Felisberto S. Botão
O grande desafio do líder africano hoje é identificar o certo do errado, por estar quase sempre a operar em realidades distintas do seu ambiente físico.
Esse comportamento vem do “core” da sociedade negra, pois quase sem excepção, a citação do racismo, por exemplo, causa um mal-estar tão grande no negro, não por estar a ser diminuído, mas por um medo intrínseco do branco o achar racista. É possível induzir a mente humana e direcioná-la a pensar da maneira que queremos, através de um conceito simples, mas alinhado com a lei natural da criação, que é a frequência da vibração, o que explica que muito do que acontece em África não seja natural, mas sim manipulação através da ciência e da espiritualidade.
A prática do racismo mantém os brancos juntos, pois permite-lhes ver com clareza as variáveis da equação NÓS vs. ELES. Entretanto, o desconforto com o racismo mantém os negros desunidos e uns contra os outros, pois nos coloca numa confusão e desalinhamento entre o espírito, o coração e a mente, e não conseguimos discernir as variáveis da equação NÓS vs. ELES. No tempo colonial, sabíamos que os brancos eram ELES, mas o neocolonialismo conseguiu confundir as nossas cabeças.
A perda da identidade foi a pior derrota que a raça negra sofreu. Hoje a nossa gente procura cada um se encontrar na pele de outros povos, coreano, japonês, branco, chines, indiano, muçulmano, enfim, nós nos tornamos vários povos, menos nós mesmos.
O branco gosta de apressar-se a condenar o racismo, e até ameaça consequências sobre acções racistas, como temos visto em alguns casos isolados de agentes seus exagerados na aplicação dos princípios, o que não passa de manobras de encobrimento. O racismo é um sistema, é a plataforma onde opera o sistema neocolonial em África e sobre o povo negro, pois ele permite distinguir com clareza o segmento alvo para quem são dirigidas as políticas e sistemas de roubo estabelecidos pelo povo branco. O Kwame Nkrumah já havia dito décadas atrás “a essência do neocolonialismo é que o Estado que lhe está sujeito é, em teoria, independente e possui todas as armadilhas externas da soberania internacional. Na realidade, o seu sistema económico e, portanto, o seu sistema político é dirigido de fora. Os métodos e a forma dessa direção podem assumir vários formatos”.
O colonialismo não é um evento isolado, mas sim uma estrutura estabelecida, em substituição da estrutura existente no território colonizado, e é desenhado para durar. O colonialismo se impõe com uso da força, para assegurar o controle, e depois permite a participação de uma classe local, bem doutrinada, para manter o funcionamento do sistema estabelecido, controlado de fora. Citando John D. Fage, no livro Ser Espiritual (2022), ele refere que “os governos coloniais, tendo necessidade de subordinados africanos para o seu sistema, de forma conjunta começaram a apoiar e a desenvolver um sistema elementar e vocacional de educação, iniciado através dos missionários cristãos, muitas vezes eles próprios forneciam algum tipo de educação superior para as classes principais, cuja cooperação eles precisavam. Na década de 1940, havia educação suficiente para tornar possível a atividade política de estilo europeu em todas as colônias costeiras”.
Portanto, uma vez estabelecido o sistema, com o controle do valor do dinheiro fixado, com o valor dos “commodities” fixado, assim como as taxas de câmbio, a presença física já não é necessária desde o momento que se esteja no topo da cadeia económica. Aí entra o neocolonialismo, onde o colono está na sua terra, mas usufrui de todos os benefícios da colónia, através dos mecanismos estabelecidos, desde a ciência do dia, a educação, o sistema bancário, o sistema de seguros, o sistema legal, o sistema comercial, o sistema político e democrático,
O colonialismo está bem vivo em África, não hajam dúvidas quanto a isso. O branco não tem dúvidas, e o racismo permite manter o seu foco.
Porquê a liderança africana, e nós como um povo, ainda permitimos esta exploração? No livro Ser Espiritual (2022), eu cito o W. E. B. Du Bois, na sua obra Almas do povo negro (1903), que “o negro vivia dividido por uma dupla consciência: comunal (negra) e nacional (estadunidense)”, que mais tarde ele próprio passou a entender este fato como um reflexo local do verdadeiro dilema universal do negro, emparedado entre a busca de sua especificidade e a integração ao Ocidente.
Esse dilema está bem vivo ainda hoje. É nossa obrigação como africanos, estar claros com relação a este fenómeno no nosso dia a dia, a todos os níveis, e não tentar encobrir uma situação que não traz nenhum benefício para nós, pelo contrário, perpectua a nossa miséria e colonização. Veja a Nigéria por exemplo, o tribunal supremo local está a busca de artimanhas para fugir a desqualificação do presidente Bola Tinubu, por fraude comprovada de identidade, porque este é o escolhido da França e do ocidente no geral, por aceitar manter as forças insurgentes que desestabilizam seu país e a região, e manter o sistema de roubo de combustível e outros recursos que fazem no país, através de agentes americanos e europeus. O mais intrigante é que, apesar de tanta exposição a um acto tão baixo e vergonhoso, o Tinubu continua a exercer normalmente a sua presidência, vai ao tribunal, viaja em missões oficiais, e os campeões da democracia não se pronunciam. Como você explica isso?
