Calisto Cossa sai com sentimento de missão cumprida, mas defraudou as expectativas dos matolenses

DESTAQUE POLÍTICA
  • Lançou placa, mas não construiu estrada que liga os bairros
  • Resíduos sólidos são outra preocupação que tira sono aos munícipes da Matola
  • Júlio Parruque já começou a vender ilusões

Depois de 10 anos, divididos em dois mandatos, Calisto Cossa deixou de ser edil da Cidade de Matola. Nas cerimónias da celebração do 52º aniversário da apelidada cidade das indústrias, Cossa disse em viva voz que abandona o cargo que ocupou nos últimos 10 anos com sentimento de missão cumprida. No entanto, são poucos os munícipes da Cidade da Matola, sobretudo os dos bairros Muhalaze, Mukhatine, Matola Gare, Nkobe, Siduava e Tchumene, que não concordam com os pronunciamentos do homem que substituiu Arão Nhacale, uma vez que não viram várias promessas saírem da teoria para a prática. Em 2021, aqueles bairros daquela autarquia da província de Maputo ficaram eufóricos com a colocação de uma placa para a asfaltagem de cerca de 24,50 km de estradas, mas, debalde, Cossa terminou o mandato sem asfaltar um centímetro da referida estrada. Face a esta e outras situações, os munícipes sentem-se enganados pelo edil cessante e esperam que Júlio Parruque resolva os problemas deixados por Calisto Cossa.

Duarte Sitoe

“Pela Matola que queremos, pela Matola que sonhamos” foi o slogan que encantou os munícipes da Matola para depositarem o voto na lista liderada por Calisto Cossa em 2013 assim como em 2018. Em 10 anos, Cossa conseguiu algumas façanhas na dita Cidade das Indústrias e, por isso, afirma categoricamente que sai com sentimento de missão cumprida.

“Definimos as prioridades, mas, conforme disse na minha intervenção na Praça dos Heróis, à medida que se vai resolvendo uma necessidade, surge outra e nós mapeamos os problemas na Matola, desde as vias de acesso, saneamento do meio, a recolha e tratamento de resíduos sólidos, os transportes, fizemos de tudo para responder. Como disse, os desafios prevalecem porque a Matola cresceu. Eu não tenho consciência atrapalhada e saio com sentimento de missão cumprida. Nós temos que ter a consciência de que, quando nos é dada uma missão como esta, precisamos de dar de tudo com todos para levar o barco a um bom porto”, sublinhou.

Estradas em péssimas condições tem sido o cartão de visita do município da Matola nos últimos anos. Na hora do adeus, Calisto Cossa deu a mão à palmatória e garantiu que as estradas esburacadas serão intervencionadas no próximo ciclo de governação, uma vez que já há fundos para o efeito.

Os 24 km de estradas não saíram do papel

Enquanto os munícipes, sobretudo os automobilistas, reclamam do mau estado das vias de acesso que foram pavimentadas, há outros que estão com nervos à flor da pele pelo facto da direcção cessante do Conselho Municipal da Matola não ter cumprido com o grosso das suas promessas.

 

Trata-se dos matolenses que vivem nos bairros Muhalaze, Mukhatine, Siduava, Nkobe, Matola Gare e Tchumene, que viram Calisto Cossa abandonar a cadeia de sonho antes de pavimentar os cerca de 24,50 km que liga três dos cinco bairros a Estrada Circular.

 

Tomaz Raul foi tomado pela euforia quando em Dezembro viu uma placa dando conta de que as obras de asfaltagem dos 24,50 de estradas no município da Matola teriam início em Janeiro de 2022, mas, debalde, volvidos dois anos a euforia pariu decepção e descontentamento.

 

“Fiquei feliz quando vi que a nossa estrada seria asfaltada. Desde logo pensei que era o fim do nosso sofrimento nos dias de chuva, porém, era apenas uma ilusão. Fomos redondamente enganados pelo Conselho Municipal da Cidade da Matola. É deveras triste o que acontece na nossa cidade, nada anda e o presidente só fica no ar condicionado. Quase todas as estradas estão esburacadas, e mesmo pagando a taxa de lixo não há camiões para fazer a recolha”, declarou Raul visivelmente agastado, para posteriormente pedir explicações sobre o rumo que fora destinado o valor daquela obra.

