Sector informal tem sido o refúgio das mulheres em Moçambique

SOCIEDADE
  • Para fintar o desemprego
  • Presidente da AT diz que 98 das mulheres estão no sector informal
  • Delúria Serafina e Catarina da Lúcia são exemplos de mulheres que empreenderam para fintar o desemprego

Em Moçambique, apesar dos esforços do Governo e das organizações da sociedade civil, as mulheres ainda enfrentam barreiras no acesso ao emprego. O empoderamento económico tem sido uma ferramenta indispensável para reduzir o índice de desemprego entre mulheres e, por outro, reduzir a vulnerabilidade das mesmas contra todos os tipos de violência. Segundo a presidente da Autoridade Tributária de Moçambique, Amélia Muendane, mais de 98% das mulheres encontram-se no mercado informal. Muendane defende que urge a necessidade da formalização de negócios feitos por mulheres com vista a aumentar ainda mais o número de mulheres empoderadas economicamente. Delúria Serafina e Catarina da Lúcia fazem parte do rol das mulheres que decidiram empreender ao invés de ficar a lamentar pela ineficácia da ausência de política de emprego no país.

Esneta Marrove

De acordo com a presidente da Autoridade Tributária de Moçambique, Amélia Muendane, o sector informal é o que mais contribui na economia moçambicana, sendo que 80% da população informal é composta por mulheres. Nas zonas recônditas, 91% das mulheres exercem actividade informal, enquanto 61% desempenham a mesma actividade nas zonas urbanas.

O empoderamento das mulheres é, segundo Amélia Muendane, importante para a transformação da economia nacional.

“Para a mulher ser empoderada e ser transformada é muito importante que isto comece na família, e é preciso preparar a família para que a mulher seja um factor de transformação e seja um activo para a nossa economia”, disse Muendane.

A presidente olha para educação como um dos factores-chave para o empoderamento da mulher, por isso que as mesmas devem ser incentivadas a irem à escola, de modo que o país alcance o desempenho económico almejado.

“É preciso que a mulher tenha espaço na sociedade para ser parte integrante dos processos de transformação, temos que acabar com todos estereótipos que enfraquecem a posição da mulher, e para isto acontecer é necessário que o estado moçambicano tenha políticas específicas que assegurem a posição da mulher na sociedade”, declarou.

Para fintar o desemprego e os preconceitos sociais, as mulheres apostam no empreendedorismo para alcançar a independência financeira. Delúria Serafina decidiu abrir o seu próprio negócio ao invés de ficar a lamentar pela ineficácia da ausência de política de emprego no país.

A relação de Serafina com o empreendedorismo inicia na tenra idade, uma vez que desde os seus 12 anos de idade tinha paixão pelas panelas, o que actualmente é garante da sua independência financeira.

“Quando criança observava minha prima fazendo chamussas, rissóis e alguns doces. Depois passou a vender na escola e no bairro. Fiquei apaixonada pela forma que ela confeccionava aqueles produtos e decidi que quando crescer queria seguir os passos dela”, contou.

Segundo Serafina, a força e a determinação que a prima tinha era o que mais precisava para chegar longe e alcançar seus objectivos. “Ela acordava muito cedo, todas manhãs íamos vender e conseguia comprar suas coisas. Graças a isso conquistou quase tudo que ela queria. A determinação dela me inspirou e decidi seguir o mesmo caminho”.

Serafina, já no mercado há três anos, conta que com o dinheiro que ganha através da confeitaria consegue pagar os seus estudos. “Graças a este negócio consigo pagar o curso que estou a fazer, de saúde materno-infantil. Nunca me faltou sequer uma mensalidade porque faço de tudo para não ter dívidas, e com esse dinheiro compro outras coisas para mim”, contou.

Fora o sonho de ser enfermeira, a nossa fonte espera um dia investir ainda mais no mundo da confeitaria. “Quero muito ter uma empresa de referência no país, aquela que todo mundo vai recomendar por ter os melhores bolos, doces ou salgados”, declarou.

Para alguns, no mundo dos confeiteiros há desafios, porém a nossa entrevistada, que incentiva as mulheres a abraçarem o empreendedorismo com vista a conseguirem a independência financeira, refuta essa ideia, referindo que procura a cada dia que nasce fazer o melhor para os seus clientes.

“Em todas nós existe uma arte na mão que podemos aproveitar e tornarmo-nos independentes”

Por seu turno, Catarina da Lúcia, costureira há dois anos, contou ao Evidências que antes de abraçar esta actividade nunca sonhou em fazer roupas para as pessoas, mas a falta de emprego depois de fazer o curso de sociologia a fez deixar de lado o seu sonho para empreender.

“Fiz o curso de sociologia há cinco anos, logo que graduei procurei por oportunidades, mas como já sabe, poucos trabalham na área de formação, por isso tomei iniciativa de conhecer novas áreas e a costura foi a que mais rápida trouxe-me lucros”, contou.

Diferente da Delúria, Catarina inspirou-se na sua mãe, que há 20 anos costura, aliás, foi através desse negócio que a sua mãe a criou junto dos seus três irmãos, segundo a fonte que em tenra idade ajudava a mãe a cortar os tecidos.

“Para mim era uma simples ajuda e me divertia imenso, mas com o desemprego a minha mãe e meu irmão mais velho fizeram-me perceber que através das máquinas de costura podia fazer meu próprio dinheiro sem esperar ninguém enquanto espero um dia trabalhar na minha área de formação”.

Não demorou muito para a jovem de 28 anos tomar esta decisão e começar a ganhar o seu próprio dinheiro.

Catarina da Lúcia não tem dúvidas que as mulheres não têm as mesmas oportunidades que os homens no mercado de emprego, por isso defende que as mulheres não podem ficar reféns das iniciativas do Governo, apontando para o empreendedorismo como alternativa.

“Toda mulher tem uma arte na mão. Incentivo às meninas ou mulheres a fazerem negócios. Podemos fazer tudo se quisermos. Em todas nós existe uma arte na mão que podemos aproveitar e tornarmo-nos independentes, por isso incentivo às meninas e mulheres a fazerem negócios porque isso é gratificante e aumenta a autoestima. Hoje sei que não dependo de terceiros para fazer o que quero, só preciso confiar em mim e acreditar que sou capaz”, referiu.

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