Em 2024, Moçambique vai celebrar 30 anos desde as primeiras eleições multipartidárias, as únicas que ocorreram sem acusações de fraudes e que deram vitória ao partido Frelimo em 1994.
Em 1998, o país introduziu a autarcização. A Renamo boicotou por achar que não havia condições de se realizar umas eleições limpas. A Frelimo ignorou e foi carimbar a sua vitória e hegemonia.
No ano seguinte o país voltou a eleições e surgiu um novo fenómeno que servia de limpeza da sujeira. Em 1999, a RENAMO deu uma conferência de imprensa bastante concorrida dando conta de que venceu as eleições.
No dia seguinte, o jornal Metical do Carlos Cardoso, que nunca escondeu ser membro da Frelimo, apareceu a dizer que a Renamo perdeu e usou os dados apresentados no dia anterior aos jornalistas como prova de que o partido da oposição fez mal os cálculos. A Frelimo apareceu toda feliz e os órgãos eleitorais aproveitaram a credibilidade do CC para carimbar a vitória ao partido no poder. Dhlakama protestou. Chissano ouviu-o e criou-se uma comissão de negociação.
Do lado da FRELIMO, foi indicado Tomás Salomão. Da RENAMO foi indicado Raúl Domingos. Em janeiro do ano 2000, Chissano estava de férias na sua terra natal e os jornalistas perguntaram como estavam a correr as negociações. Chissano não poupou: disse que não eram negociações e denunciou/acusou Raúl Domingos de ter ido para o encontro pedir dinheiro porque devia muito dinheiro ao banco (500 mil USD/MT – ja não lembro qual a moeda).
A RENAMO implodiu. Dhlakama ficou sem hipótese. Teve que expulsar o seu número dois. A FRELIMO esboçou o sorriso de vitória. O país voltou ao normal. Anos depois, outro protagonista. Francisco Machambisse.
Em novas eleições fraudulentas, Machambisse foi acusado de ter atrapalhado todo o processo de recurso apresentado pela RENAMO aos órgãos judiciais que dirimem os conflitos eleitorais. A RENAMO perdeu, Machambisse foi acusado de ter sido usado pela FRELIMO para prejudicar a RENAMO. Nunca se soube a verdade. Machambisse morreu manchado.
Nas últimas eleições, a Renamo perdeu eleições em Maputo também por questões processuais. As deste ano muito provavelmente não serão diferentes: a CNE acaba de reconhecer os ilícitos eleitorais, mas a RENAMO não saberá tirar proveito disso. Vai perder…com razão.
Dentro de um mês a vida poderá voltar ao normal. Em 2024, a Frelimo vai festejar os 30 anos de experiência eleitoral…para o bem…para mal.
Moçambique é isso.
Manuel Matola jornalista
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