Edis recém-empossados abandonam arrogância e atacam principais problemas dos munícipes

DESTAQUE POLÍTICA
  • Há uma aparente mudança de atitude nos edis da Frelimo
  • Manhique e Parruque prometem acabar com clientelismo dos seus antecessores  
  • Júlio Parruque visitou algumas estradas tidas como críticas e prometeu trabalho
  • Shafee Sidat e Abdul Gafur lançaram campanhas para recolher resíduos sólidos

Embora tenha vencido em 60 das 65 autarquias do país, o partido Frelimo enfrenta um dos momentos mais impopulares da sua história, devido a vários problemas que o distanciam cada vez mais do povo. Aparentemente com a lição apreendida, o partido Frelimo parece ter orientado os seus edis eleitos nas VI Eleições Autárquicas para arregaçarem as mangas para conquistarem a confiança do povo, pela postura diferente que tem sido demonstrada pelos edis de Maputo, Matola e Marracuene, só para citar alguns exemplos, nestes primeiros dias de governação.  Na cidade de Maputo, Rasaque Manhique parece estar disposto a cumprir a promessa de que o gabinete de trabalho será apenas um lugar para o contacto com documentos e que será um edil de rua, porque é lá onde estão os munícipes, tendo em pouco tempo atacado de frente alguns dos principais problemas, a começar pela gestão de resíduos sólidos e saneamento do meio, mas também endureceu o tom contra o clientelismo na contratação de bens e serviços. Parruque, por sua vez, chegou e minimizou o crônico problema da recolha de lixo, exigiu maior intervenção nas estradas e prometeu simplificar a atribuição de DUAT para os munícipes. Já Shafee Sidat entrou e já conseguiu parcerias para limpar Marracuene.

Duarte Sitoe

Os edis eleitos nas VI Eleições completam no próximo dia 07 de Março corrente um mês de governação. Em Maputo, Matola, Matola-Rio e Marracuene os novos edis já estão a implementar alguns planos para reconquistarem a confiança dos munícipes que, diga-se em abono da verdade, exerceram voto punitivo nas últimas eleições.

Na Matola, nos últimos anos, a recolha dos resíduos sólidos inquietou sobremaneira a população. No entanto, Júlio Parruque chegou e minimizou o crônico problema de recolha de lixo. Aliás, Parruque liderou várias campanhas de limpeza em alguns bairros tidos como críticos e observou ser urgente o aprimoramento de mecanismos de gestão de lixo.

“Encontramos aqui vários tipos de lixo, desde plásticos, roupas e outros. Precisamos aprimorar os cuidados, a atenção e a gestão destes problemas, nós o município, as cadeias e o hospital”, disse o presidente do Conselho Municipal da Matola.

No âmbito do programa dos primeiros 100 dias de governação municipal, Júlio Parruque esteve no terreno para liderar acções de emergência no problema de fuga de águas negras no canal de escoamento das Cadeias Civil e de Máxima Segurança, assim como no Hospital Geral da Machava.

No Município da Matola o grosso das estradas estão esburacadas, facto que desassossega os automobilistas. Parruque, que referiu durante a campanha eleitoral que conhece os problemas da cidade das indústrias, visitou algumas vias tidas como críticas, nomeadamente, Patrice Lumumba-São Damanso, Patrice Lumumba-Singathela, Nkobe e Km15, tendo na ocasião deixado a promessa de trabalhar na reabilitação das estradas com vista a garantir a mobilidade segura dos munícipes.

No que ao desporto diz respeito, o Conselho Municipal da Matola lançou, recentemente, um torneio de futebol no bairro Km15 e disponibilizou 100 mil meticais para as premiações. Na abertura do certame, Júlio Parruque deixou a promessa de continuar a construir campos para a prática do desporto na edilidade.

“A nossa missão é incentivar e apoiar o associativismo juvenil nas várias manifestações. No desporto, iremos continuar a construir campos para a prática do desporto e reabilitar os já existentes. Faremos de tudo para continuar a alavancar o desporto na nossa cidade”, declarou.

Ainda na Matola, a autarquia lançou uma campanha de simplificação e massificação de atribuição de Direitos de Uso e Aproveitamento de Terra (DUATs). A luz deste projecto, os munícipes têm oportunidade de poderem tratar do DUAT no sábado, pelo menos uma vez no fim de cada mês. Semana passada, o município entregou documentos de titularidade de terra aos primeiros 100 beneficiários.

Manhique endurece tom contra corrupção e clientelismo

Rasaque Manhique foi dos edis que mais activos pareceu nestes primeiros dias, com aparições e discursos bastante conseguidos e mais próximos aos anseios dos munícipes, o que lhe tem valido alguma simpatia até ao momento.

Na semana passada, voltou a hastear a bandeira da luta contra a corrupção na Cidade de Maputo. Para o efeito, prometeu acabar com a adjudicação de obras públicas com preços especulados, tendo revelado que nos próximos tempos vai cancelar todas as empreitadas que se encontram nestas condições.

“Manipular valores e facturas de obras não tem outro nome senão roubo, significa roubar ao Estado, significa roubar ao munícipe. Lança-se um concurso público para a construção de uma dependência de dois ou três compartimentos para a cobrança de impostos, taxas e outros serviços públicos, adjudica-se este mesmo concurso com valores altíssimos e tornamo-nos ridículos”, declarou.

