Ala Nyusi e (até) presidenciáveis averbam pior derrota eleitoral da história e arrancam tudo por desespero

DESTAQUE POLÍTICA
  • Com a Guerra de alas em pleno, actuais donos da Frelimo jogam com tudo
  • Entraram em desespero por se tratar de um ano pré-gerais, que coincide com fim de ciclo
  • Lutas internas do partido Frelimo ditaram rumo das eleições autárquicas
  • Importa a Nyusi chegar ao Comité Central numa posição de força e esconder mazelas
  • Os resultados não convencem aos membros da Frelimo do Bem e cabeças vāo rolar

Há um ditado que diz que “não existe maior loucura no mundo do que a de um homem em desespero”, uma frase que se encaixa muito bem nos deliberados actos assistidos no dia 11 de Outubro e na madrugada do dia seguinte, quando a vontade popular expressa nas urnas foi escamoteada para dar vitória ao partido Frelimo, mesmo em autarquias como Maputo e Matola, em que a Renamo estava a ganhar em quase todas as mesas. A Frelimo pode ter sofrido a sua pior derrota eleitoral, penalizada por um voto punitivo, maioritariamente jovem, mas no fim foi declarada, pelos órgãos eleitorais, vencedora de 64 das 65 autarquias, um resultado que podia ser histórico se não fossem práticas denunciadas de fraude, tão explícitas que deixaram transparecer algum desespero por parte do grupo actualmente no poder na Frelimo. É que estamos num ano que antecede as eleições gerais, que coincidem com o fim de ciclo de governação e nas vésperas de um Comité Central que vai ser decisivo para a definição do roteiro da sucessão e até definir o perfil dos prováveis sucessores. Por isso, o grupo de Nyusi quer a todo custo chegar ao conclave da Frelimo com uma posição de força, ainda que a se arrastar, com hematomas e cheiro a derrota. Terá sido isto que levou a máquina do partido a engendrar um plano para reverter a tendência desfavorável em maior parte das 65 autarquias, visando criar uma perceção de uma vitória esmagadora e criar a ilusão de que tudo está bem, nem que isso significasse arrancar tudo à oposição.

 

Má governação do governo, alto custo de vida, corrupção e os impactos das trapalhadas na implementação da Tabela Salarial Única (TSU), que originou greves de várias classes profissionais, com destaque para os médicos e professores, com estes últimos a serem mandados “beber água e não chatear o governo”, são alguns dos pecados que, nestas eleições autárquicas, pesaram nas escolhas dos moçambicanos que nas 65 autarquias decidiram punir a Frelimo nas urnas.

Apesar das comissões distritais e provinciais de eleições indicarem uma vitória da Frelimo em quase todas as autarquias, os resultados de contagens paralelas em dezenas de autarquias do país indicam para a vitória de partidos da oposição, com destaque para a Renamo, que reclama vitória em pelo menos 17 autarquias, incluindo Maputo e Matola.

Para além dos partidos políticos, segundo observadores nacionais e internacionais, estas eleições poderão ter sido as mais fraudulentas de sempre, havendo inúmeras evidências de irregularidades, desde urnas pré-enchidas, boletins de voto no circuito paralelo, enchimento de urnas, uso abusivo do voto especial, desaparecimento de editais, apagões no momento de contagem de votos, recusa dos MMVs em assinar editais e actas sem ordens superiores, entre outras.

Como resultado deste processo, os resultados eleitorais de 11 de Outubro estão a ser contestados em toda a sua linha, devendo ser os mais contestados da história da nossa pobre democracia.

Em Maputo, por exemplo, a Renamo chegou a festejar a vitória em concorridas passeatas, alegando ter obtido 53% dos votos, o correspondente a 186 114 votos, seguido do partido Frelimo com 36% de votos, o equivalente a 125 967 e o Movimento Democrático de Moçambique, com 6% dos votos, o que corresponde a 22 140 votos.

A vitória da Renamo em Maputo é, inclusive, confirmada pelo MDM, que diz ter verificado na sua contagem paralela que a Renamo venceu a capital, e não a Frelimo, como, de resto, foi avançado pelos órgãos eleitorais.

O mesmo cenário verifica-se em quase duas dezenas de autarquias do país, como Quelimane, Matola, Nampula, Gurué e Chiure, em que a oposição reclama e diz ter vencido de forma esmagadora, mas os resultados foram alterados a ferro e fogo, com recurso às mais denunciadas e explícitas práticas.

