Descrença na CNE/STAE e suspeitas de fraude desmotivam eleitores a votar nas próximas eleições

POLÍTICA
  • Níveis de abstenção podem disparar depois do escândalo das autárquicas

Os resultados eleitorais das eleições de 11 de Outubro, que contra a vontade popular, expressa nas urnas, dão vitória à Frelimo mesmo em autarquias como Matola e Maputo, onde a Renamo ganhou em quase todas as mesas, estão a ser uma má propaganda para as próximas eleições. Citadinos ouvidos pelo Evidências, esta segunda-feira, mostraram-se desiludidos com a actuação dos órgãos eleitorais, a quem acusam de favorecer o partido Frelimo, por isso não se vêem motivados a continuarem a votar porque, segundo eles, no fim o que conta não são os votos populares depositados na urna, mas sim a vontade dos órgãos eleitorais.

Teresa Simango

France Gonçalves, munícipe da cidade de Maputo, não escondeu a sua insatisfação com o processo eleitoral de 11 de outubro e sugeriu que se volte às urnas para se repor a verdade eleitoral, e vinca sem medo de errar que a Frelimo não foi a legítima vencedora das autarquias em Maputo.

“Para mim, deveriam se iniciar as eleições, muitos de nós jovens estamos cansados da nossa actual governação. Se fossemos um país democrático, o partido que está no poder deveria aceitar a derrota e aceitar deixar a autarquia para o legítimo vencedor, para vermos o que pode acontecer em diante”, disse Gonçalves, acrescentando que não tem nenhuma motivação para ir votar nas próximas eleições, pois “por mais que não votemos nela, a Frelimo sempre rouba e ganha com compadrio do STAE”.

Jorge Dino, outro munícipe de Maputo, não tem dúvidas que os resultados eleitorais foram manipulados para favorecer a Frelimo, por isso pondera “não queimar” mais o seu tempo em filas de recenseamento e de votação a partir das próximas eleições gerais, pois já se sabe quem sempre ganha.

“O processo eleitoral não foi transparente. O povo tem direito de decidir quem o deve governar, mas quando aparece uma outra pessoa a decidir sobre os nossos interesses é errado. Por isso não irei votar nas próximas eleições, porque por mais que eu vá votar estarei a queimar o meu tempo exercendo o meu papel como cidadão, mas já se sabe quem ganha, por mais que não votemos nesse partido. Não vale a pena”, desabafou Dino.

Já Edy Mbaze mostrou-se insatisfeito com a falta de honestidade e transparência no processo de contagem dos votos e perdeu a fé no processo eleitoral.

“Não gostei deste processo eleitoral. Foi o primeiro ano em que fui votar e votei num partido no qual todos os maputenses confiaram este ano, mas os resultados foram diferentes. Não irei votar mais, porque é perda de tempo. Por mais que eu vá votar, acho que não conta. Eu gostaria que o processo fosse mais sério e os resultados mais honestos”, explicou.

Enquanto isso, Gerónimo dos Santos diz que perdeu o hábito de votar por causa das recorrentes fraudes e diz não estar arrependido de não ter ido às urnas no dia 11 de Outubro porque, tal como previu, a história repetiu-se.

“Não fui votar porque não vejo motivo. Votar e não votar é a mesma coisa, sempre o mesmo partido ganha e as coisas nunca mudam”, disse Dos Santos, escancarando o sentimento de uma franja da sociedade moçambicana.

Para Isaura Tomás, no nosso país não existe democracia, por isso está a ponderar não perder mais tempo indo votar nas próximas eleições porque no fim do dia há quem vai empolar os resultados eleitorais.

“Aqui neste país não existe democracia. É tudo uma fantochada, sempre o mesmo partido é que ganha. Todos nós sabemos que foi a Renamo que ganhou, mas eles sempre roubam votos para a Frelimo. Estamos cansados, queremos coisas novas”, desabafou Isaura Tomás.

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