- Atletas estavam disponíveis, mas não receberam passagens aéreas para Maputo
- Mauro e Ricardo souberam de terceiros que foram riscados da convocatória
Moçambique conta actualmente com dois jogadores a evoluírem no futsal do velho continente. Mauro Cossa joga em Portugal e Ricardo Ferreira em Espanha. Os dois atletas constavam da lista dos convocados para a única eliminatória de acesso ao CAN em que Moçambique teve pela frente a Zâmbia. Contudo, contra todas as expectativas, foram cartas fora do barulho de Farukito. A Federação Moçambicana de Futebol (FMF) justificou que os dois jogadores não vieram à Maputo devido as questões profissionais, porém os atletas revelaram, através das redes sociais, que estavam disponíveis para representar o combinado nacional. Cossa e Ferreira revelaram que o organismo que chancela o futebol no país não enviou as passagens aéreas para Maputo e que souberam dos colegas que não fariam parte da “operação Zâmbia”
Evidências
Moçambique venceu a concorrência e foi escolhido para acolher a edição do presente ano do Campeonato Africano das Nações em Futsal. Entretanto, o país não conseguiu criar as condições logísticas para sediar a prova rainha do futsal africano.
Face a indisponibilidade de Moçambique para sediar a prova, a Confederação Africana de Futebol (CAF) foi obrigado a escolher outro país para ser o anfitrião do CAN, sendo que para fazer parte do certame o combinado tinha que disputar uma eliminatória.
Segundo ditou o sorteio, a selecção nacional teve a sua congénere da Zâmbia com rival. Os pupilos de Farukito até conseguiram vencer na primeira mão pela marca de 3 a 2, mas em Lusaka perderam por duas bolas sem resposta e ficaram arredados da prova. Nas duas partidas, o selecionador nacional não contou com os préstimos dos jogadores que jogam no velho continente. Trata-se Mauro Cossa e Ricardo Ferreira.
A FMF revelou que os dois esquerdinos ficaram de fora devido aos compromissos profissionais. No entanto, esta informação não corresponde à verdade, visto que os atletas já estavam de malas aviadas para Maputo, mas não chegaram de receber as passagens aéreas.
Foi através das redes sociais que Cossa e Ferreira revelaram que foi depois de muitas voltas que souberam dos colegas que foram preteridos.
“Depois de várias mensagens, telefonemas e esperas constantes, sem nunca me darem detalhe de nada nem respostas e nem mesmo explicações, soube com grande surpresa através de colegas meus que (eu que estou a viver e jogar em Barcelona e o outro colega que joga em Portugal) não iriamos fazer parte da selecção, e que já não iríamos aos tais jogos de qualificação. Esta informação foi dada a todos muito antes de nós próprios jogadores sabermos, o que para mim é uma grande falta de respeito que se tenha de saber assim e ainda mais, pelos motivos dados. O Ricardo e o Mauro não vão participar dos jogos por Motivos Profissionais. Eu me pergunto: que motivos profissionais foram estes? Sendo que estávamos prontos para jogar, preparamo-nos meses para isto, e já tínhamos informado das nossas datas, detalhes, disponibilidade e grande vontade”, lê-se na carta aberta de Ricardo Ferreira ao futsal moçambicano
“De cara lavada, publicamente foi dada essa informação (que não constitui verdade) ”
Mauro Cossa refere que já havia comunicado ao selecionador nacional que estaria disponível para o duelo com os zambianos, tendo pedido ao mesmo para partilhar o programa dos trabalhos que estavam sendo feitos pelos jogadores que jogam intramuros, mas tal como Ricardo não chegou de ver a cor da passagem aérea.
“Chegado o dia que fiquei disponível para viajar, a pedido da FMF enviei a cópia dos meus documentos e fui informado para que ficasse com malas arrumadas porque a qualquer momento mandariam a passagem e assim o fiz. Dia 22, partilharam comigo a data e horário previsto pra partida, seria 5ª feira 25/01. No dia seguinte (23/01) pelas 7H00, recebi a informação que viajaria no mesmo dia, no voo das 16H00 da LAM e poderia aguardar pelos detalhes da passagem. Tempo passou, nenhum feedback recebi até procurar saber as 13H00 (horário próximo do check-in) e disseram que estavam à espera de quem foi a LAM comprar as passagens, mas que se o voo não fosse ainda no próprio dia, seria na 5ª feira, na data inicialmente comunicada(…) Passaram depois dias sem informação alguma, até que por via de colegas soube que já não ia fazer parte da operação, que para mim não fazia sentido porque durante o processo falaram comigo, para depois irem comunicar com o grupo antes de falarem comigo”, escreveu Cossa nas redes sociais para depois referir que a FMF mentiu em hasta pública.
“No dia da conferência de imprensa para anunciar a convocatória final, a FMF por livre e espontânea vontade (NB: nenhum jornalista questionou), disse ter existido um imprevisto e que não poderiam contar com o contributo de dois atletas que estão na diáspora por motivos profissionais, tendo sido sublinhado pela equipa técnica e ainda citado o meu nome e do meu colega. De cara lavada, publicamente foi dada essa informação (que não constitui verdade). Bom, esta é uma das peças do imenso mosaico existente sobre o tratamento a que os atletas estão sujeitos. Garanto que é sem exagero 5% da Big Picture”
Indo mais longe, Ricardo Ferreira deu a entender que há muito que o futsal foi capturado pela teia da desorganização, sendo que mesmo com os últimos acontecimentos continua disponível para representar o país que o viu nascer.
“Mantive-me calado por vários anos, sempre a aturar faltas de organização, cancelamento de campeonatos amigáveis por desorganização e dinheiro, avisarem-me que viajo no mesmo dia deixando-me com horas para me preparar. Etc etc. Mas já me cansei de ficar calado. Somos atletas preparados para vestir a camisola e dar tudo de nós pelo país. Mas como podemos fazer isso se nem condições temos? Se nem uma passagem nos compram para irmos representar a Pátria? Se nem em campeonatos de treino que somos convidados conseguimos participar”.
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