Um suicida que implodiu Ossufo Momade para abrir espaço para eleições no partido

DESTAQUE POLÍTICA
  • Sobrevivência política do V. Mondlane dependente da derrota de OM nas internas
  • Anos de militância afastam Venâncio Mondlane de concorrer à liderança da Renamo
  • Depois de Venâncio Mondlane, mais candidatos manifestaram vontade de concorrer

O primeiro ciclo de Osssufo Momade na liderança da Renamo terminou no dia 17 do corrente mês de Janeiro, mas antes do término do mandato foi anunciado por José Manteigas como candidato para as próximas eleições gerais, o que de certa forma criou uma onda de indignação no seio do partido. Em sua aparição “rebelde”, Venâncio Mondlane, que até a data era assessor político de Ossufo Momade, recorreu a imprensa para anunciar sua pretensão de concorrer à liderança, uma decisão suicida, que foi interpretada pelos menos incautos como estratégia de pressão para Renamo ceder às eleições internas. Ao que tudo indica, a estratégia pode ter funcionado, o partido abriu-se e mais candidatos anunciaram a pretensão de participar da corrida, mas se Ossufo Momade sobreviver será certa a morte política de Venâncio Mondlane, que vem sendo isolado da Renamo desde que começou a fazer sombra a OM.

Duarte Sitoe

Elias Dhlakama, Manuel de Araújo e Venâncio Mondlane apontaram que o anúncio de Manteigas viola os estatutos da perdiz, visto que o candidato presidencial é chancelado pelo Congresso, tendo lançado críticas à actual liderança do partido. Enquanto Manuel de Araújo pondera avançar para a liderança do maior partido em Moçambique, Elias Dhlakama e Venâncio Mondlane assumiram que vão enfrentar Ossufo Momade nas próximas eleições internas. Na mesma corrida, decidiu entrar Juliano Picardo, antigo deputado e actual membro do Conselho de Estado.

Volvidos alguns dias depois de anunciar a sua candidatura, Mondlane foi afastado do cargo de assessor político de Momade e, por outro, perdeu o cargo de relator da Bancada Parlamentar da Renamo na Assembleia da República para Arlindo Bila.

No entanto, apesar da vontade, Mondlane vê agora seu nome excluído da lista dos adversários de Ossufo Momade pela liderança da perdiz pelo facto de não ter 15 anos de militância no partido.

O anúncio de que OM será, mais uma vez, candidato presidencial atiçou a rivalidade entre Mondlane e o partido, e já não se disfarça o clima de tensão entre a actual direcção da Resistência Nacional de Moçambique e Venâncio Mondlane. Mondlane foi o primeiro a contestar o facto tornado público por José Manteigas fora dos órgãos e sem poupar o verbo.

“Ele não afirma que Ossufo Momade é potencial candidato à sua sucessão, salta esta etapa e avança que é candidato às eleições presidenciais, logo está a assumir que o Conselho Nacional e o Congresso já não têm absolutamente nenhum poder cognitivo em relação a essa matéria. É uma grave violação da própria ética da Renamo. Para alguém ligado ao direito, provavelmente ele não fez curso de direito, provavelmente ele tenha feito recurso de direito porque quem tenha feito o curso no primeiro ano saberia que o que foi dito foi mais emocional do que jurídico (…) O doutor Carlos Serra chamava a isso de Síndrome de imunodeficiência doutoral”, declarou Venâncio Mondlane, para depois instar o Conselho Nacional a abrir um processo disciplinar contra Manteigas por ter entrado na onda de declarações francamente ilegais e irregulares.

“Em rigor, o doutor Manteigas usurpou as competências do Conselho Constitucional e quando ele começa a falar de aspectos particulares de um candidato ou de outro candidato. Quando fala de aspectos disciplinares de potenciais candidatos ele usurpa as competências do Conselho Nacional de Jurisdição que tem competências para tratar das competências de disciplina interna. O doutor Manteiga usurpa as competências do Conselho Nacional e também do Congresso, sendo assim quem realmente violou os estatutos, quem violou as normas internas foi justamente o doctor Manteigas. Penso que em rigor o conselho nacional de jurisdição devia abrir processo contra ele”.

No contra-taque, José Manteigas, que nos últimos dias tem sido o menino de recados de OM, respondeu à letra, referindo que não basta ser cabeça-de-lista nas eleições autárquicas para ser melhor que Ossufo Momade.

“Só porque tivemos um grande resultado em Maputo quer dizer que o candidato é melhor que o Presidente, aquele que ratificou a sua indicação para a Cidade de Maputo? E aqueles outros, onde nós ganhámos, não têm capacidade? Quando se diz que Venâncio tem de ser o candidato, ouviram aonde, onde foi deliberado? Mesmo estes analistas ouviram em que órgão que Venâncio tem que ser candidato?”, questionou.

Venâncio Mondlane não verga, nem com intimidações

Depois da troca de palavras com o porta-voz do maior partido da oposição em Moçambique, Venâncio Mondlane escalou o município de Nacala Porto para anunciar a sua candidatura à liderança da Renamo.

“Estou aqui para anunciar, aqui na República de Nacala, onde ainda consigo sentir na atmosfera a presença dos ideais do primeiro comandante em chefe das forças da Renamo, queria anunciar que, dentro dos direitos que me conferem e que conferem a todo membro do partido, venho anunciar abertamente, olho nos olhos, sem hesitação, sem piscar no olho, sem medo, sem tremer o cabelo, sem olhar para esquerda e nem olhar para a direita, mas olhando para frente, quero anunciar que eu, Venâncio Mondlane, membro sênior do partido, venho anunciar que estou disponível e que vou avançar para a presidência da Renamo no próximo Congresso”, anunciou Mondlane para o gáudio dos militantes da perdiz que se encontram no local.

Apesar da vontade já expressa publicamente, para além da oposição da actual direcção da Renamo, o cabeça-de-lista do maior partido da oposição na Cidade de Maputo nas VI Eleições Autárquicas poderá ver o seu nome riscado na corrida eleitoral devido aos anos de militância.

Em 2018, quando o maior partido da oposição procurava o sucessor de Afonso Dhlakama, a mesa do Conselho Nacional da Renamo determinou que apenas os militantes com mínimo 15 de militância e que entre outros requisitos tenham sido combatentes da luta pela democracia é que eram elegíveis para lutar pela liderança do partido.

Olhando para o perfil do candidato à presidência da Renamo apresentado pela Mesa do Conselho Nacional em 2018, Venâncio Mondlane será excluído da lista dos candidatos, uma vez que o mesmo ingressou no maior partido da oposição em Junho de 2018.

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