Promessa do Governo de 2021 ainda não saiu da teoria para a prática

DESTAQUE POLÍTICA
  • Nem Brigada, nem Companhia Anti-Raptos
  • Sector privado exige operacionalização (imediata) da brigada/companhia anti-raptos
  • “Os factos falam por si, a polícia não se tem mostrado capaz de resolver essa questão de rapto”
  • Sector privado confirma cenário de paralisação das actividades, mas…

Desde 2011 que o crime organizado, com destaque para os raptos, vem exibindo a sua musculatura nas principais cidades moçambicanas, o que de certa forma precipitou a saída de muitos empresários do país. Para acabar com o fenómeno que mina o ambiente de negócios, o Governo, em 2021, prometeu, da voz do comandante-geral da PRM, Bernardino Rafael, a criação de uma Companhia anti-raptos, projecto que depois foi redimensionado para uma brigada. Contudo, a referida unidade ainda não passou da teoria para a prática. Face aos raptos que se registaram nos últimos dias na Cidade de Maputo, com requintes de ousadia por parte dos criminosos, enquanto agentes da PRM se escondiam para aparecer depois da consumação do acto, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) exige urgentemente a operacionalização desta unidade, ao mesmo tempo que confirma a possibilidade de paralisação das atividades em todo o país.

Duarte Sitoe

Em Novembro de 2021, o Comandante-Geral da Polícia da República de Moçambique, Bernardino Rafael, prometeu que em seis meses o país teria a primeira companhia anti-raptos, com vista a combater o crime organizado no país, com destaque para o terrorismo e raptos.

“Tanto o terrorismo, assim como os raptos são crimes que criam terror, portanto não há nenhuma diferença; criam terror aos moçambicanos, metem medo, afastam o desenvolvimento e o investimento no nosso país. Os raptos criam terror nas famílias, sobretudo na classe empresarial. Esta formação é para responder aos actuais desafios que o país enfrenta e para cumprir com as orientações de sua Excelência Presidente da República, Comandante em Chefe das Força de Defesa e Segurança (FDS), na qual determinou que as FDS devem capacitar-se, adequar-se e melhorar a sua forma de actuar no combate ao terrorismo, ao tráfico de drogas e aos raptos, crimes que, neste momento, criam desordem na sociedade moçambicana”, explicou Rafael durante o lançamento da formação.

No entanto, de 2021 a esta parte pouco se fala da prometida companhia anti-raptos, sendo que os criminosos continuam a semear medo e terror no seio da classe empresarial no país.

O sector privado, através da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, à margem do encontro cujo objectivo era encontrar novas estratégias para fazer face a este mal, mostrou-se preocupado com a nova vaga de raptos no país, sobretudo na Cidade de Maputo, e no rol das propostas e soluções para combater este fenómeno exige ao Governo a operacionalização imediata da brigada anti-raptos.

“Esta brigada foi anunciada pelo Governo e já faz muito tempo. Em 12 anos os raptores a funcionarem e uma brigada anti-raptos não activa é uma grande preocupação. Os factos falam por si, a polícia não se tem mostrado capaz de resolver essa questão de raptos. Neste momento, exigimos que a brigada anti-raptos seja operacionalizada. É uma exigência que o sector privado vai fazer, apesar de não ter saído ainda a resolução em relação a este encontro”, declarou Zuneid Calumias, vice-presidente da CTA.

Paralisação de toda atividade económica em cima da mesa

Perante a inércia das autoridades da lei e ordem para estancar a onda dos raptos, alguns empresários ameaçam paralisar as actividades como forma de pressionar o Governo a redobrar esforços.

Calumias referiu que a paralisação das actividades é um cenário que foi colocado em cima da mesa por algumas associações encabeçadas pela CTA, tendo apontado para a cooperação com os países que combateram e venceram o fenómeno como uma das armas para combater o crime organizado.

“A paralisação das actividades é uma ideia apresentada pela maior parte das associações em solidariedade às vítimas, mas por enquanto ainda são apenas sugestões. Vamos privilegiar o diálogo para tentar resolver o problema. De facto esta tem sido uma proposta que tem sido apresentada pelas associações. Há várias propostas e muitas delas vêm de experiências de outros países que lidaram com este problema e todas elas convergem na intervenção de instituições que tenham capacidade técnica para lidar com este tipo de crimes. Quando falamos de cooperação internacional estamos a falar de ajuda de outros países que já viveram este tipo de situações”, referiu Zuneid Calumias, reconhecendo depois que o Executivo tem tido fraca resposta quando se trata de combater os raptos.

Outra situação que inquieta sobremaneira o sector privado é o facto da Polícia da República de Moçambique e comunicação usarem a designação “empresário de origem indiana” quando falam dos raptos, daí que Calumias exigem que se retire essa denominação

É uma grave violação, significa que os raptos só acontecem para os indianos. Quando divulgamos que é cidadão de origem indiana, por outras palavras queremos dizer que este rapto não tem a ver com a maioria da sociedade, porque se formos a ver as especificidades notamos que esses cidadãos são uma minoria na nossa sociedade. É uma linguagem que apelamos, sobretudo, aos órgãos de comunicação social, ao Governo, que retire de forma oficial e definitiva essa linguagem de que os raptados são de origem de X e Y.

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