- Membro sénior do MDM e antigo cabeça-de-lista coloca a boca no trombone
- “Se formos assim para as eleições gerais será a morte do MDM”
- “O MDM não pode ser um partido antidemocrático e fugir dos princípios do Daviz Simango”
- Navalha diz que os partidos da oposição não têm visão clara sobre o processo da democracia
Nas VI Eleições Autárquicas, realizadas em Outubro de 2023, tal como aconteceu no pleito realizado em 2018, o Movimento Democrático de Moçambique triunfou apenas na Cidade da Beira. A decadência daquela que é considerada a terceira maior força política do país preocupa os seus militantes. A título de exemplo, Agnaldo Navalha, que fala em nome dos jovens do partido fundado por Daviz Simango, observa que o MDM está doente e, por isso, exige com carácter de urgência uma reunião de quadros para evitar o desaparecimento do mesmo na arena política nacional. Com vista a reverter o actual cenário, Navalha, que já foi cabeça-de-lista do MDM em Xai-Xai, diz que Ossufo Momade e Lutero Simango foram consumidos pela inércia, chegando a parecer membros da Frelimo.
Duarte Sitoe
O Movimento Democrático de Moçambique festejou com pompa e circunstância a vitória na Cidade da Beira nas VI Eleições Autárquicas. No entanto, mesmo com o triunfo naquela cidade que é considerada o bastião do MDM, Agnaldo Navalha não tem dúvidas que o partido está doente.
Para suportar a sua tese, Navalha lembra que “galo” foi a primeira formação política a vencer nas autarquias que durante largos anos estiveram nas mãos do partido no poder.
“A saúde do MDM não está boa porque logo no princípio o MDM foi um partido que tinha quatro municípios, Beira, Nampula, Quelimane e Guruè. Era expectante que pelo nível de desorganização que Frelimo e a Renamo tem MDM saísse com dois ou mais municípios. O MDM foi o primeiro partido da oposição a vencer em Quelimane e Guruè. Mostrou aos moçambicanos que era uma verdadeira alternativa. Comparando o antes e depois, não há dúvidas de que o partido está doente”, declarou Navalha, para posteriormente defender que é preciso mudar alguma coisa para revitalizar o partido.
“Temos que mudar o xadrez porque o actual está a mostrar que não está nada bem. Uma equipa de futebol almeja sempre bons resultados e quando isso não acontece alguma coisa deve mudar, ou seja, ou muda-se o treinador ou contrata-se novos jogadores. Os membros do MDM que fizeram resultados em 2012 e 2013 continuam vivos e com a mesma força. Precisamos recuperar os que fizeram história e precisamos mobilizar mais. Uma das coisas que falta ao MDM neste momento é a mobilização. Em 2013, tivemos um boom quando o povo percebeu que Venâncio Mondlane, Silvério Ronguane, Maria Moreno e outros entraram no MDM. Com a nova direcção, todos que faziam parte do elenco de Daviz Simango, ninguém mais ficou, é uma nova máquina, mas não produziu e não resta outra coisa a não ser rever a máquina.
Para mudar o actual cenário e evitar a morte do Movimento Democrático de Moçambique, Agnaldo Navalha sugere que o partido deve ir ao mercado, mas em caso de insucesso nesta incursão aponta para a mudança de liderança.
“Quem faz o jogo são os jogadores, temos que contratar jogadores através da mobilização. Quem deve fazer é a actual liderança, se a actual liderança não aguenta é aí onde trocamos o treinador. E se o treinador não corresponde, depois de algumas trocas, temos que trocar o presidente. Enquanto o partido estiver com está nenhum jogador no Moçambola irá para a segunda divisão, com isso, quero dizer que o partido deve-se organizar. O MDM precisa de reunião de quadros com urgência para revitalizar com a sua máquina associativa e depois ir ao mercado”.
“O MDM não pode ser um partido antidemocrático e fugir dos princípios de Daviz Simango”
Em Outubro do corrente ano, os moçambicanos serão chamados às urnas para escolherem o sucessor de Filipe Nyusi na Ponta Vermelha, sendo que o candidato presidencial do MDM será conhecido em Março.
Olhando para actual situação do partido, Navalha, que acusa Lutero Simango de minar o ambiente no seio do galo, refere que em caso de não haver mudança poderá ser o fim do Movimento Democrático de Moçambique na arena política nacional.
“Se formos assim para as eleições será a morte do MDM. O MDM não pode ser partido que não tem uma máquina pensante. O MDM não pode ser igual a Frelimo. Acredito que se formos como estamos hoje será o fim do MDM. Não teremos um membro na Assembleia da República por Maputo, não metemos nenhum pela Sofala, não metemos nenhum pela Zambézia e por Nampula que são esses os maiores círculos eleitorais que costumam ajudar o MDM para entrar no Parlamento. Nas eleições autárquicas foi o que foi em Maputo, não será possível ter um deputado. Em Niassa não metemos nem um membro na Assembleia Municipal, então quer dizer que será a mesma coisa nas eleições legislativas”.
Reza a história que os líderes dos partidos têm sido os candidatos nas eleições gerais. Na carta aberta que, recentemente, enviou ao líder do MDM, Agnaldo Navalha propõe o nome de Albano Carige, actual edil da Beira como candidato presidencial por entender que é o único que pode evitar a humilhação do MDM.
