“As meninas não são mercadorias para serem trocadas por coisas materiais”

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  • Graça Machel endurece o tom contra uniões prematuras

Num contexto em que crescem relatos de pais, tutores ou encarregados de educação que chegam a entregar suas filhas menores para se unirem a homens mais velhos em troca de bens materiais ou mesmo para pagamento de dívidas, a activista social e antiga ministra da Educação, Graça Machel, defendeu, este fim-de-semana, na África do Sul, que as meninas devem ser colocadas no seu devido lugar como seres humanos plenos e não como mercadorias para serem trocadas por coisas materiais. 

Em evento internacional, na Cidade do Cabo, com mulheres líderes e especialistas influentes, em particular Michelle Obama, Melinda French Gates e Amal Clooney, Graça Machel classificou a união prematura de um “problema horrível” e disse que a forma de resolver é a mudança de paradigma em relação às raparigas.

“A coisa fundamental que devemos lembrar ao mundo é que uma menina é um ser humano completo – que tem uma identidade, que tem potencial, que tem sonhos e que tem o direito de decidir o que quer fazer da sua vida – como todos os outros”, disse a fundadora da Graça Machel Trust e da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade.

As declarações de Graça Machel foram feitas num contexto em que várias organizações da sociedade civil moçambicanas exigem ao Presidente da República a demissão do Secretário de Estado da Província de Manica, Florentino Dick Kassotche, por ter feito declarações sexistas, ao apelar a uma reflexão sobre a Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras, alegadamente para legitimar o envolvimento de menores em uniões prematuras.

Abordando as consequências sociais e económicas da desigualdade de género, Graça Machel disse também que as normas culturais são criadas pelo homem e devem ser desafiadas quando prejudicam as mulheres e as raparigas. Ela também falou sobre o flagelo da violência baseada no género, apelando a um esforço conjunto para investir nas mulheres e nas raparigas.

Michelle Obama defende financiamento para acabar com uniões prematuras

Na mesma sessão, Michelle Obama apelou aos que estão no poder para disponibilizarem o financiamento necessário para ajudar a acabar com a união prematura. Michelle Obama, Melinda French Gates e Amal Clooney formaram, no ano passado, uma parceria com as suas respectivas fundações para promover a igualdade de género e ajudar a acabar com a união prematura.

A Parceria Global para Acabar com as Uniões Prematuras, o Girls First Fund e a VOW for Girls — uniram forças com a Clooney Foundation for Justice, a Bill & Melinda Gates Foundation e a Girls Opportunity Alliance da Fundação Obama para trabalhar e apoiar grupos liderados por meninas e pela comunidade, esforçando-se para eliminar barreiras para meninas em todo o mundo.

A Unicef estima que existam 650 milhões de meninas e mulheres casadas antes de completarem 18 anos. Mais de 50 milhões delas vivem na África Oriental e Austral. Quase um terço (32%) das jovens mulheres da região casaram-se antes dos 18 anos.

O evento foi concluído com o apelo à acção, à colaboração contínua e aos esforços sustentados para erradicar a união prematura, garantindo que as raparigas de todo o mundo possam construir o seu poder e defender as vidas que desejam.

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