Rapariga ganha coragem e denuncia assédio sexual de professores da Escola Secundária Gwaza Muthini

SOCIEDADE
  • Chegam a condicionar passagem de quem se recuse dormir com eles

O assédio sexual consta no rol dos factores que contribuem para o abandono escolar das raparigas em Moçambique. No Distrito de Marracuene, província de Maputo, as raparigas da Escola Secundária Gwaza Muthini decidiram, há dias, quebrar o silêncio para denunciarem diante das autoridades governamentais e lideranças juvenis os abusos e ameaças que têm sofrido, perpetrados por professores, que chegam a condicionarem a passagem de classe em troca de prazeres sexuais. A secretária permanente do Distrito de Marracuene, Nércia Mambo, mostrou-se preocupada com a ocorrência de casos de assédio sexual nas escolas ao nível daquele distrito, tendo, por isso, instado as alunas para denunciarem os professores predadores sexuais. Por sua vez, o secretário–geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) e membro do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Silva Livone, repudiou o modus operandi dos docentes, visto que na sua opinião este tipo de crime mancha sobremaneira o processo de ensino e aprendizagem.

Duarte Sitoe

De acordo com as conclusões que constam do estudo realizado pelo Centro de Aprendizagem e Capacitação Civil (CESC), em parceria que com o governo que inquiriu 1200 alunas das províncias de Gaza, Manica e Nampula, em Moçambique 50% das alunas já foram vítimas de assédio sexual nas escolas.

Maputo não fez parte das províncias inqueridas, no entanto prevalecem casos de assédio sexual perpetrados por professores. Em Marracuene, concretamente na Escola Secundária Gwaza Muthini, depois de sofrerem no silêncio, as alunas ganharam coragem e denunciaram os professores que se escondem por detrás das batas para assediarem alunas.

As vítimas contam que os docentes condicionam a passagem de classe à troca de prazeres sexuais, o que de certa forma contribui para o abandono escolar por parte da rapariga.

O testemunho de uma estudante, durante a reunião que o Secretário Geral da Organização da Juventude Moçambique (OJM), Silva Livone, com jovens influentes dos distritos da Matola Marracuene e Boane, veio destapar o véu sobre uma prática que muitas vezes tem feito vítimas no silêncio.

“Casos de assédio sexual são frequentes aqui na nossa escola, até eu já passei por isso da parte de vários professores”, denunciou a rapariga, para depois acrescentar que há muitas raparigas que desistem porque os professores as ameaçam.

“Os professores ameaçam e dizem que se você não aceitar, então, vai chumbar. Tenho uma vizinha que chumbou uma disciplina porque não aceitou dormir com o professor. Essa é uma realidade que estamos a passar na nossa escola”, desabafou, perante a ovação dos presentes e apoio de outras colegas da mesma escola.

Falando para uma plateia composta também por estudantes e professores, na presença daquela que é a segunda figura mais importante do distrito, no caso, a secretária permanente, a rapariga não se acovardou e quebrou um ciclo que perpetuava a violência, o medo.

“As pessoas têm medo de denunciar. Há alguns professores que nos encorajam, mas não temos a coragem de denunciar e acabamos nos calando. Outras acabam desistindo da escola”, disse a menina que foi imediatamente encorajada pelos presentes e pelos representantes do Governo Distrital.

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Após ouvir a intrigante denúncia da jovem, a secretária-permanente do distrito de Marracuene, Nércia Mambo, mostrou-se chocada com a prevalência de casos de assédio sexual nos estabelecimentos de ensino ao nível daquele distrito.

Para além de ter mostrado disponibilidade para apoiar as vítimas, Lambo instou as alunas a denunciarem os professores assediadores, tendo prometido criar uma equipa para investigar o assunto, com vista a punir os professores que são predadores sexuais.

“O assédio sexual deve ser denunciado. Não devem se preocupar com a questão do sigilo, nós estamos formatados para isso. Se não se sentem à vontade para falar com o director-distrital da educação, eu estou aqui, porque ser secretária permanente significa mexer com a máquina administrativa do Governo. O assédio sexual deve ser denunciado, vamos fazer uma visita a esta escola que foi identificada e haverá responsabilização. Vamos a Gwaza Muthini e faremos um trabalho. Haverá resultados. Se há outra escola com estes problemas não tenham medo de denunciar”, assegurou Lambo.

Por sua vez, o secretário-geral da OJM, Silva Livone, repudiou a existência de professores que molestam estudantes ameaçando chumbá-las. Para o representante daquela organização juvenil, a atitude daqueles educadores mancha sobremaneira o processo de ensino e aprendizagem em Moçambique.

Terminando o seu discurso de forma insólita, o líder do braço juvenil do partido no poder instou os jovens a aproveitarem a conta oficial do Presidente da República, Filipe Nyusi, nas redes sociais para denunciar casos de assédio sexual nas escolas.

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