Eleições no Zimbabwe fazem soar os alarmes para a Frelimo em Maputo

DESTAQUE POLÍTICA
  • ZANU-PF seguiu a crise dos libertadores e perdeu nas cidades
  • Partidos libertadores estão a ficar cada vez mais rurais e com pouca aceitação nas cidades
  •  ANC perdeu em Pretória, MPLA em Luanda, ZANU-PF em Harare
  •  Frelimo vai ao grande teste em Outubro, em Maputo e Matola

Os resultados eleitorais no Zimbabwe, há cerca de duas semanas, fazem soar os alarmes de crise no seio dos partidos libertadores. Vistos de forma desagregada, mostram uma tendência de deterioração da aceitação dos partidos libertadores nas grandes cidades, com o partido governamental ZANU-PF a perder eleições para o CCC de Nelson Chamisa, na capital Harare e capital económica Blantyre, o que faz soar os alarmes para a Frelimo em Maputo nas eleições de Outubro próximo, depois de outros partidos históricos, como o ANC e MPLA, terem perdido as eleições nas respectivas capitais, com um eleitorado jovem e com características mais ou menos similares.

 

As eleições de há dias no Zimbabwe confirmaram, mais uma vez, a crise a que se encontram mergulhados os movimentos de libertação ao nível do continente africano, em particular na região.

 

Apesar da vitória tangencial, com apenas 52 por cento de votos, segundo dados oficiais, o ZANU-PF teve os piores resultados de sempre nos centros urbanos, tendo sido salvo aparentemente pelo voto rural. Enquanto isso, a Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC) venceu a votação urbana, apesar de irregularidades, repressão e intimidação.

 

O primeiro sinal foi dado em 2018, quando o partido governamental ZANU-PF e seu candidato, Emmerson Mnangagwa, registaram uma derrota histórica na capital económica daquele país vizinho, Blantyre, e em Março do ano passado as eleições intercalares foram um verdadeiro pesadelo para O ZANU-PF, que foi suplantado pelo partido Coligação de Cidadãos para a Mudança (CCC), de Nelson Chamisa, que venceu em 19 dos 28 círculos eleitorais em disputa. O CCC também conquistou 61% dos votos nas eleições para os governos locais em vários municípios urbanos e rurais.

 

De resto, ao nível da região, não é a primeira capital de um país onde o partido governamental não ganha uma eleição. Na África do Sul, por exemplo, o ANC não ganha em Pretória desde 2016. Em Agosto de 2016, o partido governamental na África do Sul sofreu uma derrota histórica ao perder, pela primeira vez desde o fim do apartheid, a maioria absoluta e o controlo da autarquia de Pretória a favor da Aliança Democrática.

 

No município de Tshwane, que engloba Pretória, a Aliança Democrática obteve naquele ano 43,1% dos votos, contra 41,2% para o ANC, que até agora tinha maioria absoluta na cidade.

 

A Pretória juntou-se a outras metrópoles daquele país, como Joanesburgo (capital económica), Cidade do Cabo e Porto Elizabeth, agora governadas por presidentes de municípios oriundos da oposição. Até então, o ANC tinha ganhado todos os sufrágios por maioria absoluta, desde as primeiras eleições democráticas do país, em 1994.

 

No ano passado, o MPLA de Angola teve os piores resultados da sua história, perdendo por isso a maioria qualificada na Assembleia Nacional, passando dos anteriores 150 deputados para os actuais 124, enquanto a coligação Frente Patriótica Unida, liderada pela UNITA, que na anterior legislatura tinha apenas 51 deputados, ganha mais de 40, prevê-se que venha a ter mais de 90 mandatários. Mas, a maior derrota para o MPLA foi em Luanda, capital do país, onde pela primeira vez o partido no poder perdeu com 26% por cento, contra 62% da UNITA.

 

Eneas Comiche: Um erro de casting que pode custar caro à Frelimo na Cidade de Maputo

 

A derrota da ZANU-PF na capital e outras grandes cidades, que vem se somar ao mesmo cenário do MPLA em Luanda e do ANC em Pretória, vem confirmar a onda de resultados favoráveis à oposição nos grandes centros urbanos, com particular destaque para as capitais.

 

Estes dados de partidos amigos da Frelimo fazem soar os alarmes na cidade de Maputo, numa altura em que é quase consensual que a aposta em Eneas Comiche, em 2018, com uma governação completamente apagada, foi um erro de casting que pode penalizar a Frelimo nas autárquicas deste ano.

 

Nas eleições autárquicas agendadas para 11 de Outubro próximo, certamente as atenções dos moçambicanos e do mundo estarão centradas na cidade de Maputo, que tem praticamente as mesmas características dos eleitores de Harare, Luanda e Pretória, que decidiram penalizar os partidos históricos.

 

Isso acontece numa altura em que os munícipes da capital do país não escondem o descontentamento generalizado e a desilusão com a governação de Eneas Comiche, que vendeu a ilusão de que voltava para Txunar Maputo, mas parece estar perdido em combate.

 

Na tomada de posse, Eneas Comiche prometeu melhorar as condições de vida nos bairros, abrindo mais acessos, expandido a iluminação pública e a rede de abastecimento de água e organizando a prática do comércio informal, mas no terreno nada disso está a ocorrer.

 

Refira-se que o partido Frelimo optou por refrescar a sua máquina, e para tal foi buscar o jovem Razaque Manhique para ser o cabeça-de-lista, mas para ser presidente da autarquia da capital do país tem a espinhosa missão de ultrapassar nas urnas a Renamo, que apostou em Venâncio Mondlane; a Nova Democracia, que apostou em Eunice Andrade e o MDM que apostou mais uma vez em Augusto Mbazo.

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