Frelimo forçou renúncia de candidatos que venceram as internas sem conforto das “ordens superiores”

DESTAQUE POLÍTICA
  • Comissão Política impôs nomes de cabeças-de-lista em Massinga e Homoíne
  • Ordens de cima fracassaram na vila municipal da Massinga
  • Pacule não resistiu intimidações, mas a Frelimo teve de se conformar com o voto da vingança
  • Antiga Edil não conseguiu sequer ficar na Assembleia Municipal
  • Vencedor em Homoíne foi “arrumado” quando estava a caminho de Nampula

 

No município da Matola, Calisto Cossa tinha o selo e carimbo para concorrer para o terceiro mandato, mas a Comissão Política da Frelimo travou essa intenção por falta de realizações do actual edil e da amarga experiência que passou nas últimas eleições autárquicas, onde “derrotou” a Renamo por uma “margem mínima”. Júlio Parruque, actual Governador da Província de Maputo, foi sacrificado para concorrer a edil da cidade das indústrias. Tal como aconteceu na Matola, em Nampula, a Frelimo apostou no actual Governador para tirar o município das mãos da Renamo, mas Manuel Rodrigues não aceitou ceder a imposição dos chefes, tendo mostrado a sua indisponibilidade para ser cabeça-de-lista nas próximas eleições autárquicas. Se em Nampula Rodrigues granjeou a simpatia da Comissão Política e contrariou as ordens superiores, em Massinga, província de Inhambane, o vencedor das eleições internas foi obrigado a renunciar. Aliás, até tentou resistir, mas acabou cedendo perante a intimidações, sendo que para o seu lugar o partido sexagenário indicou o terceiro candidato mais votado (actual edil), que por sua vez perdeu nas eleições internas arranjadas para legitimar sua ascensão.

 

Duarte Sitoe

 

Em Julho do ano em curso, a porta-voz da Frelimo, Ludmila Maguni, garantiu que as eleições internas seriam espaço para fortalecer a democracia e promover a transparência, assegurando a necessária legitimidade no funcionamento do Partido no seu todo.

 

“A Frelimo acredita na importância da democracia interna, onde todos os membros têm a oportunidade de escolher os seus representantes, promovendo assim a transparência e conferindo legitimidade ao processo eleitoral interno. O processo democrático interno na Frelimo é fundamental para assegurar a participação e a representatividade de seus membros nas decisões e na escolha das suas lideranças nos vários níveis”, declarou Maguni, para depois instar os militantes da Frelimo para escolherem os melhores candidatos.

 

Para a surpresa dos membros, nalgumas autarquias, veio configurar-se um insólito, com a vontade das bases a ser preterida, para fazer prevalecer a vontade das ordens superiores. O que veio destampar o véu e desmentir a propalada democracia e transparência anunciada por Maguni, que foi beliscada em alguns pontos do país, uma vez que o partido impôs nomes para serem cabeça-de-lista nas próximas eleições autárquicas.

 

Os municípios da Matola e Nampula são os exemplos que vêm à tona quando se fala dos candidatos indicados a dedos pela elite do partido sexagenário. Júlio Parruque aceitou a decisão da Comissão Política e já está em modo campanha para manter a Cidade da Matola nas mãos da Frelimo, mas em Nampula, Manuel Rodrigues teve coragem e anunciou a sua indisponibilidade para ser cabeça-de-lista, o que de certa forma é entendido como um erro de cálculo de Filipe Nyusi e Celso Correia.

 

Homoíne e Massinga ganharam a fauna acompanhante e até arranjos falharam

 

Ao contrário da Matola e Nampula onde os candidatos saíram com 100% dos votos porque eram candidatos do chefe, em Homoíne, província de Inhambane, ganhou Marcelino Samuel Langa, colocado na corrida para simplesmente imprimir uma aparente democracia partidária. Ao que tudo indica, a preferência das ordens superiores a Jovial Setina, deputada que foi derrotada com um voto de diferença.

 

Marcelino Langa estava em Maputo, a caminho da reunião de apresentação dos cabeças-de-lista, quando foi informado que depois das avaliações do processo para a submissão às autoridades eleitorais se constatou que não se recenseou em Homoíne, tendo-o feito em Maputo, o que o tornou “inelegível” para ser o futuro presidente do Conselho Autárquico de Homoíne.

 

No seu lugar, a deputada Jovial Setina, natural daquele distrito e Deputada da Assembleia da República desde 2015, que ficou em segundo lugar nas eleições internas, torna-se cabeça-de-lista. Um arranjo de mestres.

 

Aliás, a imposição de Setina como cabeça-de-lista por parte da Comissão Política gerou um ambiente de descontentamento entre os membros e simpatizantes do partido Frelimo no distrito de Homoíne, na província de Inhambane.

 

Massinga não cede

 

Ainda na província de Inhambane, diferentemente do que aconteceu em Homoíne, em Massinga, Pacule, candidato que venceu as eleições internas, foi chamado a renunciar e não cedeu perante as ordens superiores. Foi perante a intimidações e ameaças de morte que acabou contrariando a vontade dos militantes do partido sexagenário naquele distrito para cumprir as ordens da Comissão Política.

 

Mas porque as ordens superiores queriam manter Medy Jaime, actual edil da Massinga, que perdeu de forma vergonhosa nas internas, era preciso fazer renunciar também o segundo da lista, Roberto Zunguze, que atendeu a pressão sem nenhuma resistência.

 

Os militantes do círculo eleitoral da Massinga se insurgiram com a pressão que colocou os dois mais votados a renunciar, e a resposta à decisão foi de que o segundo mais votado e o terceiro (actual edil) deviam voltar às eleições internas. O que se viu foi o voto da vingança, que colocou de forma mais vergonhosa possível o actual edil de Massinga e colocou como vencedor Roberto Zunguze, reduzindo ao fracasso a imposição das ordens superiores.

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