- Guerra em Cabo Delgado
O MISA Moçambique mostrou, nesta segunda-feira, preocupação com o ressurgimento de um tom de ameaça das autoridades contra jornalistas que se têm dedicado à cobertura da guerra em Cabo Delgado, numa altura em que os ataques armados têm vindo a aumentar.
A primeira ameaça ao livre exercício dos jornalistas foi feita pelo governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, no último sábado, 17 de Fevereiro, chegando ao extremo de acusar jornalistas de estarem em sintonia e terem acordos com terroristas.
Durante a sua intervenção, de mais de dois minutos, chegou a acusar a classe jornalística de reconhecer apenas os valores de terroristas em detrimento dos valores da população e das Forças de Defesa e Segurança (FDS).
No mesmo sábado, 17 de Fevereiro, uma publicação denominada “Notícias de Defesa”, que se identifica como um “Boletim Semanal sobre o combate ao terrorismo, em Moçambique”, divulgou um artigo intitulado “O Terrorismo e a Regulação dos Órgãos de Comunicação Social”.
Embora pouco claro na sua sua argumentação, o texto do “Notícias de Defesa”, uma publicação que se destaca na divulgação de narrativas pró-governamentais sobre o conflito, parece ser a expressão de certos sectores no Governo interessados em voltar a agravar o cerco contra os media que se destacam na cobertura independente da guerra de Cabo Delgado.
Enquanto isso, um dia antes, isto é, na sexta-feira, 16 de Fevereiro, tinha sido o administrador de Quissanga, Sidónio Mindo José, que ao desmentir a ocorrência de um ataque e ocupação da vila deste distrito de Cabo Delgado, referiu-se à criação de “notícias falsas sobre o terrorismo”, por jornalistas, com objectivo de “agitar as populações” e “traumatizar as comunidades”.
Diante da situação, o MISA disse que nota com bastante preocupação o surgimento de mais uma vaga de ameaças contra jornalistas que se dedicam à cobertura independente do conflito de Cabo Delgado.
“O MISA condena, de forma veemente, e desencoraja estas e quaisquer ameaças visando interferir e restringir o trabalho de profissionais de comunicação envolvidos na cobertura do conflito do Norte de Moçambique, o que é uma manifesta violação a todos os princípios da liberdade de imprensa. O MISA lembra que um dos papéis centrais do jornalismo, em sociedades democráticas, é reportar acontecimentos de interesse público, incluindo tragédias como a que se abate sobre Cabo Delgado, há mais de seis anos”, sublinhou.
O MISA Moçambique reitera que, enquanto problema que afecta, gravemente, o Estado moçambicano, a situação de guerra, no Norte de Moçambique, deve ser objecto de reportagem e escrutínio pela comunicação social, independentemente dos gostos de quem quer que seja.
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