Sociedade civil denuncia fortes indícios de preparação de fraude, mas diz-se pronta para entrar na corrida

SOCIEDADE
  • UMOJA quer ter voz activa na reconstrução de Mocímboa da Praia
  • UMOJA respeita envergadura da Frelimo e Renamo e aposta no equilíbrio na Assembleia Municipal
  • “Logo de partida, existem provas de que aqui haverá fraude”

 

A Associação dos Naturais, Amigos e Simpatizantes da Mocímboa da Praia (UMODA) foi uma das organizações que apresentaram candidatura para as VI Eleições Autárquicas de 11 de Outubro próximo e ganharam destaque na CNE. Com pouca experiência na arena política, a UMOJA não eleva as suas ambições nas eleições que já estão à porta devido a envergadura dos rivais que terá pela frente, ou seja, Frelimo e Renamo, e mostra reserva quanto ao MDM. De acordo com Paulo Weng, presidente da Associação dos Naturais, Amigos e Simpatizantes da Mocímboa da Praia, a agremiação ambiciona ter representantes na Assembleia Municipal para dinamizar os planos municipais, visto que há problemas que devem ser resolvidos de imediato naquela autarquia que se encontra num processo de reconstrução.

 

Evidências/ Mocímboa da Praia

 

Com a chegada das tropas amigas, Mocímboa da Praia tornou-se numa zona libertada, sendo que já estão em curso projectos para que aquela vila municipal volte a ser o que era antes da investida dos grupos armados.

 

Para as próximas eleições autárquicas, para além dos partidos políticos, algumas associações submeteram as suas candidaturas para membros da Assembleia Municipal um pouco por todo o país. Na Vila de Mocímboa da Praia, província de Cabo Delgado, Associação dos Naturais, Amigos e Simpatizantes da Mocímboa da Praia submeteu a sua candidatura e, de acordo com o sorteio realizado pela Comissão Nacional de Eleições, estará posicionada na 16ª posição no pleito eleitoral que será realizado no próximo dia 11 de Outubro.

 

No rol dos objectivos nas eleições que já estão à porta, o UMOJA pretende dar o exemplo as várias associações espalhadas pelo país que é possível fazer parte dos processos eleitorais em Moçambique.

 

“A associação dos Naturais de amigos de Mocímboa da Praia, que é o UMOJA, é fundamentalmente uma associação local que o objectivo é o desenvolvimento social, económico e cultural da própria Vila de Mocímboa da Praia e seus próprios membros, o que nós queremos é ajudar aqueles que são da Mocímboa da praia a ter uma nova visão do que é o desenvolvimento social, cultural económico e procuramos meios através de parceiros para podermos ajudarmos essas pessoas, portanto as nossas comunidades e os nossos membros. É por esta razão que nós estamos aqui a tentar concorrer, mostrarmos e darmos exemplo a outras associações a nível nacional que é possível, para quem está bem organizado pode concorrer a estas eleições autárquicas”, referiu Paulo Weng, que é também cabeça-de-lista.

 

A Frelimo e Renamo são adversários a ter em conta quando se trata de pleitos eleitorais em Moçambique. Olhando para a envergadura e experiência dos três partidos com representação na Assembleia da República, a Associação dos Naturais de Amigos de Mocímboa da Praia ambiciona ter representantes na Assembleia Municipal para dinamizar os planos municipais e fazer parte da resolução dos problemas da Vila Municipal.

 

“O objectivo principal é termos algumas vozes na assembleia municipal, pode ser que Pela envergadura de adversários que vamos ter seja difícil conseguir a presidência, que é ideal para podermos implementar os nossos planos, mas pelo menos teremos alguns deputados lá”, disse, detalhando que representa uma associação, portanto há uma diferença entre partido e uma associação.

 

“Logo de partida existem provas de que aqui haverá fraude”

 

Embora o lema da Comissão Nacional de Eleições Livres, Justas e Transparentes, em Moçambique, segundo alguns analistas, os pleitos eleitorais nunca seguiram o lema da CNE. Olhando para o actual estágio do país, a UMOJA reconhece que as eleições autárquicas serão, mais uma vez, uma corrida injusta, visto que as instituições que chancelam o processo trabalham a reboque do partido no poder.

 

“Pela forma como as instituições que controlam os serviços eleitorais estão conectadas para que estejam alinhadas às ideias do partido no poder, isso torna logo de partida existem provas de que aqui haverá fraude. Agora estamos a ver esta situação na prática, isto foi ontem, aparecerem pessoas na nossa casa a perguntar se tínhamos recenseado. Pediam o nome e o número do cartão de eleitor para poder distribuir sementes”, denunciou.

 

A ordem e tranquilidade faz, actualmente, parte da vida da Vila Municipal de Mocímboa da Praia. No entanto, mesmo depois de passar de uma zona ocupada para zona libertada, muitas pessoas que abandonaram as suas casas continuam dos centros de reassentamento.

Weng denunciou que alguns residentes daquela vila continuam na condição de deslocados porque não têm apoio do Governo para o efeito.

 

“O sistema governativo em si é deficiente, porque de uma forma normal seria o governo a criar condições para que as pessoas regressassem a casa, se estas pessoas voltaram voluntariamente, sem apoio do governo é muito complicado”, referiu, prosseguindo que já testemunhou morte de três pessoas por falta de assistência psicológica por falta de acompanhamento.

 

UMOJA antevê níveis de abstinência jamais vistas em Mocímboa da Praia

 

Para além da falta de apoio do Executivo no que respeita ao transporte para regressarem às zonas de origem, os deslocados já não estão a receber ajuda humanitária, visto que algumas organizações internacionais pensam que com o restabelecimento da ordem e tranquilidade as pessoas voltaram às suas zonas de origem.

 

Mais adiante, observa que as algumas pessoas se recensearam nos distritos onde estão localizados os centros de acomodação, traça um cenário de abstinência jamais visto naquela vila municipal porque o grosso dos habitantes ainda não regressou. 

 

“Nós vamos para uma eleição em que as pessoas todas estão descontroladas, muitas das pessoas recensearam porque precisam de documentos e não tem documentos. Vão ser eleições em que algumas pessoas vão sem uma perspectiva de longo prazo, são coisas que vamos notando, não há aquela euforia, aquela vivacidade de que realmente vamos fazer uma coisa boa. Haverá abstinência porque a maior parte das pessoas não está cá, não estão em suas casas, isto vai criar ausência das pessoas”, disse.

 

Falando das realizações, referiu que aquela agremiação que ambiciona fazer parte da reconstrução de Mocímboa da Praia estava consolidada, mas acabou perdendo parte das suas conquistas com o arranque da insurgência armada.

 

“Antes da destruição da vila, nós já tínhamos uma infra-estrutura muito bem organizada. Tínhamos, portanto, um carro funerário. Tínhamos escolas nacionais, máquinas de costura, onde as raparigas e rapazes aprendiam a costurar; um sector para o treinamento do pessoal na área de informática; uma rádio comunitária que estamos a ver com os parceiros se podemos retornar. Tínhamos também câmaras frigoríficas, três barcos a funcionar que ficaram destruídos e estamos a tentar colocar a funcionar”.

 

Mocímboa da Praia é uma vila com enorme potencial para a pesca. No plano de dar uma mão na reconstrução daquela vila municipal, a Associação dos Naturais de Amigos de Mocímboa da Praia pretende adquirir um frigorífico para criar uma cadeia de processamento de mariscos, sendo que já criou uma biblioteca com o apoio da Universidade Técnica de Moçambique.

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