PRM tinha ordens “superiores” para disparar para matar e não discriminaram até menores

DESTAQUE POLÍTICA
  • Agentes traziam armas de guerra e usaram balas reais
  • Agentes traziam armas de guerra e usaram balas reais
  • Há registo de pelo menos quatro mortes e feridos em Nampula
  • OAM e Reino Unido preocupados com violência pós-eleitoral

Um dia depois da Comissão Nacional de Eleições legitimar aquela que é a mais contestada vitória da Frelimo em 64 das 65 autarquias, mesmo com todas as evidências da fraude, assistiu-se, um pouco por todo país, a manifestações de repúdio contra os resultados anunciados por Dom Carlos Matsinhe.  Nas Cidades de Maputo e Nampula, os ânimos estiveram exaltados, uma vez que a polícia disparou gás lacrimogénio e balas reais, o que levou a uma resposta dos manifestantes que atiraram pedras contra os agentes. De acordo com fontes nas fileiras da corporação liderada por Bernardino Rafael, a polícia recebeu ordens (superiores) para usar toda força, incluindo balas reais, o que equivale a até matar para debelar as manifestações. O rescaldo da Polícia aponta para 10 feridos e 70 detidos, entretanto há registo de pelo menos quatro mortes em Nampula.

 

Um dia após a Comissão Nacional de Eleições anunciar os resultados das VI Eleições, o inconformismo tomou conta dos moçambicanos e da própria Renamo, que organizou uma marcha (pacífica) nos municípios onde tem provas de que venceu, mas a vitória foi atribuída ao partido no poder.   

No grosso dos municípios, as marchas não foram pacíficas devido ao modus operandi da Polícia da República de Moçambique (PRM), que após infiltrar seus elementos entre os manifestantes criou condições para justificar o uso da força. Na Cidade de Maputo, no dia em que o homem de Deus emprestado a política selou o triunfo da Frelimo em 64 das 65 autarquias, várias instituições públicas e privadas foram encerradas por volta das 13 horas porque havia rumores de uma possível manifestação.

Não houve manifestação no dia 27 de Outubro, mas no dia seguinte o que iniciou como uma marcha pacífica liderada pela Renamo terminou em um manto de fumaça de gás lacrimogéneo. Tudo começou quando a meio do percurso da marcha a polícia de choque da Unidade de Intervenção Rápida, que estava armada até aos dentes, começou a disparar gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que replicaram com pedras e garrafas, antes de atearem fogo em pneus e contentores de lixo plásticos nas principais avenidas em pleno centro da cidade.

No meio da contenda foi possível ver agentes da lei e ordem à paisana, sem nada que os identificasse como uma força do Estado, que disparavam balas reais com o claro propósito de matar os seus compatriotas que saíram à rua para exigir a verdade eleitoral. Na cidade de Maputo não houve baleamento mortal, mas em Nampula as balas custaram vidas de inocentes, incluindo crianças.

De acordo com fontes na posse do Evidências, o Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique preparou-se atempadamente para reprimir as manifestações em protesto contra os resultados eleitorais.

“Estas manifestações não começaram na sexta-feira, portanto não era novidade para ninguém que depois do anúncio as marchas continuariam”, explicou a nossa fonte em jeito de contextualização, sublinhando que a mobilização não só de meios quanto também de homens começou a acontecer no final do dia de quinta-feira.

“Na verdade, mesmo na quinta-feira, houve uma apreensão por causa da apresentação dos resultados pela CNE, mas feliz ou infelizmente acabou não acontecendo nada. Em relação à sexta-feira, a ideia era ir com tudo. Pelo menos aqui na cidade de Maputo, todas as esquadras estavam reforçadas não só em meios, mas também homens de outras unidades da polícia”, disse a fonte, fazendo alusão ao objetivo de desencorajar de uma vez por todas as manifestações por causa das eleições.

Em Maputo não houve vítimas mortais e nem feridos graves, mas a Polícia da República de Moçambique deteve de forma arbitrária vários jovens, sendo que antes destacou um forte contingente policial armado até aos dentes para cercar a sede da Renamo.

Em Nampula houve tumultos que resultaram em mortes até de crianças

Em Nampula, os ânimos ficaram exaltados logo nas primeiras do dia 27 de Outubro em curso na sequência dos resultados da centralização nacional divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que atribuem vitória ao partido Frelimo e seu cabeça-de-lista, sendo que as instituições públicas e privadas, bem como o comércio e outras actividades estão paralisados e há já relatos de pessoas baleadas pela polícia.

Na apelidada capital da zona norte, os manifestantes que tomaram quase todas as ruas da cidade em reivindicação contra a vitória da Frelimo e polícia viu-se obrigada a disparar gás lacrimogéneo e balas reais para dispersar os manifestantes que tomaram quase todas as ruas da cidade para exigir a verdade eleitoral.

No meio do conflito entre os agentes da lei e ordem e a população, uma criança de menos de seis anos de idade foi baleada, tendo sido imediatamente evacuada para o hospital, mas, debalde, acabou perdendo a vida. Na resposta, os manifestantes atiraram uma bomba de fabrico caseiro contra o agente que atingiu o menor e o mesmo ficou com o braço amputado.

 

Ainda naquela parcela do país, os manifestantes chegaram a fechar a circulação nalgumas avenidas com barricadas e queimaram pneus, enquanto gritavam “ladrões, fora”, entre outras mensagens. O comércio, instituições públicas e privadas, incluindo escolas, estão neste momento encerrados.

 

Refira-se que tal como aconteceu na Cidade de Maputo, em Nampula, a Unidade de Intervenção Rápida (UIR) chegou a cercar a sede da Renamo em Nampula, não permitindo que ninguém entrasse ou saísse do edifício.

 

Em Nacala – Porto, na sequência da validação dos resultados anunciados pelas Comissões, houve tumultos que resultaram na destruição de algumas infra-estruturas públicas e privadas. Aqui, a polícia disparou balas reais e a queima roupas contra um menor de 12 anos que quando foi socorrido apresentava sinais de ter sido atingido por quatro balas.

 

E o mais caricato é que, segundo o relato do pai do menor, após o baleamento terá sido levado numa viatura Mahindra da PRM para ser depois abandonado e deixado para morrer no meio da rua. Mas quis o destino que alguém passasse do local e o levasse ao hospital onde encontra-se em tratamento.

 

Tanto em Nampula, como em Nacala Porto, vários pacientes continuam hospitalizados com destaque para alguns que pela gravidade dos ferimentos acabaram sendo amputados os membros.

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