Não se pode esperar resultados diferentes recorrendo a mesma máquina da fraude

EDITORIAL

O crime compensa. Esta é a máxima que um grupo de cidadãos que controla o Governo e o partido Frelimo procura exaltar a todos os níveis dentro das instituições do Estado, distorcendo o papel destas na construção de valores éticos e morais que concorram para construção da harmonia e boa convivência social. Mas acima de tudo, assistimos a uma banalização arrepiante dos principais pilares do Estado, quando instituições como o Conselho Constitucional, que é o garante da constituição, são controlados a remote por grupos que capturaram o Estado, chegando a colocar em causa a sua reputação para satisfazer o ego de um punhado de pessoas.

As eleições autárquicas foram, mais uma vez, a ilustração da degradação destes nobres valores, cuja construção é uma responsabilidade colectiva. E antes que se limpe a nódoa que ameaçou o recuo para instabilidade política, os gestores eleitorais mostram nenhum empenho de contornar as más práticas vivenciadas no último escrutínio e, mais uma vez, recorrem aos mesmos meios que antes transmitiram resultados duvidosos, repudiáveis e injustos como se as lições do processo anterior tivessem tido pouco para ensinar, e mais, como se não existissem aqui pessoas do bem. É preciso muita arrogância para confiar, a nível local, as eleições intercalares do próximo dia dez (10) do mês em curso aos mesmos gestores que nas eleições de 11 de Outubro conduziram a fraude. Não se pode ter resultados diferentes quando se recorre aos mesmos meios.

É que até aqui tudo indica que as eleições eleitorais que terão lugar em 16 mesas de assembleia de voto na autarquia de Nacala-Porto (Nampula), três no município de Milange (Zambézia), 13 mesas na autarquia de Gurúè (Zambézia) e em todas as 41 mesas do município de Marromeu (Sofala) serão dirigidos pelos mesmos directores que lideraram um amplo esquema de manipulação de resultados, no que já é conhecido como a pior fraude da história do país. Um acto de arrogância e desrespeito a quem olha o criminoso eleitoral como inimigo do povo.

Isso anula a encenação do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), que mandou fazer o levantamento de todos os casos de ilícitos eleitorais praticados e comprovados nas sextas eleições autárquicas e os nomes dos envolvidos para medidas internas de responsabilização, com promessas de que deverá, com a instrução, avançar com processos disciplinares, que podem implicar até afastamento dos visados do Aparelho do Estado.

A instrução do Gabinete do director-geral do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral foi emitida na última quarta-feira, dia 29 de Novembro, exigindo que suas direcções façam o levantamento e reportem os ilícitos eleitorais tipificados na lei eleitoral.

Ora, os elementos da fraude estão à vista e, enquanto se aguarda pela responsabilização dos criminosos, é preciso que se afaste do processo qualquer suspeito da fraude, para emprestar ao processo a dignidade que não foi possível imprimir no processo anterior. Mas porque somos bons em alimentar a ideia de que o crime compensa, fizemos o oposto, até fizemos questão de procurar os implicados de sempre para assumirem lugares de relevo, foi assim nas dívidas ocultas, até no governo. De todos os requisitos para assumir cargos públicos, domina a observância de que aquele que tem preço é o melhor. E que se lixe os custos sociais para uma geração que perdeu a noção do certo e o errado.

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