Edson Chiure cria startup que promete revolucionar maneira de fazer a agricultura

DESTAQUE ECONOMIA
  • Chama-se Variat e fornece informações vitais para os produtores
  • “A agricultura de hoje é de informação. Sem a informação não temos como reagir melhor às intempéries e pragas”

Numa altura em que o grosso dos países do mundo, incluindo Moçambique, sofre com efeitos das mudanças climáticas, apostar na tecnologia pode não remediar esses fenómenos, mas sim preveni-los. Foi pensando nos problemas que enfermam o sector da agricultura em Moçambique que o criativo jovem moçambicano Edson Chiure decidiu criar uma startup denominada Variat, que traz uma maneira nova de fazer agricultura através da informação, permitindo prever quando é que se pode produzir, através de dados precisos que são fundamentais para a tomada de decisão. Entretanto, reconhece que um dos grandes desafios é a resistência em apostar em novas tecnologias.

Duarte Sitoe

Chama-se Edson Chiure, jovem criador, consultor e entusiasta em tecnologia. Seu corpo franzino contrasta com o tamanho das suas ideias. Tem o dom de cativar e, através de suas palavras, conquistar a atenção de quem admira jovens inteligentes e que não se contentam em simplesmente contemplar o estado das coisas.

É nesta qualidade de não se contentar com o estado das coisas que Edson Chiure, inconformado com o estágio actual do sector da agricultura, decidiu, mais do que endossar o exército de críticos que vivem murmurando pelos muros, pensar numa solução inovadora para o sector da agricultura.

Trata-se da startup Variat, pensada minuciosamente como ferramenta que permitirá prever e alertar aos produtores quando é que se pode produzir, através de uma série de dados climáticos e atmosféricos precisos.

Essa ferramenta pode ser determinante para a agricultura em Moçambique, uma vez que nos últimos anos o país tem sido fortemente fustigado pelos efeitos das mudanças climáticas. A aposta na tecnologia pode ajudar o risco de perda de cultura e a reorientação de esforços (sementes e mão de obra) que muitas vezes tem sido perdido devido aos impactos de fenómenos extremos como secas, ciclones e cheias.

“Uma das motivações para criar a Variat tem a ver com os grandes desafios que temos estado a assistir nos últimos tempos, que tem a ver com as mudanças climáticas. Penso que é uma startup que encontra todo um conjunto de condições que nos favorecem a apostar na tecnologia. As mudanças climáticas precisam de soluções acertadas, penso que este nos levou a criar uma status para ajudar resolver problemas no ramo agrário”, refere o jovem.

Edson Chiure conta que as negociações para a criação da startup arrancaram em 2019, mas a efetivação da conclusão para que a empresa operasse foi feita em Abril de 2022, tendo seguidamente trabalhado com a Companhia do Vale do Zambeze e empresas das terras de Robert Mugabe.

“Tivemos a oportunidade de trabalhar com algumas entidades moçambicanas para fazer uma indução, falo do Vale do Zambeze, e também tivemos a oportunidade de fazer uma indução no Zimbabwe, onde trabalhamos com uma firma privada de 400 hectares, e o feedback é muito bom, porque eles puderam perceber que num espaço de tempo curto foi possível fazer o mapeamento de uma extensão enorme que seria necessário fazer em quatro ou cinco dias”, detalhou.

Olhando para o mercado moçambicano, Chiure entende que a introdução da tecnologia pode dinamizar o crescimento agrícola, visto que o país tem potencial que não está a ser devidamente aproveitado.

“O país tem potencial enorme na agricultura, mas este potencial em muitas das vezes não se traduz em concreto se não trouxermos soluções enquadradas com aquilo que é a realidade local. Nós que conhecemos a realidade local achamos que há soluções que nos podem ajudar muito facilmente a melhorar a nossa produtividade. Vejo as startups como uma força motriz para o desenvolvimento, porque elas têm um DNA que permite ser mais rápido que as empresas tradicionais, e na produção é fundamental ser rápido para acompanhar a dinâmica dos acontecimentos. Portanto, as startups são pequenas, sustentáveis e flexíveis”, sublinha

A tecnologia pode reduzir desastres e alavancar a produção do SUSTENTA

O SUSTENTA, programa nacional de integração da agricultura familiar em cadeias de valor produtivas, que tem como o objectivo melhorar a qualidade de vida dos agregados familiares rurais através da promoção de agricultura sustentável (social, económica e ambiental), apareceu como uma grande esperança dos moçambicanos.

Quando uma grande percentagem dos moçambicanos mostram já algum cepticismo em relação ao sucesso do programa, o criador da Variat vê grande potencial no projecto e entende que a tecnologia pode andar de mãos dadas com o que está a ser implementado pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, através do Fundo Nacional do Desenvolvimento Sustentável (FNDS)

“O FNDS, através do SUSTENTA, é potencial cliente porque pode ser melhor veículo para financiar esses tipos de ferramentas que podem ser um grande auxílio para a agricultura familiar, que não tem condições de pagar um serviço como este. Não é só por isso, mas porque este tipo de soluções pode ajudar para que a produção que temos por hectare venha a aumentar e o nível de precisão também aumente. Estamos igualmente num período em que Moçambique tem sido fustigado pelos efeitos das mudanças climáticas, olhamos para este instrumento como um mecanismo mais adequado para quem trabalha com a agricultura que é uma área de risco. Esta solução pode nos ajudar a antever muito rapidamente esses cenários e nos precavermos contra intempéries que temos estado a assistir. Queremos dar exemplos de soluções que permitem antever o que podem causar perdas da produção”, sustenta.

Entretanto, Edson Chiure entende que um dos grandes desafios das empresas do ramo das startups é a resistência das empresas moçambicanas em apostar em novas tecnologias, uma realidade que, no seu entender, tem que ser ultrapassada.

A agricultura de hoje é de informação, sem informação não temos como reagir melhor às intempéries, pragas e outros desafios. As pessoas que têm resistência devem perceber que chegou a hora de mudar perspectivas que não se baseiam em achismo, mas em coisas concretas que nos possam ajudar em soluções concretas. Um dos grandes desafios dos profissionais que trabalham com startups é a resistência, e temos constatado isso ao longo do nosso trabalho. Felizmente, temos sabido contornar essas inquietações que nos são apresentadas pelas empresas, que começam a perceber que este é um caminho irreversível, que vai de encontro com aquilo que são boas práticas, não só em Moçambique, mas em todo mundo. Moçambique não é uma ilha e em algum momento terá que se enquadrar neste processo natural. Olhamos isso não só como um desafio, mas sim como uma oportunidade”, disse Chiure.

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