Igreja Anglicana em Moçambique discute hoje o futuro de Dom Carlos Matsinhe

DESTAQUE POLÍTICA
  • Após apadrinhar a fraude, perdeu prestígio entre os crentes e os Bispos exigem resignação
  • Dom Carlos Matsinhe cria embaraços na igreja orientando cultos com seguranças armados
  • Bispos da Igreja Anglicana em Moçambique e Angola pedem a sua cabeça

O Bispo dos Libombos e líder máximo da recém-criada província apostólica da Igreja Anglicana de Moçambique e Angola, Dom Carlos Matsinhe, não vive seus melhores dias. Depois da desaprovação da sociedade pelo suposto apadrinhamento por parte da Comissão Nacional de Eleições (CNE) daquela que é conhecida como a pior fraude da história, o clérigo enfrenta uma pressão dos demais bispos da congregação para se demitir do cargo e o seu destino será conhecido esta tarde. Nos últimos dias, a participação de Dom Carlos Matsinhe nos cultos tem sido boicotada, feita sem cânticos, de forma relâmpago e na presença de um forte contingente armado dentro da igreja, o que tem estado a gerar constrangimentos aos crentes.

Envolto à polêmica por ter liderado a CNE num dos pleitos mais fraudulentos da história, Bispo Dom Carlos Matsinhe poderá deixar, hoje, de ser bispo principal da Diocese dos Libombos e da Província Apostólica da Igreja Anglicana de Moçambique e Angola (IAMA), dependendo da decisão que for tomada pela Comissão Permanente da Igreja que se reunirá hoje em Maputo.

A reunião cuja agenda única visa debater a Carta dos Bispos da IAMA, que exigem a resignação imediata do Bispo dos Libombos, foi convocada pelo próprio Dom Carlos Matsinhe após receber uma forte pressão dos seus pares que tentam resgatar a reputação da denominação numa altura em que há já crentes a desertarem.

“Sua reverendíssima Carlos Simão Matsinhe, Bispo Diocesano, na base do artigo 30 dos Estatutos da Igreja Anglicana em Moçambique, manda convocar a segunda reunião extraordinária da Comissão Permanente da 23ª Sessão do Sínodo Diocesano a ter lugar no dia 14 de Novembro do corrente ano, no Centro Anglicano de Chamanculo, às 16h30min, precedida da Celebração Eucarística de abertura com início na hora acima citada”, lê-se em nota recebida na nossa redação.

A nota não se refere ao desempenho contestado do seu servidor nas últimas eleições, contudo, pelo timing, tudo indica que a decisão dos Bispos de pedirem a resignção imediata de Dom Carlos Matsinhe deve-se ao facto de não ter ouvido o seu apelo nas vésperas do anúncio de resultados, quando o instaram a decidir com verdade e imparcialidade, apesar das pressões.

Em contramão e não se preocupando com a repercussão dos seus actos, Dom Carlos Matsinhe lavou as mãos feito Pilatos e absteve-se de votar durante a deliberação que validou aqueles que são os resultados eleitorais mais contestados da história. Com sua posição “de cima do muro”, a CNE declarou a Frelimo vencedora em 64 das 65 autarquias perante o inconformismo generalizado.

Após a declaração dos resultados, os moçambicanos saíram às ruas para marcharem contra os resultados. A polícia usou gás lacrimogénio e balas reais para reprimir manifestações, o que resultou em pelo menos quatro mortes, incluindo crianças, dezenas de feridos, para além da destruição de muitos bens públicos e privados.

Dom Carlos Matsinhe orienta missa com homens armados dentro da Igreja

Desde a validação dos resultados, Dom Carlos Matsinhe tem sido principal visado pela crítica por ser um homem de Deus de quem se esperava uma postura moral e ética. A desaprovação chegou até aos pilares da igreja, com vários crentes furiosos, alguns a boicotarem a ida aos cultos e outros até a abandonarem aquela congregação.

Evidências apurou que Dom Carlos Matsinhe anda com medo até dos seus próprios crentes e, para continuar a sua actividade pastoral e de celebração eucarística, substituiu os habituais acólitos por homens fortemente armados à paisana.

No último Domingo, Dom Matsinhe orientou uma missa de baptismos e crismas em Laulane, onde entrou sem os habituais cânticos, ladeado de homens fortemente armados à paisana e tudo foi muito rápido, com proibição de fotos dentro da igreja, e saiu também sem cânticos nem saudações, o que constrangeu a congregação.

Cenário idêntico viveram também os crentes da Maxaquene, onde também se fez a casa de Deus com homens fortemente armados e um aparato forte.

O mal estar na Igreja Anglicana, que obrigou aos Bispos do IAMA a pedirem a demissão imediata de Dom Carlos Matsinhe, já havia sido denunciado numa carta de um influente padre da igreja preocupado com o crescente boicote de cultos por parte dos crentes que não mais se reveem nos actos e estilo de vida do seu líder espiritual.

“Após a missa dominical, recebi inquietações vindas dos irmãos desta Paróquia, informando que a maioria dos fiéis não participou da missa dominical, pois não se identificam com a Igreja Anglicana. A  posição que tomaram é de se juntarem a outras denominações religiosas, pelo facto de o nosso Bispo, ter tomando uma atitude neutra perante as injustiças ocorridas durante o processo eleitoral, não foi capaz de defender a verdade que a Igreja prega”, sustenta o referido padre, tentando exortar os fiéis para não abandonarem a fé cristã e se manterem unidos apesar da situação.

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