Mais uma vez, a Frelimo adia Comissão Política e evoca sobreposição de agenda do Presidente

DESTAQUE POLÍTICA
  • Reunião determinante para escolha do sucessor de Nyusi deve decorrer esta 5 Feira
  • Intensificada a campanha de assassinato de carácter. Pacheco e Aires Aly entre as vítimas
  • Entre os nomes, consta com larga vantagem a “arma secreta do Chefe”
  • “Não sei se é vez do Centro, é a vez do membro ser eleito para ser candidato”

Mais uma vez foi adiada a sessão da Comissão Política da Frelimo, que estava prevista para esta quinta-feira. Formalmente, o adiamento à boca do evento foi justificado alegando sobreposição da agenda do Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi. Evidências apurou que foi adiada devido a problemas de saúde do secretário-geral do partido, que, curiosamente, anda desaparecido dos holofotes. Na sessão remarcada para esta quinta-feira, alargada aos primeiros secretários do partido, principais aliados da ala no poder, está na agenda a análise e divulgação dos nomes que devem compor o “short list” dos pré-candidatos para candidato nas eleições gerais de Outubro próximo. Alguns nomes já foram avançados neste jornal, mas há indicação de que Nyusi já ultrapassou a indefinição e vai avançar com uma arma secreta, entre os três ou quatro nomes que serão sufragados no Comité Central, em Março. Na semana passada, Ludmila Maguni, chefe da mobilização e propaganda, tentou desdramatizar o dilema da propalada “vez do Centro”, anotando que “não sei se é vez do Centro, é a vez do membro ser eleito para ser candidato”.

Evidências

Um calendário cada vez mais apertado e pré-candidatos fora das graças do chefe a intensificar lobbies nos bastidores, enquanto outros apostam na mobilização de fundos para compra de consciências. E chega especular-se que um dos candidatos que mobilizou fundos suficientes para comprar metade do Comité Central, num jogo que vislumbra a degradação ética na Frelimo.

Mas nem todos são “miseráveis”. Enquanto outros, fora das graças do Chefe, estão determinados a prosseguirem para o tira-teimas no Comité Central mesmo sem o conforto da Comissão Política (CP).

Curiosamente, parte dos nomes que são apontados como prováveis candidatos cinco fazem parte da Comissão Política, ou seja, estão em lobbies para serem endossados pelo órgão a que pertencem.

A estas alturas, o que é dado como certo é que a sessão remarcada para esta quinta-feira deverá chancelar os três ou mais nomes de pré-candidatos a candidato para as eleições de Outubro deste ano.

A princípio, a sessão da CP que vem sendo adiada há quatro semanas devia ter sido realizada esta segunda, mas de acordo com o secretariado, citado por uma fonte do Evidências, foi adiada devido a sobreposição da agenda do Presidente do Partido, Filipe Nyusi, mas há quem relaciona com a indisponibilidade de secretário-geral do Partido, Roque Silva, que se encontra com problemas de saúde.

Entre os camaradas, o momento é de suspense. Afinal, é preciso saber quem segue, num momento em que o actual está cada vez mais impopular a ponto de haver pré-candidatos que não aceitam ser associados ao principal rosto da governação actual. Por isso, muitos tencionam avançar mesmo sem apoio do Chefe.

Poderá haver fraude e circulação de muito dinheiro

E embora o partido a nível mais alto já tenha demonstrado dificuldade de conseguir candidatos de consenso, alguns nomes circulam nos bastidores e outros são expostos como candidatos mesmo antes do aval da ala no poder, aliás, há os que avançaram a revelia, o que cria um cenário de incerteza no caso desta ala conseguir controlar todas as entradas, inclusive via Comité Central. Mas esta é uma estratégia que está a ser abandonada.

Neste momento, especula-se a estratégia de deixar todos avançarem e controlar apenas o processo de eleição, à semelhança do que aconteceu no Congresso, onde o processo foi fraudulento e a decisão estava nas mãos de quem contava, tanto para formação do Comité Central, assim como para a CP.

É uma estratégia que funciona para quem a última saída é comprar consciências. Aliás, há informações dando conta de que alguns voluntários a candidatos, apoiados por grupos empresariais, estão preparados para abrirem os cordões à bolsa para comprarem votos dos membros do Comité Central.

Frelimo nega que agenda esteja apertada

Sobre o calendário que se mostra cada vez mais aparteado, visto que tanto Armando Guebuza e Filipe Nyusi souberam que seriam candidatos faltando muitos meses para a realização das eleições gerais, a chefe de mobilização e propaganda da Frelimo garante que não há aperto de agenda e que a Frelimo não vai olhar para o regionalismo na hora de escolher o melhor candidato para dirigir o país.

