Longe das polêmicas, Florindo Nyusi é defensor de causas sociais e da igualdade do género

DESTAQUE SOCIEDADE
  • O outro lado (oculto) do filho mais famoso do Presidente da República
  • Florindo Nyusi olha para o empoderamento como arma para erradicar as uniões prematuras
  • “Como jovens empresários temos que ser mais activos na luta contra todas as formas de violência contra a mulher e rapariga”
  • “Temos que fazer parte da mudança e enaltecer o papel das mulheres no nosso país”

Nos dias actuais, a igualdade de gênero ainda não consta no topo da agenda empresarial, havendo ainda desafios, sobretudo no que concerne ao acesso igualitário às oportunidades entre homens e mulheres no acesso à educação e no mercado do trabalho, para além dos já conhecidos dilemas da violência doméstica e uniões prematuras que continuam a roubar sonhos de muitas mulheres e raparigas. Conhecido pelo grosso dos moçambicanos pelas suas “vibes” e fama de exageros, Florindo Nyusi abriu as portas ao Evidências para mostrar um lado desconhecido pela grande maioria. Com uma eloquência invulgar, o filho mais conhecido do Presidente da República é, afinal, um exímio defensor dos direitos da mulher e promotor da igualdade de género. Numa curta entrevista concedida à margem da Conferência Internacional sobre Igualdade de Gênero em África havida em Maputo, semana passada, defendeu que o empresariado nacional deve ter no topo das suas agendas a criação de iniciativas que visam empoderar a mulher com vista a ter um país livre das uniões prematuras. Por outro lado, Florindo Nyusi instou aos jovens empresários para serem mais activos na erradicação de todos os tipos de violência contra mulher e rapariga no país através de iniciativas de empoderamento.

Esneta Marrove

Apesar de vários esforços do governo e parceiros e da existência de um quadro legal que define algumas das formas da violência contra as mulheres e raparigas como crime e que as penaliza, em Moçambique, a violência contra as mulheres e raparigas continua em níveis preocupantes, sendo as práticas mais comuns a agressão física; a violência sexual e patrimonial; as uniões forçadas de raparigas e outras formas de violência e práticas discriminatórias que atentam contra a liberdade e a autonomia das mulheres e raparigas, atingindo a sua integridade física, psicológica e a sua dignidade.

Só para se ter uma ideia, no ano passado, o país registou de Janeiro a Setembro, cerca de 11.300 casos de violência doméstica, dos quais 82 por cento contra mulheres e crianças. Enquanto isso, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que quatro em cada 10 raparigas já estiveram numa união prematura, ou seja, antes dos 18 anos, o que mostra uma prevalência de cerca de 35 por cento.

O empoderamento feminino é apontado como um instrumento imprescindível para a erradicação das uniões prematuras, uma vez que através do mesmo as mulheres e raparigas terão poder de participação social e, por via disso, podem estar cientes sobre a luta pelos seus direitos nos campos sociais, políticos e económicos.

Pouco dado a entrevistas, no entanto, conhecido por sua polémica vida faustosa que de quando em vez chama atenção dos holofotes, o filho do Presidente da República e destacado empresário moçambicano, Florindo Nyusi, é, afinal, uma pessoa de causas e com um discurso eloquente na defesa dos direitos da mulher e igualdade do género.

Numa breve entrevista ao Evidências, à margem da Conferência Internacional sobre Igualdade de Género em África ocorrida em Maputo, semana passada, Florindo Nyusi destacou a necessidade de empoderamento da mulher com vista a acabar com todos tipos de violência contra a mesma em Moçambique.

“Como jovens empresários temos que ser mais activos na luta contra todas as formas de violência”

Nyusi reconhece que há esforços que estão a ser envidados pelo Governo e parceiros da sociedade civil com vista à retenção da rapariga nos estudos, tendo destacado ainda as iniciativas que visam apoiar as mulheres que fazem pequenos negócios. No entanto, defende que é preciso fazer mais pelo empoderamento das mulheres, daí que convida o empresariado nacional para abraçar a causa.

“Não podemos esperar apenas o Governo e as Organizações Não Governamentais tomarem iniciativas para ajudarem as mulheres. Como empresários podemos fazer a diferença na sociedade e tornar essas mulheres e raparigas independentes financeiramente. Temos que fazer parte da mudança e enaltecer o papel das mulheres no nosso país”, disse Florindo Nyusi.

O jovem empresário cuja mãe, a primeira dama da República, Isaura Nyusi, é a principal patrona da luta contra a violência e desigualdade de género, defende que a classe empresarial pode juntar-se aos esforços do governo e outros actores, investindo no empoderamento das mulheres.

“Se cada jovem empresário tirasse um pouco do que ganha para levar aquela menina da zona rural à escola, seria possível devolver o sonho de muitas raparigas, mostrando, em primeiro lugar, que é através dos estudos e não no lar que elas podem vencer na vida. Com mais raparigas formadas, informadas e empoderadas, teríamos um país livre de uniões prematuras e gravidezes precoces. Como jovens empresários temos que ser mais activos na luta contra todas as formas de violência contra a mulher e rapariga. O empoderamento pode ser uma arma letal nesta guerra”, disse Florindo Nyusi.

Nas entrelinhas, Florindo Nyusi defendeu que é preciso criar projectos a longo prazo, de modo a evitar que as raparigas casem prematuramente e, por outro lado, apelou aos demais jovens empresários e à sociedade civil para protegerem a mulher de todo o mal do mundo.

“O que acontece é que dos poucos empresários que têm criado iniciativas para ajudar mulheres no nosso país apenas fazem em datas específicas e a curto prazo, o que faz com que estas mesmas voltem a aquelas uniões por falta de comida e, consequentemente, sofram todo tipo de violência e acabem mortas. É necessário pensarmos em projectos de longo prazo e deixarmos de olhar apenas para o valor que vamos gastar, mas sim em quantas mulheres e raparigas vamos ajudar. Olhemos para elas com respeito e admiração, porque afinal de contas elas é que nascem grandes empresários, professores, engenheiros e muito mais”, declarou.

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