Graça Machel: Consolidou-se a ideia de que Frelimo é formada por “ladrões, assassinos e arrogantes”

DESTAQUE POLÍTICA

A activista social Graça Machel junta-se a vozes como Teodato Hunguana, Teodoro Waty, Samora Machel Jr., Mulweli Ribeiro, Brazão Mazula, entre outras que denunciam a face criminosa da administração da Frelimo e do País, e propõe “a realização da reunião de quadros para reflectirmos em colectivo sobre a vida do partido”.

Em carta, a antiga primeira dama do país, escreve que “por inércia, inacção e complacência, nós, os milhões de membros da Frelimo, assistimos, nos últimos anos, à captura da máquina administrativa do Partido por uma fracção de membros, responsáveis pela erosão e desvirtuamento da razão e sentido de ser da Frelimo”, aponta ela, que, propõe, com urgência a realização da reunião de quadros.

Adiante, deixa claro que ainda existe na máquina administrativa da Frelimo, membros que não traíram o Partido, mas a influência da fracção criminosa levou a que se perdesse o sentido de família, a ideia de que a Frelimo são todos os seus membros e de que a máquina de direcção, toda ela, serve os interesses da organização no seu todo.

“Daí se explica o desfasamento entre a gestão do Partido e os milhões de membros, assim como as dificuldades da Frelimo em continuar a ser, no mapa político, um partido de massas, aglutinador, que capta e transforma em agenda de trabalho as demandas, necessidades e sentimentos do povo moçambicano”, aponta a esposa do primeiro Presidente do País, Samora Machel.

Ela não avança nomes. Mas é sob direccao deste grupo, que tem o Presidente Filipe Nyusi na direcção, que Graça Machel afirma que o partido deixou de implementar o princípio unidade, crítica e unidade, que sempre guiou o partido.  “E relegámos parte da máquina administrativa do Partido a um grupo de interesse com agenda própria, que age em nome da Frelimo, mas contra a própria Frelimo.

Mais do que isso, os quadros “permitiram que se confundisse o Partido com essa parte da máquina administrativa infiltrada por um punhado de membros com compromissos contrários aos nossos Estatutos e Programa”, afirma, num momento em que os rostos mais visíveis da Frelimo, são, para além, do seu Presidente, Roque Silva, secretário geral, e Celso Coreia, que assume o cargo de director da campanha, enquanto outra franja, actua fora da plateia.

“Eu sou membro do partido Frelimo por opção, consciência e convicção”, diz ela, assegurando que “como tal como eu, são milhões de membros, cerca de quatro milhões, com ou sem cartão, e atrevo-me a adicionar os simpatizantes, que comungam os valores de liberdade, democracia, unidade nacional, paz, igualdade, solidariedade e justiça social, assentes nos Estatutos que regem a organização”.

Nas palavras da Graça Machel, a inércia, inacção e complacência dos quadros permitiu que, na sociedade moçambicana, se gerasse e consolidasse a narrativa de que a Frelimo, é formado por ladrões, assassinos e arrogantes.

“É de extrema importância e urgência desfazermo-nos deste descalabro e resgatarmos, como milhões de membros e simpatizantes, a verdadeira identidade da Frelimo, a sua história, as suas tradições e as suas práticas. É Urgente resgatarmos o nosso DNA. Como militante, subscrevo a proposta, veiculada por alguns camaradas, de realização de uma REUNIÃO NACIONAL DE QUADROS, para, em colectivo e de forma aberta, refletirmos sobre a vida do Partido e abrirmos novos caminhos para recuperar a confiança, credibilidade, respeito e a química com o nosso povo. A soberania e manutenção da Frelimo residem nos seus membros. Vamos sacudir a inércia, inacção e a complacência. Vamos assumir a nossa militância”, aponta.

Notar que o grupo que administra o partido, além de ser alérgico a crítica, nunca se mostrou favorável a reuniões de debate aberto. Aliás, até as poucas reuniões ordinárias do partido são feitas dentro de agendas que devem ser rigidamente respeitadas. Qualquer debate fora de agenda definida pelos “chefes: é encarado como insubordinação e confronto à direcção do Partido. Uma realidade testemunhada aquando da intervenção de Castigo Langa, num dos Comités Centrais.

Não se conformando com esta nova configuração do partido, a Graça Machel teria renunciado, no último Congresso, seu assunto no Comité Central, recusando-se “misturar com o grupo”.

Tradicionalmente, o partido devia se reunir em sessão extraordinária para analisar seu desempenho nas últimas eleições autárquicas, mas há esforços para se adiar esta reunião que até aqui não foi oficialmente anunciada

Nos últimos tempos, para além de Graça Machel, mais vozes (Samora Mache Jr. Teodato) perderam o medo e elevaram o grito de que é preciso purificação na Frelimo, dando corro ao grito social de que este pode ser o pior Governo de sempre.

“A fase crítica que o Partido atravessa impõe-nos, como milhões de membros, humildade, para assumirmos responsabilidades e reconquistarmos a legitimidade perante o nosso povo. A humildade a que me refiro passa necessariamente por reconhecer os erros cometidos pela Frelimo e, se necessário, pedir desculpas ao povo; passa por nos distanciarmos do grupo minoritário que assaltou parte da máquina do partido e que age em sentido contrário à sua história, suas tradições e suas práticas; passa por reconhecer e aceitar as vitórias onde ganhamos honestamente e reconhecer e aceitar honestamente as derrotas onde as houver”, encerra a Graça Machel.

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