Xavier Uamba
Bastou apenas Dom Carlos Matsinhe manter-se neutro no Processo Eleitoral para que toda a sociedade se revoltasse contra ele. É que no lugar da verdade, Dom Carlos Matsinhe preferiu não se pronunciar e, mais grave, demarcou espaço sobre ela, e, como se diz popularmente, quem cala, consente.
Mas, se recuarmos no tempo, bastará lembrarmo-nos das polémicas eleições de 1999 para voltar à tona a questão das eleições e das contestações. Que o digam Brazão Mazula e Jamisse Taímo, que hoje se vêem como puritanos neste processo, quando, também, outrora, passaram por este pesadelo.
A verdade é que este problema, que atingiu o seu cume hoje, é, de longe, antigo e já com barba branca. Dom Carlos Matsinhe é apenas um bode expiatório de um problema já por si bicudo. Trata-se, de resto, de mais uma oferenda a ser sacrificada em nome dos Deuses! Uma ovelha mansa no cativeiro.
Ao que nos consta, e enquanto tivermos órgãos de Estado e deste processo partidarizados, de nada servirá o sacrifício de Dom Carlos Matsinhe. A Frelimo, a Renamo e o MDM estão lá representados. A verdade é que temos um partido-Estado, que a todo o custo cria este cenário. Um facto é certo: precisamos rever urgentemente a composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e sobretudo estabelecermos critérios credíveis para a selecção dos membros desses órgãos. Basta de acomodações políticas que só lesam a pátria.
Ainda que Dom Carlos Matsinhe se demita, enquanto o presente modelo prevalecer nada terá servido! Continuaremos com a mesma música, mas com orquestra e dançarinos diferentes.
Os problemas da CNE vão muito para além dela e, diga-se o que se disser, Dom Carlos Matsinhe é vítima de um sistema que nunca funcionou como deveria.
Agora, uma coisa é certa, se quisermos organizar, de facto, este país, temos, urgentemente, enquanto forças vivas da sociedade, de organizar uma conferência nacional, alargada a todos, e não necessariamente no formato político-partidário proposto por Graça Machel, do qual se pensarão novas estratégias para de uma vez por todas se resolver este problema. Enquanto isso, a longa espera continua.