O sector dos transportes ainda é uma pedra no sapato dos munícipes da Cidade de Maputo. Rasaque Manhique reconheceu que “é doloroso ver munícipes a guerrearem pelo transporte”, daí que prometeu resolver esta situação o mais breve possível porque não faz sentido que a cidade de Maputo continue a enfrentar crise de transporte público.

Os últimos dias da governação de Eneas Comiche na capital moçambicana, Maputo, foram caracterizados pela deficiente recolha dos resíduos sólidos, devido a uma dívida astronómica. Manhique, mais do que prometer estruturar a dívida para que o seu pagamento seja sustentável, decidiu fazer diferente e com luvas e botas pôs-se a limpar a cidade com as próprias mãos.

O acto teve lugar no último sábado através de uma campanha de limpeza replicada em todos distritos municipais. Segundo Manhique, ter a cidade das acácias limpa não constitui um plano, deve ser o quotidiano de cada um na nossa cidade, tendo ainda revelado que está a cooperar com os operadores privados por forma a garantir com que a cidade esteja limpa.

“Estamos em contacto com estes operadores para que possamos garantir que a cidade esteja limpa. O objectivo é termos lixo zero e temos de partir de algum ponto, e o ponto de partida é sempre o diálogo para que possamos chegar a um determinado ponto que é a satisfação dos munícipes”, esclareceu.

Ainda no que respeita à recolha dos resíduos sólidos, o novo edil da Cidade de Maputo escalou nos primeiros dias a lixeira de Hulene com o objectivo de a se inteirar do ponto de situação deste aterro sanitário.

“Vim com toda a equipa de vereadores e directores de forma que vivêssemos de perto aquilo que é a realidade da nossa lixeira de Hulene. Muitas vezes falamos da lixeira e é tudo teórico, por isso decidimos vir cá para percebermos como é que está a funcionar a nossa lixeira. Assim, podemos ir à mesa, discutirmos a lixeira com propriedade. É por compreendermos o sofrimento dos outros que estamos aqui, para também vivermos aquilo que os nossos munícipes que estão à arredores, aqueles que são catadores passam todos os dias por causa da lixeira e a partir daqui irmos buscar soluções”.

Manhique escalou também as obras de reabilitação da Rua Estácio Dias, no bairro Chamanculo, Distrito Municipal Nlhamankulu, onde manifestou insatisfação pela morosidade dos trabalhos e exortou ao empreiteiro para acelerar a execução das obras, por forma a melhor a qualidade de vida dos moradores daquele bairro.

Já numa visita à Direcção Municipal de Ordenamento Territorial, inteirou-se do funcionamento, tendo apelado os funcionários para serem mais céleres na tramitação do expediente para satisfazer cada vez mais os munícipes, que na sua maioria estão à espera de Títulos de Direito e Uso e Aproveitamento de Terra.

Marracuene e Matola-Rio dão os primeiros passos como municípios

Shafee Sidat continua de pedra e cal em Marracuene. Depois de ter desempenhado o cargo de administrador do Distrito de Marracuene, Sidat mereceu a confiança do seu partido para ser o cabeça-de-lista nas VI Eleições Autárquicas, pleito em que a sua lista foi a mais votada.

Quando se caminha a passos largos dos primeiros 30 dias de governação, Shafee Sidat já começou a trabalhar para mudar a imagem no novo Conselho Municipal da Vila de Marracuene. Tal como Maputo e Matola, nos primeiros dias o novo edil de Marracuene priorizou a questão da recolha de lixo.

No âmbito da campanha “lixo no chão não”, que contou com a ajuda dos parceiros da edilidade, foram recolhidas cerca de 54 toneladas de lixo e foram colocados tambores para minimizar o lixo que é depositado fora dos sacos, nas vias públicas e outros locais.

Melhorar as vias de acesso foi uma das promessas de Shafee Sidat durante a campanha eleitoral. Recentemente, o edil de Marracuene saiu do seu gabinete para o terreno com vista a inteirar do estágio das obras da estrada N1/Mali. Por outro lado, o Conselho Municipal de Marracuene reabilitou a via N1/15 através dos trabalhos de recargas de solo.

Matola-Rio vive igualmente os primeiros dias como município. Nos primeiros dias, Abdul Gafur lançou campanhas de limpeza para acabar com focos de lixo naquela autarquia.

“Esta é uma vila em que os resíduos sólidos não têm tido o tratamento adequado e nós temos de começar a fazer isso, falar com as pessoas para melhor manusear o lixo e criarmos toda uma infra-estrutura para podermos trabalhar eficazmente, de modo a garantir o melhor saneamento do meio para os munícipes”, explicou.

As construções desordenadas tiram sono ao recém-empossado edil da Matola-Rio. Para acabar com este fenómeno, Gafur disseminou, recentemente, uma campanha de sensibilização e fiscalização de obras.

Refira-se que Município da Matola-Rio não tem nenhuma infra-estrutura para o seu funcionamento, sendo que neste momento partilha infra-estruturas com o Governo do Distrito de Boane, particularmente o posto administrativo da Matola-Rio, onde o edil trabalha na mesma sala com o chefe do Posto.

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