Evoluímos de País de Ladrões a País de Assassinos

DESTAQUE SOCIEDADE
  • Comunidade Internacional pressiona Governo a esclarecer assassinato de Chamusse
  • Assassinato de Chamusse agita corredores do sector castrense e judiciário
  • Nyusi quer esclarecimento urgente de mais um crime que pinta seu “legado” de sangue
  • As últimas horas de vida de chamusse na voz de testemunhas que com ele privaram

Em Março de 2022, reagindo ao anúncio do retorno das instituições de Bretton Woods do seu retorno para implementação de um Programa de Financiamento Ampliado até 2025, de 470 milhões USD, depois de anos de embargo económico, por causa das dívidas ocultas, o Presidente da República, Filipe Nyusi, desabafou revelando que nalgum momento por onde passava na praça internacional era apelidado de Presidente do País de Ladrões. Quando parecia que finalmente Moçambique tinha recuperado o seu bom nome, eis que uma nova onda de assassinatos de figuras críticas, tendo como o ponto mais alto o assassinato do jornalista e comentador João Chamusse, ameaça fazer evoluir o título de País de Ladrões para País de Assassinos. Com seu “legado” completamente banhado de sangue, desde Gilles Cistac a João Chamusse, Filipe Nyusi terá, segundo apurou o Evidências, ficado irritado com o crime que para a opinião pública visava silenciar mais uma voz crítica, tendo exigido um rápido esclarecimento. Terá sido isso que levou a PRM a, de forma precipitada e numa velocidade jamais vista, apresentar um suposto culpado que neste momento encontra-se detido, enquanto decorrem investigações que podem levar a detenção de mais gente nos próximos dias.

Evidências

“Isso é um grande ganho para nós, eles já nos confiam. Ninguém nos dava nada, após a descoberta das dívidas ocultas, e eu era conhecido como o Presidente do país dos ladrões”, disse Filipe Nyusi, logo após o anúncio da retoma da ajuda do Banco Mundial e do FMI ao Orçamento Geral do Estado.

Na ocasião, Filipe Nyusi mostrou-se algo incomodado com o facto de ter sido conhecido, a dado momento, como Presidente do País de Ladrões. Livrou-se daquele nome pejorativo, mas poderá um dia ser recordardado como o Presidente de País de Assassinos, ou Presidente cujo mandato esteve mais manchado de sangue.

É que o assassinato do jornalista João Chamusse, aparentemente por razões políticas até que se prove o contrário, veio engrossar a lista de personalidades assassinadas simplesmente por dizerem o que pensam no presente ciclo de governação, tais são os casos de Gilles Cistac, Jeremias Pondeca, Anastácio Matavele, só para citar alguns exemplos.

A lista de vítimas silenciadas é extensa e pinta o legado de Filipe Nyusi, que dentro de um ano e alguns meses vai deixar o poder, de sangue e a recorrência com que os factos ocorrem faz já soar os alarmes da comunidade internacional, ou seja, o mundo está a observar o País de Assassinos e já começou a reagir.

Com grande cobertura na imprensa nacional e internacional, o assassinato do jornalista João Chamusse chamou a atenção de grandes organismos internacionais, como é o caso do Observatório para a Protecção dos Defensores dos Direitos Humanos, uma parceria da Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH) e da Organização Mundial Contra a Tortura (OMCT), solicita uma intervenção urgente das autoridades moçambicanas para o esclarecimento das circunstâncias do assassinato de Chamusse.

“O Observatório condena veementemente o assassinato de João Chamusse e insta as autoridades de Moçambique a realizarem investigações imediatas, completas, imparciais e transparentes sobre este assassinato, para identificar todos os responsáveis, levá-los perante um tribunal independente e sancioná-los conforme previsto pelo a lei, bem como esclarecer o real motivo deste crime. O Observatório também insta as autoridades de Moçambique a promoverem e respeitarem, em todas as circunstâncias, os direitos fundamentais à liberdade de imprensa e de expressão, consagrados nos artigos 19.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos e do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e no Artigo 9 da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos”, sustenta.

O Observatório recorda que muitos ataques ou detenções arbitrárias contra jornalistas, liderados por agentes de segurança ou funcionários do governo, foram relatados nos últimos anos em Moçambique.

Comité Internacional de Protecção de Jornalistas exige investigação com credibilidade

O Comité para a Protecção dos Jornalistas apela às autoridades de Moçambique para que investiguem exaustivamente o assassinato do jornalista João Chamusse à porta da sua casa.

“O CPJ está profundamente perturbado com o assassinato do proeminente jornalista moçambicano João Chamusse e apresentamos as nossas condolências à sua família, amigos e colegas”, disse Muthoki Mumo, representante do CPJ na África Subsaariana, em Nairobi.

“As autoridades moçambicanas devem investigar com urgência e credibilidade o assassinato de Chamusse e o seu motivo, e garantir que os responsáveis sejam responsabilizados”, defende a CPJ, que diz ter tentado entrar em contacto com o comandante-geral, Bernardino Rafael, mas sem sucesso.

Por seu turno, a Amnistia Internacional, através do seu director regional adjunto para a África Oriental e Austral, Khanyo Farisé, condenou o deplorável assassinato de Chamusse, que no seu entender ocorre no meio de uma perturbadora onda de ameaças de morte, intimidação e assédio de jornalistas em Moçambique, que visa silenciar a dissidência antes das eleições gerais do próximo ano.

“As autoridades moçambicanas devem conduzir uma investigação rápida, completa, imparcial, independente, transparente e eficaz sobre o assassinato, bem como garantir que os suspeitos de serem responsáveis sejam levados à justiça num julgamento justo. A família de João Fernando Chamusse deve ter respostas e acesso à justiça e a recursos eficazes. O governo moçambicano deve defender os direitos humanos de todos e enviar uma mensagem clara de que quaisquer ataques aos direitos humanos, incluindo o direito à liberdade de expressão e à liberdade dos meios de comunicação social não serão tolerados. Os jornalistas e os meios de comunicação social em Moçambique não devem ser visados por realizarem o seu trabalho legítimo”, exige a Amnistia Internacional.

Nyusi exigiu uma investigação rápida ao crime

Com o seu nome associado a dois mandatos marcados por quase uma dezena de assassinatos de figuras políticas, jornalistas, académicos e activistas sociais considerados críticos ao regime, Filipe Nyusi, em fim do segundo mandato, terá ficado irritado com o anúncio da morte de João Chamusse.

Segundo o que o Evidências apurou, Nyusi terá orientado ao Ministério do Interior e a Procuradoria-Geral da República para investigarem a morte do jornalista e esclarecerem rapidamente, para tentar afastar a sua imagem de mais um crime que pinta o seu ciclo de dois mandatos de governação de sangue.

Terá sido em cumprimento deste repto que a PRM, em tempo recorde, promoveu a detenção de um suspeito já apresentado publicamente, mas cuja narrativa não caiu bem na opinião pública. Mas investigações continuam com envolvimento do SERNIC e da PGR, falando-se da detenção de mais um cidadão, mas que desta vez não foi apresentado.

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