Metropolitana de Transportes de Maputo (AMT), entidade responsável pela implementação do projecto, já assume o fracasso e culpa o sistema de governação corrupto.

Duarte Sitoe

Volvidos dois anos após o início da implementação do sistema de bilhética eletrónica desenhado para os transportes públicos, que consiste no pagamento do valor das passagens de forma electrónica, utilizando o cartão inteligente FAMBA,  o projecto ficou parado no tempo.

Nos primeiros dias, para convencer os munícipes das Cidades de Maputo e Matola, a AMT declarou que este processo traz inúmeras vantagens para todas as partes, no que respeita ao controlo de gastos e trocos pelos passageiros e para os operadores. Contudo, em tão pouco tempo se mostrou pouco funcional e neste momento está praticamente abandonado.

Evidências fez uma ronda pelos principais pontos onde funcionava o sistema e constatou que não obstante o facto de apenas poucos transportes ainda terem instaladas máquinas, nenhuma delas está neste momento operacional.

Como se tal não bastasse, as cabines que chegaram a funcionar durante a fase piloto para emissão e recarregamento dos cartões estão num estado de total abandono e não funcionam há mais de um ano.

“É inadmissível o que está a acontecer. Mandaram-nos fazer cartões porque disseram que a partir de Abril de 2021 quem quisesse viajar de autocarro tinha de ter o cartão, mas hoje são problemas atrás de problemas. Nos primeiros meses as máquinas estavam operacionais. No entanto, desde o ano passado a esta parte nenhum autocarro tem a máquina operacional”, declarou Carla Zandamela, visivelmente agastada.

Em Dezembro de 2022, a Agência Metropolitana de Transportes de Maputo reconheceu que há avanços e recuos na implementação da Bilhética Eletrónica, tendo prometido revitalizar o projecto em Janeiro do corrente ano, desta feita alargando a abrangência para os chapas.

“Estão segurados 250 autocarros com sistemas em condições e praticamente todos os sistemas de autocarros estão a funcionar, e aqueles que não têm, estamos a trabalhar na questão dos corrimãos, outros processos. Até ao fim de Janeiro, já teremos tudo a funcionar, o sistema de bilhética estará a funcionar”, prometeu Armando Mbembele, representante da Agência Metropolitana de Transportes de Maputo, mas tudo não passou de mais uma promessa vazia.

“Subsidiar os transportados” foi conversa para boi dormir

O anúncio da AMT abriu uma janela de esperança para Manuel Magaia recuperar o dinheiro que havia depositado na sua conta antes do colapso do “Famba”, mas, debalde, a promessa ainda não se cumpriu, volvidos oito meses.

“Fiquei feliz quando disseram que o sistema seria revitalizado. Infelizmente, não passou de mais uma promessa falsa. O nosso dinheiro continua retido nos cartões e hoje as cabines de atendimento estão encerradas. Este projecto é um autêntico fiasco. O Governo devia reconhecer que fracassou e pedir desculpas aos moçambicanos”, atacou Magaia.

Aquando do último reajuste da tarifa de transporte público de passageiros, o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, que herdou a Bilhética Eletrónica de Janfar Abdulai, referiu que ao invés dos transportadores, o Executivo pretendia subsidiar directamente o transportado, ou seja, o passageiro, através do cartão “Famba”.

“A melhor forma que existe de fazer este subsídio é usar o actual cartão Famba; estamos cientes de que nem todos os autocarros têm, mas é o mecanismo sobre o qual o Estado tem a forma mais segura de poder controlar e ter certeza de quantos passageiros foram transportados e quantas viagens podem ser subsidiadas por dia”, disse Magala em Setembro de 2022.

No entanto, a Agência Metropolitana de Transportes mostrou, mais uma vez, está perdida em combate, visto que tornou público que o Cartão Famba será o recurso a ser usado para os autocarros e os semi-colectivos poderão usar carteiras móveis.

“Nós temos diferentes realidades, aqui, na área metropolitana, temos o Cartão Famba, mas temos também passageiros que usam os transportes semi-colectivos que ainda não têm Cartão Famba e, portanto, a nossa opção é entregar o dinheiro através de carteiras móveis”, revelou o PCA da AMT, mas até ao momento nenhum moçambicano recebeu o prometido subsídio através da Bilhética Eletrónica.

Orlando Langa entende que o projecto fracassou, tal como outros que foram criados pelo Governo. Contudo, defende que a Agência Metropolitana de Transportes devia ressarcir os que depositaram dinheiro para usar a Bilhética Electrónica.

Parceiro da AMT fala de corrupção que prejudica o processo

José Nhavotso, representante da MaxCom, empresa desenvolvedora do sistema de bilhética electrónica designada “Famba”, referiu que estão criadas condições para que o instrumento funcione sem soluções. No entanto, lamenta o facto da Bilhética Electrónica depender da boa vontade de alguns operadores influentes que são militantes do partido no poder e a corrupção instalada no sector dos transportes.

“Num sistema de governação corrupto, como é o nosso, há sempre uma maneira de driblar uma coisa como esta (Bilhética Electrónica). Eu conheço a fundo os principais problemas que nós temos neste sector, que impedem o avanço do sistema, mas creio que em algum momento, quando as pessoas lá em cima tiverem vontade que dê certo, vai dar certo”, declarou Nhavotso.

O representante da MaxCom não tem dúvidas que a introdução da Bilhética Electrónica traz um conceito inovador, tendo lamentado o facto da mesma estar a ser rejeitada pelos motoristas e cobradores.

“Os operadores não querem que este sistema funcione porque traz muita transparência. Se os passageiros pagam usando o cartão, a AMT terá a possibilidade de ver quantas viagens o transportador fez, quando é que ele se fez a estrada e qual é a receita que ele faz. A receita é um ponto sensível aqui porque no fim o governo vai dizer se este operador qualifica ou não para receber a compensação”.

Indo mais longe, José Nhavotso refere que os operadores são alérgicos à transparência”, pois esta torna-se problema em qualquer ambiente corrupto, apontando que há sectores que a corrupção é tão alta em relação a transparência.

“Se perguntarmos aos transportadores quanto de receita arrecadaram cumulativamente no mês passado, com certeza dirão que não sabem, e no Governo teremos uma resposta similar, ou seja, ninguém tem esses dados, são os mesmos transportadores que lutam todos dias pela compensação”.

Facebook Comments