Chegou a hora da decisão

OPINIÃO

Alexandre Chiure

A campanha eleitoral terminou. Ao longo dos treze dias de intensas jornadas políticas, fomos interpelados, nos bairros, mercados e na via pública, por caravanas de “caça ao voto” pertencentes a diferentes formações políticas, coligações de partidos e associações concorrentes nestas sextas eleições autárquicas. Fomos bombardeados com propagandas eleitorais e promessas, algumas das quais irrealistas e outras, pua e simplesmente bizarras. Para dizer que bem ou mal, os partidos políticos fizeram a sua parte.

Agora, tudo depende de nós, munícipes. Chegou a nossa vez, a de avaliarmos as promessas que nos foram feitas e verificarmos quais são as que vão ao encontro das nossas preocupações.

Cabe a nós a responsabilidade de escolher, entre os concorrentes, aqueles que nos apresentaram bons manifestos eleitorais e oferecem-nos garantias de que, uma vez no poder, irão resolver os nossos problemas e, acima de tudo, melhorar as nossas condições de vida. Isso é que tem que pesar na decisão a tomar sobre a quem votar.

Em jeito de balanço da campanha eleitoral, dizer que acompanhamos duas realidades. Tivemos, por um lado, cabeças-de-lista bem preparados, com um discurso maduro e ideias inovadoras para a governação de alguns municípios.

Mas tivemos, também, cabeças-de-lista que, ao longo da campanha eleitoral, deixaram muito a desejar. Demonstraram falta de preparação. Não se organizaram o suficiente para justificar a vitória, a julgar pela qualidade do seu discurso, em alguns casos desenquadrado da realidade ou de promessas apresentadas aos potenciais eleitores.

Outros pareceram-nos, pura e simplesmente, aventureiros na política. É que certos cabeças-de-lista deram a entender que não conhecem as autarquias a que se propõem governar, o que é, no mínimo, grave.

Não faz sentido, por exemplo, que um cabeça-de-lista que concorre pela terceira vez à sua própria sucessão venha pedir votos com o argumento de que caso ganhe as eleições, irá melhorar a situação das estradas. Primeiro, tinha que nos explicar porque é que até hoje, ao fim de dez anos de governação, não reabilitou as vias de acesso.

Para quem está à caminho do terceiro mandato, exige-se um novo discurso. Tinha a obrigação de apresentar ao público novas ideias ou projectos para o desenvolvimento do seu município que justifiquem merecer o voto de confiança para a sua continuidade no poder.

Não é admissível que um candidato desses venha prometer as mesmas coisas que prometeu há cinco ou dez anos. Isso não vende.

Outros políticos que participaram neste processo de campanha, para impressionarem ou enganarem eleitores, que tendem a ser cada vez exigentes em termos de qualidade das candidaturas e dos programas de acção, preferiram apostar em propostas bizarras como a de abolir testes de admissão em universidades. Seria bom que fosse assim, mas isso não depende da vontade dos municípios. As universidades são soberanas nesse aspecto, para além de que a procura de vagas é superior à oferta. Foi uma autêntica aberração.

É incrível que num pequeno e novo município da vila de Marracuene, um cabeça-de-lista de um dos partidos concorrentes nestas autarquias tenha prometido construir um mercado com quatro pisos, dotado de um elevador. Não pensou nos custos de manutenção que o edifício representaria para o próprio município e se é o que os munícipes querem em termos de prioridades.

Há histórias de países que acolheram o Campeonato Mundial de Futebol e que no fim do mandato, os governos optaram por mandar destruir estádios de futebol devido aos elevados custos de manutenção.

O partido proponente do projecto de construção de mercado com quatro pisos em Marracuene até podia conseguir concretizar o empreendimento. Seria só juntar dinheiro e fazer o trabalho,  mas o município teria muitas dificuldades de manter o edifício em forma e com os elevadores a funcionar.

De uma forma geral, os municípios estão com graves problemas financeiros e Marracuene não quereria gastar os parcos recursos na manutenção do majestoso mercado municipal. Alguns, porque a sua base tributária é pequena e as receitas que colectam não cobrem as necessidades. Outras por incapacidade de cobrança das mesmas.

O mais grave de tudo é o que foi prometido por um outro cabeça-de-lista. Disse, com naturalidade, e para a surpresa de todos, iria reduzir 75 por cento das taxa de mercado, passando de dez para dois meticais, o que seria um suicídio, pois esta é uma das principais fontes de receita.

Às vezes a culpa por esta situação não é propriamente dos cabeças-de-lista em si, mas, isso sim, dos partidos políticos. Dá para perceber que algumas formações políticas cometerem erros de casting. Seleccionaram pessoas que não têm sequer perfil para serem edis.

Cabe-nos, agora, a nós, eleitores, olhar para tudo isto e fazer o juízo da situação. Há que peneirar as promessas feitas e escolher os melhores manifestos eleitorais.

Chegou a hora de decidirmos sobre a vida dos nossos municípios sem medo e receio. O voto é secreto. Votar é um acto de cidadania. Um exercício democrático. Mas é, também, um acto de responsabilidade, pois não é só votar só por votar. É preciso apostar no melhor programa e no partido que oferece garantias de que, em caso de vitória, vai resolver os problemas dos munícipes. Ninguém deve ficar em casa. O voto de cada um de nós faz a diferença. Não há vencedores antecipados em eleições. Vamos todos votar. Boa escolha.

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