Chipande expõe Samito na Comissão Política

DESTAQUE POLÍTICA
  • Filho de Samora Machel pediu apoio ao tio de Nyusi para ser endossado como candidato
  • A resposta foi de que ainda era miúdo e imaturo para ser candidato da Frelimo
  • Pedido de Samito foi exposto na sessão da CP que se recusou a debater o tema da sucessão
  • Nyusi sugeriu que o tema fosse discutido em retiro previsto para esta semana

A lista vai ficando mais extensa e candidatos já não escondem as pretensões de ver seus nomes endossados nas pré-candidaturas a candidato da Frelimo para as eleições de Outubro. Os lobbies incluem agora o Samora Machel Jr., conhecido por Samito, cujas intenções foram expostas por Alberto Chipande na última reunião da Comissão Política. Contra vontade de Nyusi, que teria deixado expresso que a 19ª Sessão ordinária da Comissão Política (CP), a primeira do ano, não tinha na sua agenda o tema da sucessão, Chipande pediu de forma insistente partilhar os detalhes da visita de Samito. Detalhou que o filho de Samora “pediu-me apoio para ele ser Presidente”, disse, numa afirmação que não teve resposta de Nyusi, que se limitou em perguntar: “o que você respondeu?”. O tom da pergunta de Nyusi mostra algum incómodo, numa altura em que informações dão conta que as duas partes andam desavindas.

O nervosismo anda a solta e com o adiamento do debate do tema da sucessão os auto- proclamados pré-candidatos vão ganhando tempo para fazer lobbies. Ecos da Comissão Política indicam que, afinal, Samito, como é tratado no meio social, já manifestou aos antigos “donos da Frelimo” a sua intenção de participar da corrida, apesar da sua experiência não concorrer para sua eleição, numa altura em os desafios do país exigem habilidade extraordinárias dos interessados em assumir os destinos do país.

Entre vários desafios, impõe-se aos candidatos da Frelimo, caso ganhem as eleições, a capacidade de aglutinar a Frelimo que se encontra fragmentada em grupos, um desafio similar para os moçambicanos, o resgate da confiança dos jovens que desacreditam de tudo que representa o Estado, e depois seguem os desafios do índole económico, defesa, saúde, educação, transporte entre outros que não ecoam como mesma intensidade no discurso do Executivo actual.

Na senda do debate da sucessão, Samito, muito reservado e sem nenhum percurso na gestão do bem público, embora pouco entregue aos escândalos, expressou a sua intenção a Alberto Chipande, que foi determinante no endossamento de Filipe Nyusi, seu sobrinho, no decurso da sucessão de Armando Guebuza.

A pretensão de Samora Machel Jr., o primogénito do primeiro Presidente de Moçambique, foi partilhada na 19ª Sessão Ordinária por Chipande, que forçou o comentário, quando Nyusi insistia em afirmar que não constava da agenda o debate da sucessão, colocando a possibilidade de se discutir o “perfil” do candidato à sua sucessão na 20ª sessão ordinária, a princípio marcada para esta semana.

Nos últimos minutos da sessão, numa conversa que não teve desfecho, Chipande disse que gostaria de partilhar que “recebi o filho de Machel. Ele pediu meu apoio para ser candidato a Presidente”, disse. “E o que foi que você respondeu?” retrucou Nyusi, num tom de surpresa e de pouco respeito ao Tio. Chipande respondeu que deu a ele a resposta de era “imaturo”, que ainda tinha muito percurso por andar, sem deixar de atirar que no passado ele criou um partido para se candidatar.

O Presidente da Frelimo, que parece não ter gostado do “fingimento” do tio, perguntou a Chipande se Samito tinha sido o único candidato que tinha recebido, ou este é o “que tem azar?”. Questionou dando a entender que tem informação de que não foi apenas Samito que foi pedir apoio de Chipande para ser endossado nos pré-candidatos a candidato da Frelimo.

Confirmada a sua intenção de avançar, Samito é mais um numa lista extensa dos vários nomes que já mostraram vontade de entrar na corrida. Outros já com Gabinetes criados mesmo sem apoio do Presidente da Frelimo, que apesar de aparente fragilidade, há quem afirma ele tem o controlo total do processo da sua sucessão, a ponto de ter deixados nos membros da Comissão Política o desafio de pensar no perfil do Presidente apropriado para os desafios do país.

Nyusi e Chipande em relações turvas

O tom da voz do sobrinho, ao dialogar com o Chipande (tio), confirma, na interpretação dos presentes na reunião, o que circula nos corredores do partido, onde são colocados em rota de colisão, com Nyusi cada vez mais isolado pelos velhos da Frelimo, o que vem dificultando a escolha de um candidato de consenso, quando falta menos de quatros meses para inscrição de nomes dos candidatos a Presidente da República na Comissão Nacional das Eleições (CNE).

