Um novo capítulo pode estar a se abrir no Teatro Operacional Norte. Na semana passada, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) anunciaram a morte, em batalha, dos principais rostos conhecidos na linha da frente das fileiras dos terroristas que desde Outubro de 2017 semeiam terror em Cabo Delgado. Primeiro foi anunciada a morte dos vice-comandantes, Abu Kital e Ali Mahando, e, um dia depois, a morte do seu principal líder, Ibin Omar.
Este é um nome conhecido. Os americanos já tinham identificado Ibin Omar, chamado também de Bonomade Machude Omar, como o comandante das operações militares, das relações externas e responsável pelos ataques executados pelos terroristas em Cabo Delgado. Mas bem antes da publicação americana, a imprensa nacional já tinha avançado este nome, o que consolida a narrativa de que estamos perante a morte do principal líder dos terroristas, diferentemente das vezes anteriores, em que as FADM, e até o Comando Geral da Polícia, anunciavam nomes de líderes desconhecidos.
É uma vitória que, mesmo consciente de que foi conseguida graças à colaboração com as forças estrangeiras (SAMIM e Ruanda), nos devolve a esperança de que devemos confiar nas nossas forças, que estão de parabéns pelo êxito que devolve o ânimo e esperança aos moçambicanos.
O primeiro comunicado das FADM, até no momento de glória, tentou ocultar a morte dos bravos jovens que tombaram durante os confrontos que culminaram com o aniquilamento do líder principal dos terroristas e os seus seguidores mais directos, reduzindo o sacrifício destes heróis que deram as suas vidas em defesa da pátria. Não é a primeira vez que o Ministério oculta essas informações, privando os moçambicanos de estar a par dos seus filhos, maridos e pais que tombam em combate. Um erro que foi corrigido no segundo comunicado, que assume os sacrificados em confronto com os terroristas.
Para o futuro, embora ainda não se tenha um quadro pleno de que pode vir a mudar com a morte do principal líder, conhecido, dos terroristas, é preciso assumir que um novo quadro se abre. Estamos até aqui numa fase de celebração, mas não há nenhuma garantia de que a morte de liderança dos terroristas nos conduz ao fim deste mal cujos prejuízos transcendem os mais de 20 bilhões de dólares, que é o custo do projecto da TotalEnergies, que não avançou por força da insurgência, vai a perto de um milhão de pessoas que fugiram das suas casas, tentando agora voltar e, no extremo, atinge a cifra de mais de quatro mil mortes. São as consequências conhecidas deste mal, que influenciou negativamente a governação da última década, pelo que é de se enaltecer a bravura das FADM que, em meio as insuficiências, conseguem provar que é possível vencer este mal.
Para já, devemos pensar nos próximos passos. De 2018 até aqui, altura em que começaram as publicações que buscavam entender as causas do terrorismo que esta camuflado na religião, muito foi falado. Apesar de resistência do governo no início, no final todos convergimos nas publicações e assumimos que mesmo que as razões do terrorismo sejam exógenas, o fenómeno triunfou por erro nosso: a desigualdade social motivada pela nossa incapacidade, como moçambicanos, de fazer redistribuição dos nossos recursos.
Essa incapacidade é manifesta na falta de emprego, de acesso à educação e saúde de qualidade, e nos demais serviços sociais cuja garantia compete ao Estado. Imaginemos que tenhamos aniquilado o terrorismo, as razões que permitiram o seu avanço foram resolvidas?
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