Mulheres quebraram barreiras e tornam-se referências no sector informal

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  • Apesar de limitação de acesso a crédito bancário

 

Em Moçambique, as mulheres ainda enfrentam barreiras no acesso ao financiamento para desenvolverem suas actividades. Apesar das dificuldades, há histórias de sucesso no sector informal, visto que há mulheres que conseguiram alcançar a sua independência financeira, construir suas próprias casas, colocar pão na mesa e educar os seus filhos, alguns dos quais hoje ocupam posição de destaque na sociedade. No entender do Fórum Mulher, apesar das histórias de sucesso, prevalecem muitos preconceitos que consideram o homem como principal fonte de sustento, mesmo que as suas esposas contribuam e em alguns casos detenham o poder económico maioritário.

Jossias Sixpence – Beira

De acordo com o Banco Mundial, grande parte da população moçambicana é representada por mulheres que, na sua maioria, trabalham no sector informal. No entanto, essas mulheres queixam-se de dificuldades que enfrentam no acesso ao financiamento para alavancar os seus negócios com vista a aumentar as suas receitas.

Apesar das barreiras que enfrentam no acesso ao financiamento, há mulheres que conseguiram alavancar seus negócios e, por via disso, conseguiram financiar a formação dos seus filhos.

A título de exemplo, Fátima de Jesus, vendedeira de feijão no Mercado de Maquinino, mesmo sem financiamento conseguiu alavancar seu negócio, sendo que este sucesso acabou se reflectindo na vida dos seus filhos.

“Faço este negócio desde 2009 e durante esse tempo tive muitas quedas, mas nunca desisti e hoje sou uma das maiores fornecedoras de feijão no mercado. Tenho clientes nos restaurantes e alguns compram para revender. Sou mãe de seis filhos e todos estão a estudar e outros já estão a trabalhar através desse negócio. Construí a minha casa e tenho também casas de aluguer que têm sido uma das rendas extras para conseguir cobrir as minhas despesas”, disse de Jesus visivelmente emocionada.

Maria Moisés, vendedeira de batata Reno, é casada com um funcionário público, contudo o salário do marido não conseguia suprir todas despesas. O empreendedorismo foi a solução para ultrapassar barreiras e hoje sente-se realizada porque consegue financiar a formação dos filhos através do seu negócio.

“Tenho quatro filhos, um está a fazer o curso de medicina na Universidade Católica e outro estuda na escola privada. Outros dois estão na escola primária. Com o que o meu marido ganha no estado não seria possível cobrir essas despesas porque o dinheiro é pouco, só para construção tenho feito xitique de material, que quando é a minha vez de receber o material a obra avança”, frisou Maria.

O Fórum Mulher, uma rede de organizações não-governamentais de direito privado e sem fins lucrativos, constituída em 1993, com cerca de 35 membros efectivos, observa que por mais que a mulher tende a ter alguma visibilidade notória no que respeita ao empoderamento económico, ainda prevalecem muitos preconceitos que consideram o homem como principal fonte de sustento, mesmo que as suas esposas contribuam e em alguns casos detenham o poder económico maioritário.

“Ainda que a mulher seja trabalhadora, do sector formal ou informal, a sua posição sócio-económica é determinada pelas atitudes e valores da sociedade, que consideram o homem como a principal fonte de sustento da família e a mulher como sua dependente e responsável pelas tarefas domésticas, tais como cuidar do marido, dos filhos e da casa”, refere a organização, em estudo publicado há 21 de Novembro de 2017.

Aquela organização entende que é necessário promover uma maior consciência, reconhecimento e observância dos direitos das mulheres nos vários actores da sociedade, desde as instituições legislativas e governativas até às comunidades, incluindo os actores da sociedade civil defensores dos direitos dos camponeses e dos trabalhadores, quer do meio rural ou urbano, quer do sector formal ou informal.

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