Mulémbwé contraria Maguni e reconhece crise dentro da Frelimo

DESTAQUE POLÍTICA
  • Mais uma voz se levanta no seio dos camaradas
  • Antigo presidente da AR apela reconciliação para melhor servir o povo

Embora Luidimila Maguni tenha jurado de pês juntos que a Frelimo não está em crise, um coro reproduzido pelos meninos de recados que pululam nas televisões e rádios do país, chegando a desqualificar uma figura histórica como Graça Machel, já é um dado adquirido que há clivagens no seio do partido sexagenário, apesar da vitória retumbante e, diga-se, duvidosa nas VI Eleições Autárquicas. Samora Machel Júnior, Teodato Hunguana, Tomaz Salomão, Teodoro Waty e Graça Machel fazem parte do rol dos membros proeminentes do partido no poder que através de cartas e entrevistas mostraram o seu desagrado pela forma como foi conduzido o processo eleitoral e, sobretudo, pelo facto do partido ter sido “invadido” por infiltrados. A tensão no seio do partido dos camaradas foi também assumida por Eduardo Mulémbwé, membro do Comitê Central da Frelimo, que na ocasião referiu que é preciso “unir e reconciliar os militantes da Frelimo para fortalecer o partido”.

Duarte Sitoe

Para a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frelimo venceu em 64 das 65 Autarquias. No entanto, uma emenda do Conselho Constitucional reduziu o número de municípios supostamente ganhos pela Frelimo, tendo atribuído quatro para a Renamo e ainda mandou repetir as eleições em quatro municípios.

A vitória retumbante e esmagadora não foi motivo de entusiasmo para todos os camaradas, o que não motivou pomposas festividades. Alguns membros proeminentes do partido libertador romperam o “aspiral do silêncio”, com destaque para Graça Machel, Teodato Hunguana, Tomaz Salomão, Josina Machel, Teodoro Waty e Samora Machel Júnior, vieram a terreiro mostrar o seu sentimento de desacordo em relação à fraude e ao uso da força, bem como instituições da justiça para legitimar os resultados.

No rol das figuras que criticaram a forma como foi conduzido o processo eleitoral, o primogênito de Samora Machel revestiu-se de coragem e denunciou que há membros infiltrados no seio do partido dos camaradas que tiveram uma ascensão exponencial a ponto de influenciar o líder do partido no poder a tomar decisões nunca antes tomadas.

Em relação a recomendação da reunião aventada por  Samora Machel Júnior, Teodato Hunguana e Graça Machel para a purificação de fileiras, já que o partido foi capturado por infiltrados, Luidimila Maguni fez questão de referir que não há previsão de uma reunião nacional a médio prazo, pelo que “internamente, se acharmos que há a necessidade de realizarmos uma reunião de quadros, o partido tem órgãos apropriados para poder tomar essa decisão”, tendo, por outro lado, instado aos membros do partido para saberem para onde direccionar cartas que digam respeito a formação política liderada por Filipe Nyusi.

“As cartas devem ser dirigidas aos órgãos do partido, para que realmente se possa fazer a discussão necessária à volta destes assuntos, porque somos membros de uma grande família e uma grande família conhece os locais apropriados para discutir o que está bem e o que está mal, e como é que em conjunto se podemos corrigir”.

Entretanto, o antigo presidente da Assembleia da República, Eduardo Mulémbwé, fez questão de anular a tese apresentada por Maguni e reconheceu que há clivagens no seio da Frelimo e, por isso, apelou a reconciliação para melhor servir o povo.

“Qual é a família que em algum momento não tem algum desentendimento? O importante é que a gente saiba porquê em algum momento vemos as coisas de maneiras diferentes, até que provavelmente seja um defeito meu. O importante é que a gente reconheça onde é que está o problema? No meu humilde pensar, é unir e reconciliar os militantes da Frelimo para fortalecer o partido”.

Em relação aos resultados promulgados pelo Conselho Constitucional, Eduardo Mulémbwé foi parco nas palavras, uma vez que se limitou a referir que vai se pronunciar sobre o assunto nos órgãos do partido. Contudo, reconheceu que há um mal-estar entre o Tribunal Supremo e o Conselho Constitucional.

“O Conselho Constitucional já se pronunciou e eu quero apenas olhar para aquilo que é o produto final. Eu, como militante da Frelimo, terei o momento de dar a minha opinião dentro do órgão a que pertenço, que é o Comité Central, não faço análises profundas fora (…) Olhando para a comunicação social que há algum mal-estar entre o Conselho Constitucional e o Tribunal Supremo e há declarações pessoais, ou não sei, a um respeitado juiz conselheiro que veio cá fora dar a entender que é o posicionamento do Tribunal Supremo, sendo posição do Tribunal Supremo é que efectivamente existe algo para qual o legislador tende olhar para a legislação e poder corrigir o que for necessário corrigir”, sugeriu.

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