“Dentro desse prazo (que foi anunciado pela Comissão Nacional de Eleições) vamos apresentar o nosso candidato. Sobre os nomes não posso definir algo que está a ser definido. Iremos anunciar os pré-candidatos. Há muita ansiedade em volta deste assunto.

Não sei se é vez do Centro, é a vez do membro ser eleito para ser candidato. É uma discussão que se ouve muito aqui fora. O mais importante é dentro do partido sair um candidato que vai dirigir este país com bastante responsabilidade, conhecimento e bastante técnica. É encontrar o melhor candidato para dirigir o país”, disse em entrevista no CIP Caste.

Sem avançar o perfil, quando nos bastidores dominam nomes de candidatos auto-proclamados que se dizem na linha desde a década 70. Os tradicionais que já têm gabinete próprio de candidato. Porém, o Evidências sabe que em vantagem, que granjeia a simpatia do “Chefe”, está a arma secreta de Nyusi, cujos nomes, tanto dos tradicionais, divulgamos na edição 142.

Em Novembro de 2013, quando Alberto Vaquina, José Pacheco e Filipe Nyusi foram chancelados pela Comissão Política de Guebuza, que se reunira na Namaacha, tiveram tempo de percorrer país, nas semanas subsequentes, namorar os membros do comité central e disseminar suas propostas entre os membros do partidão. Na altura, havia três meses pela frente, antes de Março e o processo se desenrolou num ambiente de quase serenidade.

Mais tarde, em Março, já em pleno Comité Central, a ACLIN (Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional) forçou a entrada de Luísa Diogo e Aires Aly, a contra ala no poder. Nyusi ganhou no despique final contra Luísa Diogo. Pelo calendário, os pré-candidatos actuais não terão este tempo para namorar os membros do Comite Central.

Frelimo rasga (?) suposto pacto de regionalismo

Nas entrelinhas, a porta-voz da Frelimo refutou que houve intenção da liderança actual de se rasgar a Constituição e se avançar para um terceiro mandato. “Não há espaço para discutirmos o terceiro mandato porque não é esta a posição do partido”, declarou, para posteriormente detalhar que a Frelimo tem uma maioria no parlamento, mas tem a consciência de que representa um povo. “É um Povo que se tem a representar, é um lugar que queremos que sejam tomadas as decisões que possam ser favoráveis àqueles que estamos a representar ao nível do parlamento com os olhos postos sempre no desenvolvimento do país. Penso que é o que todos moçambicanos almejam, independentemente do partido político que possam ser.

Mas não é apenas sobre os processos de sucessão que Maguni ocupou-se a falar, embora de forma parca. Ela reagiu também às críticas internas de membros que reclamam que a dosagem da fraude foi exagerada e negando que o partido esteja em crise.

“É importante olhar como essas vozes saem, como essas vozes participaram neste processo eleitoral”, disse, num contexto em que as críticas vieram de membros influentes como Graça Machel, Guebuza, Samito, entre outros que retratam a crise que o partido vive.

Contudo, Ludmila Maguni referiu que dentro do partido qualquer membro tem espaço para se expressar, mas foi parca nas palavras quando questionada se haverá ou não sanções para os críticos, tendo direcionado a sua reação às críticas à volta do processo eleitoral.

Acho que o espaço democrático não está fragilizado porque as pessoas têm espaço para falar, e falaram. Penso que não há aqui fragilidade. Certamente que os nossos estatutos são claros sobre onde e como podemos falar. Os órgãos vão se reunir e certamente haverá espaço para falar disso. Entretanto, penso que no calor do processo eleitoral as pessoas sentiram vontade de se pronunciar e foi isso que assistimos. Os estatutos são claros em relação a estes aspectos e se tiver que haver (sanções) penso que a área específica que trata destes assuntos irá tratar. É algo que se pode conversar, mas é preciso fazer uma análise bastante acurada da situação para se chegar a conclusões de que só podem fazer a volta deste assunto”.

De seguida, “Quero voltar para uma entrevista que foi dada por membro da Comissão Política que perguntava como é que um membro da Frelimo traz estas dúvidas. Em quem ele votou? Como é que ele tem dúvidas de que a Frelimo venceu quando ele como membro é expectante que tenha votado na Frelimo? Entretanto, os resultados estão aí, nas 65 autarquias a Frelimo venceu 60”, reagiu.

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