Chefe da localidade e três membros da Frelimo em Alto Molócuè implicados no caso do caixão deixado no Tribunal

POLÍTICA
  • Ameaçaram juiz e num grupo privado prometem que não “chega” às próximas eleições
  • Estão detidos e já foram constituídos arguidos no processo

Começaram a ser ouvidos em sede de instrução preparatória, esta segunda-feira, quatro membros do partido Frelimo, incluindo a chefe da localidade sede de Alto Molócuè, na província da Zambézia, acusados de serem os autores das ameaças contra o juiz. Os mesmos encontram-se detidos e já foram constituídos arguidos no processo.

 

Tudo começou na passada terça-feira, quando desconhecidos deixaram, na madrugada desta terça-feira, 14 de Novembro, um caixão na porta do Tribunal Judicial de Alto Molócuè, com ameaças de morte ao Juiz Celso Alexandre Vasco.

“Senhor Celso Alexandre Vasco, ainda estamos insatisfeitos por ter tirado das celas seus vândalos que estamos a ver aqui no bairro. Não temos nada a ver com eleições, mas você e a sua namorada incendiaram nossas barracas. Nos vingaremos da tamanha desgraça que o senhor criou nas nossas famílias. Até breve, senhor Juiz, aqui se faz, aqui se paga”, lê-se na mensagem estampada no caixão.

Após uma investigação foi possível descobrir que, afinal, o ataque foi coordenado e levado a cabo por um grupo de membros do partido Frelimo, supostamente agastados pelo facto de o juiz ter ordenado a liberdade condicional de 34 indivíduos que, supostamente, incendiaram um mercado.

Os 34 cidadãos são, igualmente, acusados de crime de desobediência por terem saído à rua para marcharem contra os resultados eleitorais que atribuem vitória à Frelimo, quando no seu entender foi a Renamo quem ganhou naquele ponto do país.

A libertação dos 34, ainda que de forma condicional, enfureceu membros e simpatizantes do partido Frelimo, que imediatamente começaram a inundar a vila com mensagens de ameaças ao juiz, sendo que o ponto mais alto foi mesmo quando decidiram deixar um caixão à porta do tribunal com uma ameaça velada contra o juiz.

A identidade dos promotores das ameaças acabaram por ser descobertas durante as investigações, o que levou à detenção dos quatro membros da Frelimo, que, inclusive, em grupos de whatsapp não se importavam de espalhar informações falsas.

Numa das mensagens, para instigar a ira contra o juiz, diziam que um comerciante suicidou-se por conta das barracas que foram queimadas no distrito. Mas tudo não passava de pura mentira, pois o suposto indivíduo que diziam que perdeu a vida, de nome Castro Estevão Uakuetxe, está vivo e foi ouvido na procuradoria local.

No grupo da Frelimo chegam a insinuar que o juiz não vai chegar às próximas eleições

Evidências teve acesso a mensagens de textos trocadas pelos membros da Frelimo em Alto Molócuè num grupo privado da rede social Whatsapp, no qual destilavam o seu ódio contra o juiz e deixavam ameaças veladas contra a sua integridade física do juiz, chegando, um dos intervenientes, a ameaçar que o magistrado podia não “chegar” às próximas eleições, pois iria dar problemas.

O referido grupo em que tratam o juiz como membro da Renamo e o culpam de ter restituído a liberdade os seus “irmãos” chama-se Frelimo 60 anos, e é possível ver o entusiasmo de alguns membros, chamando para si o protagonismo em fazer vida negra ao juiz.

“O juiz já declarou que é da RENAMO e ponto final. Se é guerra que ele quer, vai ter, podemos julgar também ele tradicionalmente. Existe lei para tal. Se for assim, vamos fazer a justiça sem precisar recorrer à lei”, lê-se numa das mensagens.

Numa outra, em resposta a um mensagem de um membro que sugeria uma transferência do juiz por ser supostamente da Renamo, um outro interveniente dispara: “A nossa chefia é implacável. O resto não sei o que será dele”, enquanto outro diz: “o perigo é se deixarem o juiz com essa atitude. Vamos minar as próximas eleições”, e imediatamente a resposta de um outro membro veio confiante: “tenho a certeza que não iremos estar com ele até lá”.

Refira-se que a Associação Moçambicana dos Juízes já veio a terreiro condenar a atitude do grupo que ameaçou a integridade do juiz naquele ponto do país.

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