A real dimensão da derrota da Frelimo e a exposição da máfia que assaltou o Estado

EDITORIAL

Uma organização e duas figuras influentes apareceram, semana passada, para dar um clarão da dimensão fraudulenta das sextas eleições autárquicas. A nível institucional, destaca-se a Ordem dos Advogados que fez entender que não estamos diante de ilícitos eleitorais isolados, mas estamos a ver efeitos de “uma concertação prévia para viciar os resultados eleitorais”. Junta-se o jurista Damião Cumbana que, em coro assinala que o nível de irregularidades que caracterizaram o processo eleitoral, desde o recenseamento até a votação, leva a concluir que “a actual crise dos resultados eleitorais foi propositadamente preparada numa escola de máfias e de mafiosos que abrangeu todo o território nacional. Não se está em sede de irregularidades isoladas”.

Os eventos da Matola, Maputo e demais pontos do país não deixam dúvidas de quão as instituições do Estado, desde tribunais, CNE, a polícia e outros actores, públicos e privados, foram colocados a serviço desta máfia, expondo a institucionalização de crime, da fraude e do gangsterismo, que antes limitava-se no sector empresarial do Estado. A máfia está a exibir a sua força, a moda Hollywood, com indivíduos armados a solto, intimidando e forçando a oposição a assinar documentos (caso da Matola) que favorecem a Frelimo e com os tribunais a anuir, enquanto a polícia nos entretêm na discussão de números anunciados por Samito, como se uma morte fosse menos importante que quatro mortes provocadas pelas balas da mesma polícia.

Esta é a máfia que se apoderou do Estado e que agora tenta sobrevivência, mesmo depois de reprovado nas urnas. A arrogância de insistir em meios fraudulentos mostram claramente a intenção de instalar o caos, subverter os princípios do Estado Democrático e perpetuar a ditadura. É uma máfia que conseguiu montar a Frelimo a sua imagem e, apesar de ter controlado o país nos últimos cinco anos, encontra resistência dos moçambicanos para perpetuar o regime autocrático instalado, e a Frelimo é agora obrigada a reinventar-se antes que a Renamo fidelize o voto de contestação ao Executivo que a nível internacional deixou o país ser conhecido como o país dos ladrões. E a Frelimo não tem outros caminhos senão estes dois: ou expurgar os criminosos ou morrer com eles.

A Renamo está a ser agitada para comprar este caos que pode ser outra tentativa de manutenção de poder daquele grupo. Mas Ossufo Momade, que não tem muito de inteligência política, tem mostrado também que não tem muito de ignorância. É que mesmo consciente da possibilidade da vitória em mais municípios, reivindica vitória em municípios estratégicos e fáceis de provar a vitória recorrendo a meios pacíficos. E a estratégia pode estar relacionada com as próprias limitações da logística da nossa oposição.

Em todo este imbróglio, com uma Frelimo que esconde a derrota na prepotência incompreensível, existe no mesmo partido pessoas sérias que entendem que a máfia está mais para o Governo, e que a Frelimo está a ser vítima de má prestação de um governo de mafiosos, é o que faz entender a carta de Samora Machel Jr. Certo ou errado, é urgente o resgate do Estado e da própria Frelimo, para que nas próximas eleições não existam riscos de ter gestores públicos como os cabeças-de-listas de Marracuene e de Vilanculos, que apesar de credenciais reconhecidos foram vítimas da má prestação do Executivo que agora é também cara da Frelimo.

Facebook Comments