 

O homem do primeiro tiro é tio de Filipe Nyusi e foi quem cedeu a vez e endossou apoio ao actual inquilino da ponta vermelha, mas devido a uma alegada traição, ligada a inviabilização de negócios da família Chipande pelo Governo, ambos andam desavindos, numa altura em que Nyusi vai perdendo apoio dos velhos apoiantes que não mostram agrado pela forma como este governa o país.

 

As relações turvas entre Nyusi e Chipande, podem ter sido determinantes para Samito ter se aproximado e pedir apoio do herói do primeiro tiro. É que apesar da pretensão, para ala Nyusi, Samito é uma carta fora do baralho, pesando sobre ele o adjectivo de rebelde, conjugado com a falta de experiência pelo facto de nunca ter assumido cargos governativos e o facto de ser de Sul, num momento em que não está rasgada a ideia da vez do Centro apesar de o politicamente correcto levar o partido afirmar que a escolha dos candidatos não será com base no regionalismo. Publicamente, Samito carrega apenas o nome e apelido do pai (Samora Machel), o que não constitui pouca vantagem para um país indiferente ao modelo de governação por dinastia. Neste momento o seu grande atributo é apenas o adjetivo de corajoso, pela forma aberta como discute os problemas do partido.

 

É que recebeu elogios quando confrontou a direcção do partido, denunciando o aniquilamento dos ideais da Frelimo, num contexto de total silêncio de até dos tidos como reserva moral da Frelimo, que lamentam em silêncio.

O que coloca Samito na linha de fogo

Naquilo que foi o primeiro anúncio público de um membro do Comité Central preocupado com a integridade do processo eleitoral e com o respeito pelas regras básicas da democracia, Samora Machel Jr afirmou ser lamentável, que em momentos cruciais da vida dos moçambicanos como são as eleições, interesses pessoais e de grupo se sobreponham ao desiderato colectivo, “pondo em causa o nome do partido e da nação que um dia ousamos edificar”.

 

Reagindo a fraude eleitoral que deixou a Frelimo mais impopular, afirmou que as eleições autárquicas são um pilar essencial da nossa democracia, pois permitem que o povo escolha seus líderes e programas de governação locais, num exercício activo de cidadania nas comunidades. No entanto, “num momento em que a democracia sofre ataques um pouco por todo mundo, as acções e comportamentos que assistimos, minam a confiança que os cidadãos depositam nas instituições sobretudo os mais jovens que acabam não vendo futuro no pais na democracia que queremos construir no dia a dia”, afirmou, sugerindo, como solução, que “perante tal estado de coisas, é fundamental que se esclareça, esse antecedido de uma exaustiva investigação para identificar os responsáveis”.

 

Ao partido, Samito defende que é imperativo no momento a educação e qualificação de seus membros sobre a importância do respeito aos princípios democráticos, do estado de direito e a vontade do povo expressa nas urnas.

 

Afinal, “não podemos, nem devemos tolerar nas nossas fileiras, indivíduos que cometeram actos condenáveis, pois a nossa conduta não se coaduna com este tipo de postura. A nossa nação e o nosso povo merecem um sistema democrático credível, sólido e confiável, e é responsabilidade de todos nós, que Moçambique trilhe pelo caminho do progresso democrático” e que “sem democracia não há futuro para Moçambique”.

 

Do resto, é de referir que ao contrário do que aconteceu com Armando Guebuza e Filipe Nyusi que souberam que seriam candidatos da Frelimo nas eleições gerais quando faltava mais de um ano para a realização do pleito eleitoral, para as eleições que terão lugar no próximo dia 09 de Outubro, a Frelimo mudou de táctica.

 

Tudo apontava que a sucessão de Filipe Nyusi fosse o prato forte da 19ª Sessão Ordinária do partido sexagenário, realizada nesta quinta-feira, 15 de Fevereiro, mas, debalde, o assunto continua em “banho-maria”.

 

Falando à saída do encontro, a porta-voz do partido, Ludmila Maguni, disse que não constou da agenda o debate sobre os pré-candidatos, tendo prometido que sobre o assunto o partido se pronunciará oportunamente.

 

Entretanto, a sessão da Comissão Política debruçou sobre outros aspectos da vida do partido, a começar pela avaliação da participação do nas últimas eleições autárquicas, criação do gabinete de preparação das eleições liderado pelo secretário-geral, Roque Silva, entre outros.

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