Estratégia de Ossufo Momade para se manter na liderança poderá ser reduzida em cinzas no Conselho Nacional

POLÍTICA
  • Sobrevivência do líder da Renamo está nas mãos dos 100 membros
  • Membros do Conselho Nacional têm legitimidade para chumbar estratégia de Momade

A marcação da reunião do Conselho Nacional da Renamo para a primeira semana de Abril próximo faz parte da estratégia da liderança actual da perdiz para esvaziar qualquer possibilidade de marcação do Congresso daquele partido em tempo útil de poder eleger um novo candidato para as eleições de 09 de Outubro, tal como tem sido ansiado por parte dos membros do partido e simpatizantes. Basicamente, a estratégia está orientada no sentido de se chegar ao Conselho Nacional e evocar-se falta de tempo para eleições internas e, assim, impor-se a Ossufo Momade como candidato presidencial. Contudo, há possibilidade do tiro sair pela culatra para a ala Momade, uma vez que para a façanha avançar seria necessário um consenso por parte dos membros, algo que se antevê difícil pela actual temperatura interna no seio da Renamo. Sem consenso, os estatutos impõem a obrigatoriedade de votação das propostas por parte dos membros do Conselho Nacional, o que significa que por vontade da maioria as maquinações da liderança da Renamo podem cair por terra e abrir-se espaço para outros candidatos.

Duarte Sitoe

Numa conferência de imprensa sem direito a perguntas, o porta-voz da XXX Sessão Ordinária, a Comissão Política Nacional do maior partido da oposição em Moçambique, Alfredo Magumisse, referiu que no topo da agenda da reunião que decorreu no gabinete de Ossufo Momade estava a preparação para as eleições gerais, marcadas para Outubro do ano em curso.

Magumisse revelou que a Comissão Política Nacional decidiu marcar para a primeira quinzena de Abril o Conselho Nacional, instruir o secretariado geral para criar as condições logísticas para o evento e criar brigadas para os trabalhos em províncias.

Em termos práticos, compete ao Conselho Nacional, dentre outras atribuições, marcar as datas do Congresso, evento que em princípio devia se realizar nos primeiros meses do presente ano, para dar lugar ao cumprimento do calendário eleitoral.

Tendo isso em mente, propositadamente e de forma estratégica, a direção do partido decidiu arrastar com a barriga a actual crise e marcar o Conselho Nacional para Abril, um período no qual vai alegar falta de tempo, tendo em conta que o prazo para a apresentação das candidaturas será apertado.

A decisão da Comissão Política Nacional não caiu bem em alguns proeminentes militantes da Resistência Nacional de Moçambique. Segundo o que o Evidências apurou, os militantes da perdiz esperavam que aquele órgão marcasse entre Fevereiro e Março o Conselho Nacional para que este tenha tempo de organizar o Congresso.

O tiro pode sair pela culatra para Momade e companhia

Dentro do maior partido da oposição não restam dúvidas que a Comissão Política Nacional escolheu o mês de Abril com o claro propósito de legitimar a candidatura de Momade, uma vez que depois desta reunião poderá não haver espaço para a realização do Congresso porque o partido deve se preparar afincadamente para as VI Eleições Gerais que terão lugar no dia 09 de Outubro.

O Conselho Nacional da Renamo é composto por 100 membros, mas pode ser alargado a outros quadros que poderão ter direito à palavra, mas sem direito a voto, segundo os estatutos da perdiz.

É a este órgão que vai se apresentar a proposta de continuidade de Ossufo Momade por imperativo do tempo, mas esta estratégia só deverá passar se for homologada por consenso, o que se mostra completamente difícil, tendo em conta o ambiente de descontentamento e desconfiança em relação à liderança actual.

Sem consenso, a proposta de continuidade de Momade, que tem sido uma aposta apoiada por corredores da Frelimo, será submetida à votação. É aqui onde pode ser reduzida em cinzas a empreitada da ala Ossufo Momade, visto que em caso de um grupo de membros, por mais que esteja em minoria, não concorde com as propostas que serão apresentadas por aquele órgão terá que haver uma votação.

Um quadro sénior da perdiz afiançou ao Evidências que nada está perdido e que a atitude denunciada da liderança do partido só serve para que os desafiantes ganhem tempo para se prepararem melhor para o embate conhecendo a principal manobra e truques do seu oponente. O desafio dos oponentes de Ossufo Momade é de simplesmente mobilizarem os membros do Conselho Nacional para chumbarem a estratégia e imporem a realização de eleições.

Aliás, a fonte que temos vindo a citar duvida que o ambiente interno actual possa mudar até Abril, até porque se chegou-se a este nível de crise em que a Renamo se encontra, com o líder a ser contestado, é porque algo falhou e pode voltar a falhar.

Refira-se que o anúncio da candidatura presidencial de Ossufo Momade antes da realização do congresso abriu fissuras dentro da perdiz. Venâncio Mondlane e Manuel de Araújo foram os membros da Renamo que vieram ao público repudiar a revelação do porta – voz do partido, José Manteigas, referindo que a mesma é ilegal porque àquela força política prima pela democracia.

Elias Dhlakama, Juliano Picardo, Venâncio Mondlane e Sandura Ambrósio já tornaram público que serão adversários de Momade nas próximas eleições internas, mas depois da decisão do Conselho Nacional há dúvidas sobre a existência de espaço para eleições.

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