“Não sou traidor, muito menos mentiroso”

DESTAQUE POLÍTICA
  • Dom Carlos Matsinhe se recusa a cumprir ultimato para deixar o cargo
  • Bispos Anglicanos davam prazo até 30 de Novembro para ele solicitar a própria reforma
  • Dom Carlos Matsinhe nega e diz que antes da decisão deve-se ouvir os crentes
  • Bispo dos Libombos apela seus pares para “aguentarem” até sua reforma, em Outubro de 2024

 

Apesar da pressão que vem sofrendo dos seus pares, indignados pela sua conduta reprovável na condução do último processo eleitoral, que em vez de trazer a paz reacendeu o pomo da discórdia no país, o Bispo dos Libombos, Dom Carlos Matsinhe, continua de pedra e cal a frente dos destinos da Igreja Anglicana em Moçambique e Angola (IAMA). Depois de mais de 30 dias ignorando a carta dos Bispos Anglicanos de Moçambique e Angola que pediam a sua resignação e davam prazo até 30 de Novembro para pedir a própria reforma, Dom Carlos Matsinhe decidiu responder aos seus pares, negando terminantemente colocar o cargo a disposição. Aliás, nega ser “traidor, muito menos mentiroso” e pede que antes da tomada da decisão deve-se ouvir os crentes.

No passado dia 30 de Outubro, cerca de 19 dias depois das eleições autárquicas, num momento em que uma grande indignação havia tomado conta dos moçambicanos, após a CNE decidir validar as eleições consideradas mais fraudulentas da história, sete bispos moçambicanos, incluindo o Bispo Emérito Dom Dinis Sengulane, e três angolanos endereçaram uma carta ao actual Primaz da IAMA, Bispo Dom Carlos Matsinhe, mostrando-se envergonhados por ter liderado as eleições mais fraudulentas da história e ter se abstido de pelo menos, como cristão, mostrar a sua reprovação ao roubo de votos.

Apenas dois bispos, um moçambicano e um angolano, é que não assinaram a missiva de pedido de resignação de Dom Carlos Matsinhe, o que mostra uma espécie de consenso que existia entre os ministros da palavra.

Na carta, os 10 signatários da carta aconselhavam o Bispo dos Libombos a solicitar a sua reforma até ao dia 30 de Novembro de 2023, o que significava, em termos práticos, uma resignação.

Numa resposta em que começa por pedir desculpas por ter demorado em responder, Dom Carlos Matsinhe culpa os pronunciamentos feitos por alguns políticos e que acabaram sendo usados para denegrir a sua imagem e a da Igreja Anglicana, tendo provocado um mal-estar e inquietação, o que levou os Bispos a pedirem a sua resignação.

“Há coisas que sem premeditá-las acontecem. Vivemos e servimos num mundo de humanos. Por todo o embaraço em torno da minha pessoa vos endereço sinceras desculpas. Orgulho-me de ser Bispo da Igreja Anglicana em Moçambique e da IAMA, e pelo facto de ter sempre servido fielmente a comunidade anglicana, da qual nutro grande respeito e admiração. Por isso, afirmo que não sou traidor e muito menos mentiroso. Se eu fosse tal, alguém teria visto isso muito antes, ao longo do percurso dos 4 anos de ministério, que inicia com o diaconato até ao cargo que hoje exerço de Primaz, e nem Deus teria permitido e nem me conduzido até aqui”, sublinhou.

Indo mais longe, Matsinhe nega ser traidor e muito menos mentiroso, mas não acede ao conselho dos seus pares. Antes pelo contrário, exige que seja dada a oportunidade aos crentes da igreja para poderem decidir por si só o seu futuro nos destinos da igreja.

“Agradeço a vossa recomendação, contudo reitero que antes de tomada de qualquer decisão sobre a matéria em apreço se pondere a auscultação da comunidade Anglicana, com vista a que a decisão a tomar se conforme com a vontade expressa nos termos canónicos, sem qualquer pressão e com vista a dignificar a nossa igreja”, refere Matsinhe.

Dom Matsinhe insta seus pares a esperarem até sua reforma daqui a um ano

Vendo-se encurralado em com a reputação em cheque, mas não querendo se submeter a humilhante resignação proposta pelos bispos de Moçambique e Angola, Dom Carlos Matsinhe propõe uma saída, diga-se prática.

Com o fim do seu mandato e reforma previstos para Outubro de 2024, sugere que se iniciem alguns processos de transição pacífica até chegar o dia em que por norma deve ir a reforma.

“Como é do vosso conhecimento, o meu mandato termina em Outubro de 2024, quero vos

assegurar que, num espírito harmonioso, alguns processos de transição podem ser reflectidos e iniciados com a participação de todos para que se logre melhor sucesso. A criação de condições para o processo de transição e transferência de poderes para o futuro mandatário, bem como a despedida, serão feitos ao longo do tempo que precede a minha reforma, e a participação de todos para o sucesso será fundamental e dará maior valor à igreja e a todos”, sugere sabiamente aquele homem de Deus, hoje sacrificado por decisões tomadas enquanto servidor público.

Dom Carlos Matsinhe reconhece que os factos indicados na carta e que suscitam a inquietação dos bispos e “supostamente” da família Anglicana em Moçambicana são preocupantes, pese embora, no seu entender, estarem a surgir precisamente no actual contexto político eleitoral, caracterizado por conflitos de vária ordem.

“Tais consubstanciam a forma mais vil e subtil de denegrir a imagem de uma pessoa e exaltam ânimos e conflitos de forma exacerbada, formas características no nosso País, à luz de exercício de uma suposta democracia e liberdade de expressão”, disse Dom Carlos Matsinhe, antes de tentar justificar a sua actuação, alegando o funcionamento da CNE que baseia-se num regimento colegial, pelo que “não cabe e nunca coube à minha pessoa, na qualidade de presidente do Órgão, a tomada de qualquer decisão, senão nos termos do funcionamento regulamentar do referido Órgão”.

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