Guerras internas na Frelimo podem ter levado ala Nyusi ao desespero

O partido Frelimo entrou nas eleições de 11 de Outubro ciente dos desafios que teria pela frente em face do indisfarçável descontentamento popular. Ciente disso, preparou diversos planos para agir em caso de ver-se a perder nas urnas.

E foi o que aconteceu. Quando a Frelimo viu-se em desvantagem na maior parte das mesas de votação, um pouco por todo o país, accionou as suas estratégias, desde apagões no momento de contagem à enchimento de urnas. Mas também decidiu inovar, ordenando os MMVs para não assinarem editais e actas antes de ordens superiores.

Nos casos em que nenhuma dessas artimanhas funcionaram, a Frelimo tinha uma outra estratégia de recurso. Fazer desaparecer os editais, como aconteceu na cidade de Maputo, onde vogais do MDM e da Renamo, dos distritos KaMavota e KaMubukwana, na Cidade de Maputo, queixam que os editais e as actas originais com os dados eleitorais desapareceram e que o apuramento foi feito com cópias, cujos dados são diferentes dos documentos.

Trata-se de 105 editais, que representam mais de 15% da totalidade das mesas da cidade de Maputo, alguns dos quais viriam mais tarde a serem encontrados na sala do director do STAE, aparentemente escondidos para que não fossem processados.

Ninguém sabe para onde foram levados os editais originais e quem os levou, o certo é que os dados das cópias e das originais são completamente diferentes. Nesta segunda-feira, o Tribunal Judicial de KaLhamanculo exigiu que os órgãos eleitorais apresentem os editais originais desaparecidos, deixando em aberto a possibilidade de invalidação dos resultados.

Estas e outras artimanhas mostraram o desespero do grupo actualmente no poder na Frelimo em conseguir um resultado eleitoral satisfatório a todo custo, pois com o fim do mandato em 2024 termina o ciclo desta governação e Filipe Nyusi e seus sequazes querem ainda continuar a se fazer relevantes dentro do partido, enquanto alguns dos seus ministros, como Celso Correia ou o seu comandante geral da polícia, Bernardino Rafael, são associados a aspirações presidenciais.

Com a sucessão na ordem do dia, Filipe Nyusi tem pela frente dias desafiantes, pois procura a todo custo influenciar a escolha do próximo candidato, mas um resultado negativo nestas eleições autárquicas não só fragilizaria a si, como também aos seus delfins, um dos quais poderá ser presidenciável.

Foi nessa lógica que a ala de Filipe Nyusi jogou no tudo ou nada nas horas de desespero e no fim acabou exagerando na dose, havendo, para além da questionável vitória em quase todas autarquias, casos de autarquias onde os números não batem, a ponto do número de votos na urna ser superior ao número de eleitores inscritos.

Para reforçar o seu poder e dar a ilusão de popularidade da actual governação, a ala Nyusi arrancou todas autarquias, excepto na Beira onde só recuou à última hora quando os beirenses já estavam dispostos a derramar sangue, em caso de roubo, segundo apurou o Evidências de fontes locais.

Antevê-se uma vassourada no partido Frelimo

A estratégia de roubo foi de tal forma disparatada que em cidades como Vilankulo chegaram a acontecer autênticos milagres. Até à manhã do dia 12 de Outubro, a Frelimo estava a perder as eleições, mas do nada passou a vencedor, com apenas uma diferença de 37 votos, nos dados partilhados pela Comissão Distrital de Eleições. Estranhamente, a Comissão Provincial de Inhambane decidiu fazer das suas, acrescentando ao pleito mais de mil votos, todos atribuídos à Frelimo.

Nem os membros da Frelimo do bem estão convencidos com a vitória do seu partido e está instalado um clima de murmúrios no seio dos membros de proa do partido Frelimo, envergonhados com o descalabro eleitoral, as visíveis trapalhadas cometidas durante a emenda dos resultados e há quem pede de urgência um Comitê Central Extraordinário para que os responsáveis possam explicar as razões que levaram à exposição do partido e à descredibilização de todo sistema eleitoral.

Antevê-se dias difíceis para Filipe Nyusi, Roque Silva, Celso Correia e outros quadros que dirigiram a estratégia do partido nestas eleições, podendo serem penalizados internamente por conta dos resultados reais que apontam para um descalabro sem precedentes do partido na história das autarquias.

Com estes resultados, Filipe Nyusi vai chegar ao decisivo conclave que vai decidir a sucessão no partido fragilizado e há uma crença de que os antigos combatentes possam confrontá-lo em suas decisões futuras.

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