Mulheres catadoras pedem capacitação em gestão de resíduos sólidos para melhorar sua renda

SOCIEDADE

A lixeira de Hulene, arredores da Cidade de Maputo, tem sido sinonimo de emprego para várias mulheres que, através da recolha de resíduos sólidos para posterior venda nas empresas de reciclagem, conseguem sustentar suas famílias. No entanto, as mulheres que se dedicam a esta actividade revelam que têm sido discriminadas pela sociedade e pelo próprio Conselho Municipal da Cidade de Maputo. Para superar as actuais barreiras, as catadoras de lixo instam a edilidade da capital moçambicana e as organizações da sociedade civil para promoverem capacitações em matérias de gestão de resíduos sólidos, por forma a incrementarem a sua renda.

 

Esneta Marrove

 

Na Cidade de Maputo, a recolha de lixo tem sido fonte de renda para várias famílias, algumas das quais chefiadas por mulheres que diariamente se fazem a Lixeira de Hulene para recolherem resíduos sólidos para posterior venda nas empresas de reciclagem.

 

De acordo com o Conselho Municipal da Cidade de Maputo, actualmente, a Lixeira de Hulene tem cerca de 600 catadores de lixo, sendo que no seio deste universo destacam-se mulheres que fazem daquele espaço uma oportunidade para fintar o desemprego e sustentar as suas famílias.

 

No seu dia-a-dia as mulheres enfrentam vários desafios. A falta de material de protecção preocupa sobremaneira as catadoras de lixo, que estão cientes que esta situação periga suas vidas. Para além do material de protecção, as mulheres querem ser capacitadas para aumentar a sua fonte de renda.

 

“O lixo é o nosso sustento. Através desta actividade conseguimos colocar pão na mesa. Não há emprego no país e olhamos para a reciclagem de lixo como uma soberana oportunidade para fintar a pobreza. Contudo, devido a falta de material de protecção corremos vários riscos. Entendemos que uma capacitação poderia melhorar as nossas actividades e a lamentar a nossa fonte de renda|”, disse uma catadora de lixo que se identificou pelo nome de Regina Samuel.

Laura Celestino, idosa de 64 anos de idade, olhou para a Lixeira de Hulene como “ganha-pão” quando o marido perdeu o emprego. Trabalha naquela lixeira há três anos e diz que consegue sustentar a sua família, mas acredita que com capacitação pode aumentar o seu lucro.

 

“Quando o meu marido foi a reforma fui obrigada a fazer das tripas coração para sobreviver. Tentei procurar emprego, mas não consegui. Por influência das minhas vizinhas acabei abraçando esta actividade. Apesar das dificuldades que enfrentei no início, hoje digo que fiz uma boa escolha porque nunca faltou pão na mesa da minha casa. Porém, acredito que com uma capacitação podemos aumentar as nossas receitas, por isso apelamos ao Governo e às organizações da sociedade civil para promoverem capacitações sobre matérias de reciclagem”, defende.

 

“Somos tratados como lixo”

 

Em tenra idade, Luísa Julião tinha o sonho de ser médica. Porém, a falta de condições constituiu um entrave para o seu sonho. Actualmente com 28 de idades, defende que o Governo deve reconhecer a actividade e obrigar as empresas de reciclagem a valorizarem o trabalho dos catadores de lixo.

 

“Iniciei-me nesta actividade com oito anos de idade. No início ajudava a minha mãe, mas com o tempo comecei a trabalhar por conta própria. Infelizmente, na sociedade somos tratados como lixo por trabalhar com o lixo. As empresas que compram resíduos sólidos, por sua vez, não têm sido honestas. Compram os nossos produtos a preço de saldo. O nosso Governo deve reconhecer esta actividade e promover regularmente capacitações com vista a acabar com injustiças”.

 

Por seu turno, Ana Malaquias, para além da capacitação das mulheres que dedicam a recolha de lixo para posterior venda, defende que o Conselho Municipal da Cidade de Maputo deve criar empresas de reciclagem para dar mais prestígio à actividade.

 

“Não temos condições mínimas para exercer a nossa actividade. Queremos carrinhas e luvas. Acredito que se o município criar empresas de reciclagem agregaria valor à atividade porque ia aplicar preços justos, ao contrário do que acontece no presente. Trabalhamos muito e não ganhamos nada porque as empresas não valorizam o nosso trabalho”.

 

De lembrar que na tomada de posse, Rasaque Manhique afirmou que na sua governação criar-se-á condições para melhor gestão de resíduos sólidos e que os mesmos possam gerar renda para várias famílias.

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