Movimentos da sucessão em surdina

EDITORIAL

O Presidente da República, Filipe Nyusi, convocou, na semana passada, as eleições gerais, que incluem as legislativas, provinciais e as sétimas presidenciais, para 09 de outubro de 2024.

O anúncio, que surge em meio as mexidas constitucionais, para dar conforto constitucional ao adiamento das eleições distritais, inaugura a corrida presidencial que bem antes do congresso movimentava grupos que buscam alinhar-se como opções à sucessão dentro da Frelimo. O anúncio da data das eleições gerais e a aprovação pela bancada Parlamentar da Frelimo do adiamento das eleições distritais são dois eventos que encerram as incertezas da realização das eleições e as ambições de um terceiro mandato e nos remete agora à novas reflexões que giram em torno do perfil dos candidatos que manifestam vontade, vistas ou que se auto proclamam presidenciáveis.

É que a oposição, apesar de constituir opção política nas eleições autárquicas que decorrem no momento, não transmite a mesma seriedade quando o assunto são eleições presidenciais, onde a organização política e o plano de governação, por mais irrealista que seja esta última, é determinante, contrariando as eleições autárquicas, cuja força de alternativa reside no cabeça-de-lista, facto que fará a Renamo e o MDM manterem-se presentes na governação graças ao capital político de alguns nomes que lideram as listas.

Mas porque a alternativa a Frelimo é a própria Frelimo, é este que tem ganhado atenção e ainda é dentro deste partido onde se verificam os movimentos da sucessão, caracterizada pela queima pública de alguns nomes que ousaram desafiar o discurso de que “não basta querer, temos que te querer”.

Mas sem grandes surpresas, o eco do discurso não consegue chegar até as presidenciais. E a partir dos nomes que circulam, depreende-se que teremos a reedição de 2014, marcado por eventos de queima pública de figurantes potencialmente aceitáveis, indiferença as competências dos candidatos sob argumento de que é uma governação da Frelimo, facto que veio abrir espaço para que a presidência se tornasse numa aventura.

Não se pode ter resultados diferentes recorrendo às mesmas acções. E há percepção consolidada dentro da Frelimo de que os critérios de seleção aos candidatos internos, limitados a regionalismo, histórico de militância por via ou não dos pais, e vez daqueles no lugar destes, abriram espaço para erro de casting, o que se traduz no erro clássico de governação. No entanto, são os mesmos critérios evocados hoje para garantir o sucesso, o que se traduz numa sucessão de erros que começam dentro da Frelimo.

O mundo mudou, a consciência dos governados também, e os anseios são outros. E a consciência de que a presidência não pode voltar a ser um lugar de aventura, é colectiva, pelo que urge que os partidos políticos dominantes escolham os seus candidatos com base nos planos de governação que os candidatos possam apresentar. Este é um exercício que deve ser conjugado com a competência, e competência de governação não é gerindo uma escola que se pode, de um dia para outro, gerir um país.

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