Manuel Rodrigues embaraça a Frelimo em Nampula

DESTAQUE POLÍTICA
  • Governador não aceita ser reduzido a candidato para edil de Nampula

À semelhança do que aconteceu na província de Maputo, em que o governador da Província, Júlio Parruque, sem aviso prévio, foi sacrificado e reduzido para concorrer na corrida a edil da Matola, a Frelimo, em Nampula, apostou em Manuel Rodrigues, governador daquela província nortenha, para ser cabeça-de-lista nas eleições municipais de 11 de Outubro próximo. Mas, diferentemente da disponibilidade manifesta por Parruque, Manuel Rodrigues não está a ceder à imposição “dos chefes” e vem manifestando indisponibilidade para avançar, uma situação que coloca a Frelimo, até aqui, sem candidato definido para a cidade de Nampula. O Evidências trouxe, nas edições passadas, que no decurso das eleições internas, a Comissão Política teria enxertado nas listas os seus próprios candidatos, nos municípios estratégicos, sem o consentimento destes e violando, deste modo, a vontade das bases e o trabalho das brigadas provinciais mobilizadas nas vésperas das conferências distritais do partido para identificar e confirmar a aceitabilidade dos nomes propostos.

Um erro de cálculo é o que se diz da imposição de Manuel Rodrigues para ser cabeça-de-lista da Frelimo em Nampula. No dia 16 de Julho, Manuel Rodrigues foi eleito com 100% de votos como cabeça-de-lista da Frelimo na autarquia de Nampula, mas até às vésperas da votação, o actual Governador da Província de Nampula não sabia que a Frelimo apostava nele como cabeça-de-lista.

Esta vitória absolutista se verificou em quase todos os municípios urbanos, nomeadamente Matola, Maputo, Beira, Quelimane, coincidentemente onde os candidatos foram “impostos” pela comissão política, ignorando as listas já submetidas. A Frelimo autorizou a democracia em municípios onde tem maior influência ou de menor expressão.

A estratégia da ala no poder que encontra respaldo no repto nas célebres palavras de Roque Silva, que em 2021 atirou para os voluntários de ocasião que na Frelimo “não basta você se querer, a gente tem que te querer para você se querer”, consistiu em apostar nas figuras com capital político “consolidado” para convencer o eleitorado nas eleições autárquicas marcadas para 11 de Outubro de 2023, nestes municípios, onde a oposição se faz sentir e o controlo nas urnas, no dia da votação, é maior.

Mas essa estratégia não está a triunfar em Nampula, onde Manuel Rodrigues, segundo fontes, já manifestou a sua indisponibilidade e terá já colocado a vaga à disposição, o que deixa a Frelimo numa situação de procurar um outro candidato entre os membros da lista, quando faltam escassos dias para o arranque da campanha eleitoral.

Nalguns círculos acredita-se que Manuel Rodrigues está ciente que apesar de ser filho da casa e ter um grande capital político, a Cidade de Nampula, nas mãos da oposição há quase 10 anos, é um terreno difícil, onde poderia ter o seu prestígio e reputação postos em causa em caso de uma humilhante derrota contra nada mais, nada menos que Paulo Vahanle, depois de ter estado cinco anos acima deste como Governador.

Manuel Rodrigues já formalizou intenção de abandonar a luta

Nesta segunda-feira, o Evidência confirmou a publicação do CDD (Centro para Democracia e Direitos Humanos), que dá conta de que o partido pode estar sem candidato para Nampula, mesmo depois de Manuel Rodrigues ter feito o seu discurso de praxe, na cerimónia de apresentação dos 8 candidatos da província.

Na sua breve intervenção, Manuel Rodrigues disse ter eleito o ordenamento territorial, a recolha de lixo, a reabilitação das estradas e o abastecimento de água como suas prioridades, comprometendo-se, para o efeito, a arrancar a cidade de Nampula da oposição.

Mas aquela foi apenas uma postura política, o CDD escreve que “o actual Governador de Nampula terá formalizado, através de uma carta, a sua indisponibilidade para disputar as eleições autárquicas na Cidade de Nampula”.

É que Manuel Rodrigues prefere continuar como Governador da Província de Nampula até ao término do seu mandato, em Janeiro de 2025. Aliás, Manuel Rodrigues é descrito como um governador que tem grande aceitação na província, sobretudo ao nível das lideranças comunitárias. Mas essa aprovação não lhe confere vantagem na corrida pela liderança da cidade capital. E ele está informado sobre o voto anti-Frelimo que domina na Cidade de Nampula.

A “desistência” de Manuel Rodrigues ainda está a ser gerida internamente pela direcção da Frelimo. Mas é possível que o actual Governador de Nampula seja pressionado a avançar contra a sua vontade, para não embaraçar directamente a Comissão Política e o seu Presidente, de quem se diz que veio a decisão de chancelar nomes à revelia das bases.

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