Felisberto S. Botão
Tenho que adicionar esta nota, que surge depois do artigo pronto, devido a novos desenvolvimentos na guerra Israel-Palestina. O Congo Democrático, e nenhum outro país africano, não deve cometer o erro de entrar num acordo com Israel para receber palestinos evacuados de Gaza, este é um problema adicional para o povo sofrido do Congo e de África, por problemas causados por outros. Os palestinos têm terra, e é lá onde devem permanecer, e se tiverem que sair, devem ir para europa ou estados unidos de américa.
Parafraseando Vladimir Putin, presidente da Federação Russa, falando com seus oficiais do exército, as negociações internacionais serão conduzidas na defesa dos nossos interesses nacionais. Para isso, precisamos de forças armadas fortes, fiáveis, bem armadas e motivadas. Para ter este tipo de forças armadas, precisamos de uma economia forte, um funcionamento estável da indústria em geral, e do complexo industrial militar em particular e, o mais importante, contar com as pessoas do país, localmente e no estrangeiro. No final ele remata, querendo realçar que Rússia hoje tem FORÇA, vocês hoje têm tudo isso, e a mãe pátria espera a vossa retribuição.
Esta citação é também uma forma de lembrar a liderança africana que a Rússia será sempre o melhor parceiro que qualquer nação europeia ou estados unidos da américa. A Rússia nunca esteve envolvida em nenhum dos sofrimentos africanos, desde a escravatura, a colonização, a guerra civil, a neocolonização, o terrorismo e as pandemias, e o ocidente esteve a frente de todos eles. Como podemos estar em dúvida com quem associar-nos? Em várias ocasiões a Rússia deu-nos suporte para libertar-nos do ocidente, e até hoje continua a estender a mão, mas o apego pelo colono, ainda deixa alguns líderes africanos atraídos por aquele que a única agenda que têm é destrui-lo de alguma forma. Como compreender esse desvio psíquico? Como podemos confiar ajuda de alguém, para resolver um problema, se ele é o causador do problema em primeira mão?
“Você não pode apertar a mão com o punho cerrado”, famosa citação da Indira Gandhi, antiga primeira ministra indiana, mas hoje o Ibrahim Traoré, presidente de transição do Burkina Faso desde 21 de outubro de 2022, está a mostrar que podemos sim, e depois de tanto nos terem faltado com a palavra, talvez tenhamos que adoptar o “aperto de mão com punho cerrado” como a maneira africana, quando navegamos a geopolítica internacional, e principalmente com o ocidente.
A geopolítica internacional é um exercício de conquistas e concessões, baseados na defesa dos altos interesses nacionais, que são os pontos de vantagem competitiva, que o país define em função de factores como a sua localização, recursos, população, história, etc. A África no geral precisa primeiro resolver esta equação de interesse nacional, com apropriação popular, e depois passar pela preparação da sua FORÇA, que é a combinação estratégica dos factores acima, para poder negociar em pé de igualdade na plataforma internacional da geopolítica. Não há nada que substitua a FORÇA, na geopolítica internacional.
Quais seriam, neste momento, os interesses nacionais que a África deveria levantar como bandeira?
Controlo da produção do seu alimento, de suas sementes, de seus remédios e sua roupa; Controlo dos seus recursos naturais; Controlo da sua moeda e sistema financeiro; Controlo do seu comércio interno e externo; e Controlo da defesa do seu território.
Todas estas matérias que citei acima não estão sob controlo de nenhum governo africano, o que pressupõe nações não independentes. Entretanto, as nações externas que têm este controlo, essencialmente a europa e os estados unidos da américa, não estão dispostas a transferir pacificamente o controlo, pelas vantagens económicas que isso representa para elas e suas populações, e a sua sobrevivência colectiva.
Portanto, se África quiser recuperar este controlo de seus interesses, terá que passar por complexas negociações com o sistema imperialista europeu e americano, ou ir a guerra com o mesmo. Só são duas opções disponíveis.
Para qualquer das opções que temos em mãos, a citação do Putin enquadra-se perfeitamente. Se você quiser defender seus interesses, deverá preparar-se de forma apropriada, discreta e sem medo, para construir força. Mas como África não quer guerra, deve preparar-se para a negociação com os neocolonialistas, mas em posição de força.
