- Em marcha marcada por cânticos e mensagens reivindicativas
Centena de médicos marcharam, no último sábado, pelas ruas da cidade da Beira, em apoio à greve da classe que dura desde 10 de Julho e em protesto contra a falta de respostas do Governo. Durante a marcha pacífica, que teve escolta policial, os médicos pediram a demissão do actual ministro da Saúde, Armindo Tiago, médico de profissão, que é visto na classe como um traidor e insensível ao grito de seus pares.
Jossias Sixpence- Beira
Empunhando dísticos e entoando músicas de combate, centenas de médicos da província de Sofala, no centro do país, desmistificaram, este sábado, a ideia avançada pelo Governo de que apenas a cidade de Maputo tinha médicos em greve, ao sair em massa para uma marcha que percorreu as principais artérias da segunda maior cidade do país.
Entre os gritos de guerra, destacam-se pedidos expressos de demissão do ministro da Saúde, Armindo Tiago, alegadamente por estar a ser insensível ao grito de socorro dos seus pares.
Os médicos também gritaram “não somos só 60”, em resposta à decisão do Conselho de Ministros, no dia 01 de Agosto, de contratar apenas seis dezenas de profissionais de saúde para substituir os grevistas que estão estimados em mais de dois mil.
“Que tenha sensibilidade por esta causa, porque não é só nossa, esta causa também é dele. Nós sentimos que ele está distante, sentimos por esta falta de comunicação”, disse Leonel Andela, delegado da associação médica de Moçambique em Sofala
Leonel Andela pediu apoio dos utentes e da sociedade civil, pois, no seu entender, esta luta não é só da classe médica, mas sim de todos moçambicanos contra um governo cada vez menos comunicativo e intolerante.
“Obviamente para ter um Serviço Nacional de Saúde funcional é necessário funcionários de saúde que estejam bem cuidados, estejam satisfeitos com as condições de trabalho, como também nas condições remuneratórias”, frisou, destacando que os médicos que cumprem greve até o próximo dia 21 estão a prestar serviços mínimos.
“A maioria das pessoas que nós encontramos nas unidades sanitárias estão a prestar serviços mínimos e alguns colegas com cargos de chefia, por vários motivos, não podem aderir à greve”, concluiu Andela.
A marcha acontece também depois de vir a público que o Governo tem uma proposta de revisão do Regulamento do Estatuto do Médico na Administração Pública, que pode mexer em alguns direitos já adquiridos pelos médicos, como a redução do subsídio do trabalho em regime de turnos, dos actuais 30% para 7,5% e a alteração da modalidade de trabalho extraordinário, tendo em conta que o médico e o médico dentista não exercem actividades.
Refira-se que entre as várias reivindicações estão a fórmula de cálculo para o pagamento dos subsídios de diuturnidade, das horas extraordinárias, problemas de enquadramento e cortes salariais e melhorias das unidades sanitárias.
Ordem dos Médicos cria comissão independente para aproximar médicos e governo
Com vista a criar uma ponte que permita a aproximação entre o Governo e os médicos, a Ordem dos Médicos decidiu, semana finda, criar uma comissão independente composta por algumas das personalidades mais influentes do nosso país.
Trata-se de Dom Dinis Sengulane, Brazão Mazula, Dinis Matsolo, Rodrigues Dombo, Severino Ngoenha, Jorge Ferrão, Jorge Matine e Angelina Magibire, que terão a difícil missão de levar as partes à mesa negocial e restabelecer a confiança entre o Governo e os médicos.
Numa nota divulgada esta sexta-feira, a Ordem diz estar preocupada com a actual crise nas relações entre o Governo e os médicos e decidiu intervir através de uma comissão independente e imparcial.
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