Secretária particular do porta-voz do Governo detida na Índia por tráfico de drogas

DESTAQUE POLÍTICA
  • Ana Massuanganhe, funcionária do MJACR, é assistente particular de Filimão Suaze
  • Buchili denunciou, há dias, que há quadros de órgãos públicos metidos com as drogas
  • MJACR já foi comunicado oficialmente, mas aguarda detalhes
  • Filimão Suaze disse que não podia comentar em virtude de estar de férias

Os detalhes são parcos. Sabe-se apenas que Ana Massuanganhe, assistente particular do vice-ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Filimão Suaze, foi detida na Índia, no dia 8 de Janeiro, quando trazia com ela droga até aqui não especificada, muito menos a quantidade. Suaze, que é também porta-voz do Governo, nas sessões do Conselho de Ministro disse não estar disponível a partilhar o estágio em que o processo está em virtude de estar de férias e não estar a gozar de boa saúde. No entanto, a ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Kida, confirmou o ocorrido, afirmando que ainda aguardava os detalhes do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MINEC) que é o que estava por cima do assunto.

Nelson Mucandze

Em duas semanas irá completar dois meses que Ana Massuanganhe encontra-se detida na Índia, surpreendida pelas autoridades daquele país na posse de estupefacientes de quantidades e especialidade até aqui não especificadas. A nível diplomático, houve conversações e arranjos para que ela fosse extraditada para Moçambique, no entanto, até aqui não resultou.

De acordo com Helena Kida, que também diz-se informar do MINEC, logo que se confirmaram as razões da detenção, Ana Massuanganhe foi afastada do MJACR e foi indicada uma outra secretária particular de Filimao Suaze.

“Não podemos conhecer quem é quem”, lamentou a ministra, em conversa com a nossa reportagem, afirmando que estava a aguardar mais dados do MINEC para saber o estágio do processo na Índia.

Esta detenção aconteceu no mesmo mês em que a procuradora-geral da República, Beatriz Buchili, denunciou, à margem da abertura do Ano Judicial 2024, que o tráfico de drogas já tem teias na Polícia da República de Moçambique e nos meandros políticos. Um cenário quase igual ao que se verifica nos raptores.

Nos últimos anos, nas palavras da Beatriz Buchili, o tráfico de drogas estendeu as suas teias nas instituições públicas.

“Como Judiciário, devemos continuar a reforçar a integridade das instituições e os mecanismos do combate à corrupção, pois esta é um dos instrumentos usados pelo crime organizado para concretização das suas acções, daí que o tráfico de droga tenha a capacidade de estender as suas teias nas instituições públicas, incluindo no seio da polícia, das magistraturas, da advocacia, dos actores políticos e das esferas económica e social, manipulando as agendas das instituições e comprometendo o Estado”, declarou Buchili na abertura do ano judicial de 2024, que decorreu sob o lema “Reforçando o Papel do Judiciário no Combate ao Tráfico de Drogas”.

Para combater o crime organizado, é entendimento da Procuradora-Geral da República que todos os sectores devem envidar esforços e “denunciar todos os actos de corrupção, com destaque para os órgãos de gestão e disciplina dos magistrados e oficiais de Justiça e os órgãos de controlo interno do sector da administração da Justiça”.

A cooperação é, segundo Beatriz Buchili, uma das armas para tirar Moçambique da lista do tráfico internacional de drogas.

“Estamos, infelizmente, inseridos no tráfico internacional de droga e não podemos pensar numa solução unicamente nacional. Devemos lançar mão aos diversos mecanismos de cooperação internacional e, aliás, temos estado a efectuar, fazendo o aproveitamento não só dos mecanismos formais como também informais, com enfoque para os diversos fóruns internacionais em que as nossas instituições se mostram representadas”.

A procuradora-Geral da República defendeu, por outro lado, o reforço da capacidade institucional da Polícia da República de Moçambique (PRM) e o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), tendo, por isso, defendido a implementação com maior celeridade do Plano Estratégico do SERNIC, concluído em março de 2023.

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