Júlio Parruque e a varinha mágica!

OPINIÃO

 Xavier Uamba

O Município da Cidade da Matola tem sido alvo de diversas críticas decorrentes, em muito, da crise social que o país atravessa. E não é para menos. Falta, na verdade, tudo na Matola. Desde transporte ao saneamento do meio, roçando às debilitadas vias de acesso da autarquia, sem descurar, de forma alguma, as obsoletas infra-estruturas da autarquia e o crónico e de barba branca problema da gestão da terra.

Elísio Macamo, emblemático sociólogo moçambicano, nunca deixa de ressaltar que o real problema da Matola é, em muito, cívico. Dito de outra forma, falta sentido de urbanidade nesta autarquia porque, não basta que o serviço esteja lá, é preciso que se aja sobre o serviço.

Em muito, as reais soluções dos problemas estão com o munícipe, mas falta, muitas vezes, a possibilidade de fazer ouvir a voz do munícipe. Os nossos problemas tornam-se, desta forma, intratáveis por causa da forma como as pessoas detentoras do poder persistem na ilusão de que só elas sabem como fazer as coisas.

Macamo, vai mais longe ao afirmar que, os problemas da Matola são locais, que eles se tornam intelegíveis a partir do debate aberto sobre como cada um se sente enquanto membro da comunidade e que a sua solução não é, necessariamente, final, mas sim experimental, com a possibilidade de correcção ao longo do tempo. E Matola não é excepção nenhuma nesse aspecto.

O Município da Matola tem uma oportunidade ímpar para ensaiar uma nova forma de fazer política no País. Existem experiências interessantes de processos deliberativos no mundo inteiro que poderiam servir de inspiração. O conhecimento que precisamos existe e é barato. Basta abordar as universidades locais e pedir estudos simples, abalizados sobre as condições geológicas, sobre potenciais soluções e convidar representantes de vários interesses cívicos a uma conversa aberta e franca sobre os desafios que o Município enfrenta. Para isto funcionar, é preciso tirar os olhos da questão de saber como tapar buracos na estrada e projectar o olhar no que faz do buraco um problema.

A deliberação pode, por exemplo, produzir uma solução que consiste em consciencializar os munícipes a aceitarem a inevitabilidade dos buracos sem que isso signifique necessariamente a resignação. As soluções que podem advir disso são incontáveis.  O problema é que enquanto vivermos na ilusão política de que quem governa sabe como resolver os nossos problemas, viveremos reféns da nossa própria inutilidade e vamos fazer da procura de bodes expiatórios a principal virtude cívica. Ou seja, Júlio Parruque não trará amanhã uma varinha mágica para resolver os problemas da autarquia. Longe disso. Nós é que temos a faca e o queijo. A ele cabe apenas potenciar o contributo que cada matolense pode dar em prol da urbe.

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