Aliás, Navalha apoia-se nos estatutos da terceira maior força política do país para lembrar que não é imperioso que o candidato presidencial seja presidente do partido.
“O presidente do MDM é homem maduro e inteligente, está a fazer política antes de eu nascer, mas ele nunca foi candidato a presidente da República. Foi presidente do PCN e foi candidato. Não seria coisa de outro mundo o candidato do MDM não ser o líder do partido. Os estatutos do MDM são muito bem claros. O presidente do partido é eleito no congresso, mas o candidato é eleito dentro do conselho nacional, o que quer dizer que não é obrigatório que o líder seja candidato, os estatutos são claros. O Daviz Simango em nenhum momento disse que era candidato, das duas vezes tivemos que ir ao conselho nacional e por aclamação foi escolhido candidato. O MDM não pode ser um partido antidemocrático e fugir dos princípios do Daviz Simango. Se for ao contrário podemos depor o presidente chamando um congresso extraordinário porque ele não estará a cumprir as normas estatutárias”.
Actualmente, se por um lado a Renamo activou, mais uma vez, o modo desorganização, a Frelimo, apesar de ter vencido em 60 das 65 autarquias nas VI Eleições Autárquicas, vive uma das piores crises da sua história.
Navalha diz que 60% dos membros aprovam Albano Carige como candidato presidencial
“Este é o momento ideal para a posição governar, e o MDM, em particular, tinha que aproveitar muito deste cenário. Para aproveitar este cenário, o MDM precisa voltar ao que era no passado. Será pela primeira vez que o candidato da Frelimo vai percorrer o país em poucos meses. MDM tem de aproveitar ao máximo esse aspecto. É preciso trazer um candidato que seja aglutinador da opinião pública, é preciso trazer alguém que conhece um pouco de gestão, é preciso que seja alguém que esteja a fazer alguma coisa. Na minha carta propunha o Albano Carige, mas não sou o único, acima de 60% dos membros do partido com direito a opinião comungam da mesma ideia embora estejam silenciados, mas apoiam esse nome.
Se não for o Carige, precisamos de encontrar no mercado nacional alguém que possa ajudar o MDM. O MDM deve ter uma inteligência suficiente para aproveitar-se da aparente fragilidade dos seus adversários. Se apresentasse agora esse candidato teria maior atenção da opinião pública porque seria antes do conselho nacional da Frelimo e da Renamo. O MDM já devia estar a preparar o seu candidato a um ano e estar a percorrer o país para ser conhecido pelo eleitorado”.
“Ossufo Momade e Lutero Simango estão a ser controlados pela Frelimo”
As VI Eleições Autárquicas são consideradas as mais fraudulentas da história da jovem democracia moçambicana. Os órgãos da administração eleitoral que validaram a vitória da Frelimo mesmo com todos os indícios de fraude serão os responsáveis pela organização do pleito que vai eleger o novo Presidente da República, Governadores e os representantes do povo na Assembleia da República.
No entender de Agnaldo Navalha, os partidos da oposição devem vender os melhores projectos para merecerem o voto dos moçambicanos e deixar as queixas de fraude para os observadores e comunicação social.
“Para ter eleições livres e transparentes talvez podemos emprestar a ideia da África Sul, onde é a sociedade civil que prepara eleições. Nossos partidos não estão preparados para discutir o processo eleitoral, não tem uma visão clara do processo de democracia, é por isso que a Frelimo faz e desfaz. Se o MDM e Renamo tivessem projectos claros por mais que houvesse fraude a população teria votado e bem. Na beira e Quelimane houve fraude, mas a Renamo e o MDM ganharam. Como partidos temos que deixar assuntos de fraude para a população, comunicação social e observadores. Precisamos rever as estratégias. Essa música de fraude irrita os ouvidos, a crise que a Renamo tem vai se reflectir no processo eleitoral e no MDM idem”.
Nas entrelinhas, Agnaldo Navalha aponta que os líderes da Renamo e MDM são gêmeos devido a inércia que os caracteriza.
“Se não consegues resolver assuntos da tua casa não tens como resolver na casa do vizinho. Automaticamente não tens capacidade para discutir assuntos das comunidades e da nação. Parece que a Frelimo controla os candidatos da Renamo e do MDM porque estão na mesma inércia, ou seja, são gêmeos. Ossufo Momade e Lutero Simango são gêmeos, estão a fazer as mesmas coisas. Enquanto Venâncio Mondlane estava a fazer marchas na Cidade de Maputo, Araújo em Quelimane, Novinte em Nacala, em algum momento vimos os proeminentes quadros da Renamo, apenas vimos Ivan Mazanga na Cidade de Maputo a fazer valer o que Dhlakama dizia. Se a Renamo foi roubada é que o MDM também, mas não vimos a liderança do MDM a apoiar as marchas. Tivemos repetição das eleições, mas nenhum dos dois partidos se deslocaram para um dos quatro municípios. Ossufo Momade e Lutero Simango estão a ser controlados pela Frelimo, eles têm rabo preso na Frelimo, por isso não podem fazer nada”.
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