- Enquanto simula produtividade, FMA-LAM recebe ultimato
- Dívida foi acumulada em apenas dois meses e Operação Maputo – Lisboa está ameaçada
- Gasolineiras só aceitaram abastecer aviões graças a intervenção a nível mais alto
- A última vez que aviões não voaram por falta de combustível foi exonerada toda direcção da LAM
A Fly Modern Ark, empresa contratada para reanimar as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), convocou, esta segunda-feira, uma conferência curiosa para reagir depois de despoletada a ineficácia da empresa, a ponto de falhar com abastecimento de combustíveis, que a menos de sensivelmente três meses para completar um ano mostra sérias dificuldades de estabilizar a empresa senão piorar a falência técnica da empresa. Enquanto decorre o Show Off em Maputo, em Lisboa, recebeu do seu parceiro EuroAtlantic airways – Transportes Aéreos (EAA) um ultimato para cumprir com as suas obrigações sob o risco de ver suspensa a operação Maputo-Lisboa, que desde o início os trabalhadores da LAM alertaram ser um suicídio. “Solicitamos que a LAM efectue de imediato o pagamento integral dos valores em atraso no valor total de 1.335.500,00 euros (um milhão trezentos e trinta e cinco mil e quinhentos euros). Informamos que poderão ser cobrados juros de mora e o não pagamento dos valores devidos poderá resultar na rescisão do contrato e em potencial acção legal por parte da EAA”, le-se na carta que o Evidências teve acesso, que em parte expõe os gestores da Fly Modern Ark (FMA), que apostam numa estratégia de narrar sucessos onde não existem, nem que seja necessário assumir papel de detetives para expor uma corrupção sem corrupto (?).
Na carta que faz referência ao Acordo de Wet Lease de Aeronaves (A.C.M.I.), com número 6271/23 entre a EuroAtlantic airways – Transportes Aéreos (EAA) e a LAM-Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), o parceiro da LAM denuncia a falta de cumprimento das obrigações da LAM, que é obrigada a pagar o aluguel de acordo com o Cronograma de Pagamento acordado entre as partes e conforme estabelecido no Contrato.
“Apesar das inúmeras comunicações e pedidos de pagamento dos valores em dívida e não pagos, num total de 1.067.600,00 euros (um milhão seis sete mil e seiscentos euros) em atraso desde 12 de janeiro de 2024, mais 267.900,00 euros (dois cento e sessenta e sete mil e novecentos euros) que se tornaram vencidos em 26 de Janeiro de 2024, a LAM não procedeu, até esta data, aos pagamentos solicitados”, le-se no documento.
Nos termos do referido contrato, a falta de pagamento no prazo de três (3) Dias Úteis a partir da data de vencimento do pagamento constitui um Evento de Inadimplência.
“Assim, solicitamos que a LAM efectue de imediato o pagamento integral dos valores em atraso no valor total de 1.335.500,00 euros (um milhão trezentos e trinta e cinco mil e quinhentos euros). Informamos que poderão ser cobrados juros de mora e o não pagamento dos valores devidos poderá resultar na rescisão do contrato e em potencial ação legal por parte da EAA”, escreve a EAA, na carta onde reitera que aquele pedido formal “não prejudica, e por meio deste expressamente reserva e não renuncia, quaisquer direitos e recursos adicionais que a EAA tenha em contrato ou lei”.
Consultor sem solução à LAM vira detetive de corrupção sem corrupto
Nesta segunda-feira, a FMA convocou uma conferência da imprensa curiosa por surgir depois de atrasos de cinco voos por falta de combustível, o que obrigou passageiros a dormirem nos aeroportos. Sergio Matos disse que são comuns os atrasos por falta de combustível, no entanto, a última vez que uma direção falhou colocar os voos no ar por falta de combustível, foi toda ela isolada.
Mas o que aconteceu? O que acontece é que a Petromoc, a quem a LAM deve, não tinha combustível e a Puma, com quem a LAM também tem dívidas, não aceita abastecer sem pronto pagamento, devido aos históricos da LAM de mau pagador, principalmente depois que entrou a FMA, que tem negligenciado o pagamento aos fornecedores nacionais, numa relação em que é descrita como não saudável por envolver ameaças de expor corrupção.
Nesta segunda-feira, sem estabelecer uma relação directa entre os atrasos com a falta de redução das dívidas com as gasolineiras, Sergio Matos sacudiu a atenção da FMA e denunciou um suposto esquema de desvio de dinheiro através de POS’s.