Em que matérias a África deve preparar-se nos próximos 10 anos?
- Aumentar a pressão da sociedade civil e das associações empresariais contra o governo do dia, para que este reduza a interferência excessiva dos agentes europeus e americanos (ONGs, apoio ao orçamento do estado, apoio a democracia, apoio ao orçamento da UA, apoio a legislação e aos direitos humanos, multinacionais, etc.), para permitir que decisões locais sejam tomadas.
- Passar para os governadores provinciais a tarefa de produzir comida para a autossuficiência da província, tornando-se esta a sua principal função, junto com as questões sociais, tais como a instalação da disciplina e cobertura territorial da educação e saúde.
- Renegociar todos os contratos da indústria extractiva, onde as empresas estatais como a ENH em Moçambique, tomam a responsabilidade e titularidade nos negócios. Os investidores estrangeiros devem ser transformados em parceiros de investimento, onde a busca de financiamento no sistema financeiro e tomado conjuntamente, pela ENH e pelo investidor externo, onde o recurso em si entra como colateral para o ENH. O investidor estrangeiro é que precisa de outros activos para usar como colaterais na banca internacional. Isso permitiria que os estados africanos aumentassem a sua participação para pelo menos 40%, deixando 5% para a comunidade local, com a sua integração directa na estrutura societária do investimento, outros 5% para o resto de cidadãos moçambicanos, através da bolsa de valores, e os restantes 50% para os diversos investidores externos.
- Promoção de exércitos regionais, colaborativos, que actuam através de comandos coordenados, com não menos que 4 países. Exemplo, Africa do Sul, Moçambique, Swazilândia, Lesotho, Zimbabwe, Madagáscar, Ilhas Reunião, Maurícias e Comores, podem perfeitamente ter um exército único. Isso permitiria criar blocos de segurança que iriam inibir o bullying dos imperialistas europeus e americanos, conflitos regionais e desencorajaria o terrorismo e insurgências.
- Canalizar investimento significativo em centros regionais de inteligência, tecnologias e astronomia, para servir os países associados, e África no geral.
- Ensinar os contornos do Neocolonialismo desde o segundo ciclo, ou seja, 6ª Classe, até a 12ª Classe, e identificar claramente os mentores, que são todas as antigas potências coloniais, sem excepção. Encorajar teses de licenciatura e doutoramento em Neocolonialismo e formas de os combater, que deverão sempre ser tomados como teses de honra, e as suas conclusões merecerem atenção do estado.
- Dar maior relevância no mercado aos bancos nacionais, que devem pelo menos representar 2/3 do universo existente, não só na perspectiva de quantidade, mas também, na fasquia de mercado, em termos de volume de negócio, o que vai assegurar estabilidade do mercado contra choques financeiros externos.
- Uma instituição de rating pan-africana deve ser estabelecida, uma função que pode ser desempenhada por uma unidade especializada, participada pelos bancos centrais dos países africanos.
- Empoderamento de bancos africanos de desenvolvimento, tais com o BAD, BAI, AFREXIMBANK, entre outos, com estruturas societárias que não devem dar abertura para que África não tenha o controlo dos mesmos, para que sejam verdadeiramente africanos e sirvam os interesses de África. As necessidades de capital dos países africanos devem ser supridas por estes bancos africanos, e os estados africanos devem recorrer a estes para os seus investimentos. Em caso de necessidade de injecção extra de capital, são estes bancos que devem recorrer a instituições externas, como o Banco Mundial, Banco Árabe, etc., e não os países africanos singularmente.
- Abrir canais sólidos, com benefícios e legislação forte, para investidores africanos na diáspora, incluindo aqueles com nacionalidade estrangeira, por factores históricos, para atrair o capital que eles detêm, para as vastas oportunidades que África possui.
Para que tudo isso aconteça, precisamos de pessoas que amam a sua terra, e saibam retribuir à mãe pátria, HOMEMS que ultrapassam os traumas da opressão, mas não esquecem a vingança que ficou por vingar, e de quem se vingar, que fazem a guerra como último recurso, mas com visão do amanhã, com visão de nação, com visão de família, que sejam íntegros, pacientes e respeitem a individualidade, a diversidade e a coisa de terceiros, principalmente a coisa pública, qualidades que precisam para adquirir a FORÇA de negociar a favor do seu povo e de sua nação.
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