Ossufo Momade estica a corda e lembra que Dhlakama também entregou armas e depois houve bang bang

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  •  Falta de seriedade pode nos levar a mais uma guerra com a Renamo

 

Na semana passada, Paulo Vahanle, edil de Nampula, denunciou uma suposta tentativa de assassinato perpetrada por um agente da Unidade de Protecção de Altas Individualidades (UPAI) no dia em que o município celebrava 67 anos de elevação à categoria de cidade. Esta situação levou o líder da Renamo, Ossufo Momade, a esticar a corda ameaçando retaliar e paralisar o país caso algum membro, sobretudo cabeça-de-lista, seja assassinado. E porque o repto é mesmo sério, num tom que não se vê há muito tempo, lembrou que apesar de ter entregue as armas, a Renamo ainda tem capacidade para recorrer à força se for necessário, tal como aconteceu em 2013 quando depois de desentendimento com o Governo, Afonso Dhlakama voltou às matas e reagrupou os guerrilheiros protagonizando vagas sucessivas de conflito político-militar, que só conheceu fim em 2019 com assinatura do Acordo de Maputo e mais recentemente com o encerramento do processo de Desarmamento e Desmobilização dos Guerrilheiros.

 

 

Seguindo um padrão que lembra os famosos esquadrões da morte que em 2019 viria a se descobrir que são agentes da PRM, quatro indivíduos infiltrados entre os apoiantes da Renamo terão tentado assassinar Paulo Vahanle, se fizermos fé nas palavras do próprio edil de Nampula.

 

“Ele disse que vinha de uma viatura de cor azul e que, além dele, tinha mais quatro colegas com a mesma missão de assassinar-me. Esta força [UPAI] funciona aqui ao lado, há quase cinco ou dez metros, e a cerimónia era aqui. Como é que ele precisaria de viatura com quatro colegas [para reforçar o efetivo]? É duvidoso”, disse Vahanle.

 

Mostrando ter levado a sério o suposto atentado contra o edil de Nampula, o presidente da Renamo, Ossufo Momade, endureceu o tom avisando que em caso de qualquer atentado contra os seus membros ou cabeças-de-lista, o partido poderá recorrer à força e romper com qualquer acordo assinado com o governo

 

“Nós respeitamos aquilo que foi o nosso compromisso no dia 06 de Agosto de 2019, mas se alguém me provocar vou dar uma resposta que nem vale a pena falar aqui. Ouviram bem”, disse Ossufo Momade, enquanto era ovacionado por milhares de membros e simpatizantes que assistiam a apresentação do cabeça-de-lista de Nampula, Paulo Vahanle.

 

Prosseguindo, Ossufo Momade desvalorizou por completo o facto de se pensar que ao entregar as armas, a Renamo ficou desprovida da sua capacidade militar e de resposta em caso de ataques perpetrados pelo Governo.

 

“… eu tenho acompanhado que ‘Ossufo entregou armas’. Em 1994, o presidente Dhlakama também entregou armas, mas depois, o que aconteceu?”, indagou Ossufo Momade, para depois acrescentar que “nós não fomos a Rússia comprar arma, não fomos a Ucrânia, nem a Roménia”, dando a entender que a Renamo a qualquer momento pode conseguir ter os equipamentos que necessitar para confrontar o Governo, caso seja necessário.

É o retorno da retórica belicista, em resposta a uma atitude que, a ser verdade, pode significar o retorno de uma das marcas do primeiro mandato de Filipe Nyusi, os esquadrões da morte, naquilo que é visto como uma irresponsabilidade que pode custar caro ao país.

 

Prosseguindo, Ossufo Momade, que não se cansou de repetir que o seu partido quer eleições livres, justas e transparentes, acusou o partido Frelimo de ter um projecto que visa aniquilar fisicamente opositores.

 

“Nós pensávamos que a Frelimo estava preparada para criar condições para que possamos ter a paz em Moçambique, mas através deste comportamento ficamos agastados, na medida em que o partido Frelimo continua com o seu comportamento selvagem, não faz sentido que no dia 22 de Agosto, dia da cidade de Nampula, toda a população a festejar e a recordar tudo quanto foi feito e o partido Frelimo cria condições para assassinar o edil da cidade de Nampula”, frisou Momade.

 

Ossufo Momade notifica Nyusi

 

Ossufo Momade prometeu, na ocasião, notificar formalmente ao Presidente da República, Filipe Nyusi, por sinal co-signatário do último acordo de paz, agora ameaçado, para que se salve a paz.

 

“Eu vou deixar um apelo ao chefe de Estado para que possa corrigir esta situação, e peço que a comunidade nacional e internacional se revolte com este tipo de atitude. Eu deixo aqui uma grande mensagem, se isto é um dos propósitos do partido Frelimo e se um dos elementos da Renamo for assassinado, nós vamos fazer parar este país, porque temos esta farça”, sublinha.

 

No seu entender, a paz está ameaçada, porque se um filho moçambicano é ameaçado, é uma ameaça para todo o país, tendo acusado a Frelimo de se aproveitar da desmobilização dos seus homens para fazer e desfazer.

 

“Eu quero dizer que isto é uma vergonha para o próprio Presidente Nyusi, assim como para todo o país, porque nós assistimos o que aconteceu nos anos passados e eles querem continuar com este comportamento, mas nós vamos repudiar. Não estamos a falar somente por causa do que aconteceu em Nampula, estamos a falar para todo o país, já acompanhei que alguns cabeças-de-lista estão a receber telefonemas anónimos de ameaça. É um projecto da Frelimo porque eles sabem muito bem que não vão poder passar e a única alternativa é abater cada um dos cabeças-de-lista da Renamo. Se isso vir a acontecer, vocês não vão dar culpa a Renamo e nem Ossufo Momade, o povo vai se revoltar”, deu repto.

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