“Convocamos a imprensa porque iniciamos algumas operações há duas semanas por conta de desvio de dinheiro que não está a entrar nas contas da companhia. Iniciamos uma operação para ver para onde está a ir o dinheiro, está-se a vender, mas a empresa não está a ter todo dinheiro e nos últimos três meses, das avaliações que fomos fazendo do diferencial que estávamos a ter estava na ordem de dois a três milhões de dólares. Só no mês de Dezembro estávamos com um défice de três milhões e duzentos mil dólares. Decidimos fazer um rastreio para ver o que estava a acontecer. Fizemos um trabalho relâmpago com a segurança interna da LAM de recolher quase todos POS’s, e dos 20 pontos de venda dos bilhetes recolhemos 81 POS’s, e há algumas lojas em que os próprios chefes dizem não conhecer a quem pertence o POS, então fomos recolher para depois a segurança interna e de direitos saberem o que está a acontecer. No mesmo dia que se fez a recolha dos POS, eu pessoalmente fui à loja e apanhei dois POS’s que ninguém soube explicar os porquês de estarem”, despoletou.
Não é a primeira vez que sem partilhar plano de recuperação da LAM ou provar a veracidades dos seus números de crescimento que são questionados pela verdade, havendo indícios de manipulação, FMA aposta numa narrativa de um problema da direção da LAM, que é corrupta ou incompetente, para esconder seus próprios problemas. É nisto que vem resumindo a intervenção da LAM, que primeiro melhorou as contas da LAM através de reconciliação, depois despoletou desvio de oito milhões e agora esquemas da POS, mas em termos de gestão, a empresa está cada vez pior e num rumo incerto.
Sobre os atrasos dos voos devido a problemas de abastecimento, a FMA limitou-se a dizer que “algumas rotas tiveram problemas de abastecimento, mas o problema não é por falta de pagamento da LAM. Na aviação, os que abastecem os aviões são feitos por cotas. A Petromoc tem a sua quota para abastecer, tem a Vivo que tem a sua quota para abastecer. Aquela que tinha que abastecer essas rotas foi por falta de combustível da fornecedora do combustível. A informação de dívida que alguns órgãos trouxeram de 600 milhões de meticais não é verdade, é verdade sim que a LAM tem dívida com a Petromoc na ordem de quase 70 milhões de dólares (…) Quem são os abasteceram os aviões ontem porque até onde sei que abasteceu os aviões foi a Puma e Petromoc?, questionou Matos, para depois chamar as últimas notícias de encomendas de pessoas mal intencionadas.
“Admito que algumas situações sejam encomendas daqueles que estão a resistir a mudanças aqui internamente. Vai perceber que até o movimento que se fez ontem, por conta do combustível, não é a primeira vez, já aconteceu várias vezes atrasos de duas, três horas porque uma gasolineira não conseguiu abastecer a outra”, rematou, ignorando que a última direção que atrasou voos foi afastada.
Ainda no que concerne às dívidas com as gasolineiras, Sérgio Matos disse que a LAM só tem dívida com a Petromoc, que é responsável em abastecer os aviões da rota Maputo – Lisboa. Somadas as duas dívidas, ou seja, com a Petromoc e EuroAtlantic, perfazem mais de 140 milhões.
“Neste período, nos últimos 30 ou 45 dias, a LAM está com uma dívida de 300 milhões de meticais, é só com a Petromoc, nenhuma outra gasolineira temos dívida com ela. Porque a Petromoc é que está a fazer o abastecimento da Operação Lisboa. Estamos neste momento na época baixa com aqueles que podem ser as receitas normais, não é possível na época entre Janeiro e Fevereiro, por isso estamos com essa, mas não vai subir a dívida”
A recolha de dinheiro em numerário é outro ponto que inquieta o Gestor do Projecto de Reestruturação das Linhas Aéreas de Moçambique, que despoletou, por outro lado, esquemas de corrupção no abastecimento de combustíveis nos aviões.
“A recolha de dinheiro em cash é feita por empresas de segurança e essas empresas em alguns pontos de venda, quando procuramos saber como é feito, dizem que o depósito é feito três dias depois, o que quer dizer que se recolhe o dinheiro na companhia depois fica guardado algures por dois dias, depois disso é que vem os recibos de depósito. Há abastecimentos que estão a ser feitos para as aeronaves acima da capacidade. Isso quer dizer que uma aeronave tem capacidade máxima de combustível na ordem de 80 mil litros e a mesma aeronave é abastecida 95 mil litros. A questão é, as 15 toneladas estão a entrar aonde”.
Sérgio Matos, que revelou que há funcionários que compraram casas com dinheiro da LAM, disse, por outro lado, que há uma quantia na ordem de um milhão e duzentos dólares que pertencem a companhia de bandeira que estão retidos no Malawi, que ninguém sabe como movimentar.
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