Jovens e futura liderança africana
Deixa-me citar a reputada ex-Embaixadora da União Africana nos Estados Unidos da América, Sua Excelência, Embaixadora Arikana Chihombori-Quao, médica, diplomata e empreendedora, “se vocês, jovens, pretendem crescer e tornarem-se verdadeiros futuros líderes de África, que se vão levantar e dizer: o que é certo é certo e o que é errado é errado, vocês devem compreender-se. Você deve entender como o negro chegou à mentalidade que temos hoje. Devemos entender que passamos por uma lavagem cerebral sistemática. Fomos levados a acreditar que tudo o que é africano, tudo o que é negro, é mau e indesejável, e que tudo o que é europeu é melhor. Tudo começou com a Igreja Católica Romana. Eles enviaram missionários: “vá e subjugue os africanos”, porque eles sabiam que éramos guerreiros. “Deixe-os acreditar que se eu dar-lhe uma bofetada na face direita, você deve me dar a face esquerda para finalizar”. Deixe-os acreditar que nossas riquezas estão no céu”. Enquanto estávamos de mãos dadas com os olhos fechados. Eles estavam nos roubando… Então, quando os verdadeiros colonizadores chegaram para acabar com tudo, o africano já tinha sofrido uma lavagem cerebral completa e derrotado”.
As teorias distrativas de corrupção e maus líderes são fabricadas para manter o sistema colonial vivo. Não há maus líderes em África. Há excelentes líderes que são mortos pelo sistema europeu e americano, como o Muammar Khadafi, o Kwame Nkrumah, Thomas Sankara, Patrice Lumumba, John Magufuli e Samora Machel; há bons líderes que temem pela vida, e buscam negociar, como o Yoweri Museveni, Félix Tshisekedi, Paul Kagame, Abiy Ahmed Ali e Isaias Afwerki; e há bandidos, os famosos “marionetes”, como os há em outras sociedades do mundo, que são elevados ao poder pelos corruptos Europeus e Americanos, através de financiamento a fraudes eleitorais, golpes de estado e rebeliões, para que possam dar cobertura aos seus desmandos, como são os casos de Mohamed Bazoum, Bola Tinubu, Ali Bongo e Nana Addo. Estes últimos, definitivamente não são nossos líderes.
O problema africano é o colonialismo, hoje no formato neocolonial, que não permite que o povo africano se erga por si só, por conta dos sistemas impostos em tudo o que fazemos, até nas pequenas coisas inexpressivas.
Fui a uma visita na Ilha de Moçambique, e a história que contam lá na fortaleza, é na perspectiva do colono português: os termos como escravos fugitivos, escravos rebeldes, comandante, sacerdotes, etc., dominam as narrativas de jovens guias turísticos moçambicanos. Se fosse contada como nossa história, aqueles que chamamos escravos estariam registados como heróis, bravos lutadores, e os outros estariam registados como líderes dos ladrões portugueses, impostores disfarçados de santos, etc. Fiquei sabendo que o governo português é que financia o orçamento da fortaleza, apesar de estar sob tutela do governo moçambicano. Aí algumas coisas começam a ficar claras, sobre quem tem o poder de contar a história.
De quem é a história que estamos a contar aos nossos filhos e as nossas visitas? Como permitimos isso como povo e como estado?
A juventude africana precisa saber que existem exemplos bons na liderança africana, que o seu fracasso é resultado da conspiração e sistemática lavagem cerebral que o nosso povo sofreu, e, se aspiram fazer mudanças, como líderes africanos do futuro, só será possível a partir desta consciência da sua realidade. Também precisa ganhar consciência que o racismo branco é um instrumento de guerra, sistema que não vai desaparecer enquanto a europa precisar dos recursos de África.
O facto é que os europeus estão a falhar décadas após décadas em construir sistemas autossuficientes, independentes da África, tanto nos recursos energéticos, nos insumos da indústria, e até nos recursos humanos. Eles ainda não acharam formas alternativas viáveis de viver, sem depender de África, e pararam no tempo. Vão lutar com tudo para continuar a roubar de África. É só olhar para o desesperado Emmanuel Macron.
O seu comentário e contribuição serão bem-vindos. Obrigado pelo seu suporte ao movimento SER ESPIRITUAL https://web.facebook.com/serespiritual.mz/
Facebook Comments