 

“Uma coisa que não me sai da cabeça é o facto de o município ter colocado a placa com orçamento e com o prazo das obras, o que de grosso modo aponta que já havia dinheiro para o arranque das obras. Estranhamente, dois anos se passaram e nada aconteceu nas vias que seriam asfaltadas. Ao invés de abraçar o silêncio, Calisto e seus pares devem explicações aos municípios. Queremos saber para onde foi o valor que seria usado para executar essas obras. Não se entende como é que retiram placa antes terminar as obras. São coisas que só acontecem no nosso belo Moçambique”.

 

Natércia Magaia não tem dúvidas que os munícipes foram burlados pelo Conselho Municipal da Cidade da Matola. Segundo Langa, a asfaltagem dos 24,50 quilômetros de estradas fazem parte dos negócios conexos do edil daquela autarquia, uma vez que foi a JJR Moçambique que ganhou o concurso.

 

“Não foi desta que o nosso clamor foi respondido. As nossas expectativas foram goradas. O Conselho Municipal da Matola sabe o quão sofremos na época chuvosa. Veio aqui colocar uma placa, mas nada aconteceu. Fomos burlados por quem devia resolver parte dos nossos problemas. Fiquei boquiaberta quando o antigo edil disse que sai com o sentimento de missão cumprida, enquanto sabe que nestes últimos tempos nada fez a não ser construir aquele edifício do Conselho Municipal. Somos uma autarquia que tem tudo para dar certo, mas a inércia por parte das pessoas que nos lideram ainda retarda o nosso desenvolvimento. Como munícipe da Matola, espero que o próximo presidente resolva nossos problemas.

Recolha de resíduos sólidos: outro problema que inquieta os matolenses

Julião disse ao Evidencias que não vai sentir saudades de Calisto Cossa na presidência do Conselho Autárquico da Matola devido a desorganização que assistiu nos últimos anos, tendo, por outro lado, referido que a Frelimo devia ter repetido o que fez com Arão Nhancale.

 

“Vamos lembrar que Carlos Tempe foi o melhor edil da história da Cidade da Matola e que Arão Nhacale foi o pior, mas Calisto Cossa também consta da lista dos piores. Pouco fez para o desenvolvimento do nosso município. Continuamos com problemas de estradas, enquanto os outros municípios estão na rota do desenvolvimento. Matola tem o maior parque industrial do país, mas isso não se reflecte na vida dos seus munícipes. Infelizmente, mudou o presidente, mas o partido continua o mesmo. Francamente, não acredito que haverá melhorias nos próximos anos”, declarou.

 

Por sua vez, Martinho Cuna mostrou-se desagradado com a deficiente recolha dos resíduos sólidos no reinado de Calisto Cossa, chegando a questionar os porquês de todos meses pagar a taxa de lixo na primeira compra de energia.

 

“Nos últimos anos pagamos taxa de lixo, porém os carros da recolha de lixo já não chegam nos nossos bairros. Não sabemos os porquês de continuar a pagar a taxa de lixo enquanto somos obrigados a pagar pessoas para retirar os resíduos sólidos das nossas casas. Na Matola, o lixo virou flor, quem circula pelos bairros percebe que o município não tem vontade de recolher lixo. Infelizmente, estamos entregues a nossa própria sorte e já estamos acostumados”, declarou

Júlio Parruque já começou a vender ilusões

Quem também está decepcionada com a deficiente recolha dos resíduos sólidos e, sobretudo, do saneamento do meio na Matola é Angélica Lucas, residente no bairro de Fomento. Lucas referiu que Fomento faz parte do rol dos bairros nobres do município da Matola, mas na época chuvosa tem sido uma autêntica vergonha devido à falta de valas de drenagem.

 

“Somos inimigos da chuva porque quando chega faz estragos no nosso bairro. Não temos valas de drenagem e durante a época chuvosa as ruas ficam alagadas. O município está a par do nosso sofrimento, mas nada faz. Temos inveja dos que vivem nos bairros periféricos, nós só estamos num bairro nobre apenas pelo nome. A recolha dos resíduos sólidos é outro problema que nos inquieta. Precisamos de muitas reformas no nosso município, não podemos apenas ficar pelos discursos, precisamos de acções concretas em todas áreas”.

 

Um dia após a tomada de posse, o novo presidente do Conselho Municipal da Matola já começou a trabalhar, tendo colocado em marcha o plano dos 100 dias de governação municipal.

Parruque, na companhia dos seus vereadores, escalou alguns bairros do município da Matola para dinamizar a recolha dos resíduos sólidos e na interação com os munícipes deixou a promessa de trabalhar na reparação das vias para garantir a mobilidade segura dos munícipes.

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