Sector da educação na província de Maputo falha promessa de construir 100 salas de aulas

POLÍTICA SOCIEDADE
  • Mais de 45 mil crianças continuam estudando ao ar livre

No ano passado, a Direcção Provincial de Educação de Maputo prometeu construir mais de 100 salas de aulas como forma de reduzir as 888 salas ao ar livre. No entanto, o Executivo da província de Maputo não alcançou a meta, uma vez que só foram concluídas 67 salas. Actualmente, mais de 35 mil crianças estudam ao relento na província que nos últimos cinco anos foi governada por Júlio Parruque. A título de exemplo, na Escola Básica de Matibwana nos dias de chuva não houve aulas, o que de certa forma condicionou o processo de ensino e aprendizagem. Numa entrevista concedida ao Evidências, a directora provincial de Educação, Carménia Canda, justificou que as 100 salas prometidas não foram construídas devido a insuficiência de fundos, tendo, por outro lado, prometido que no corrente ano serão construídas mais de 100 novas salas de aulas para reduzir as turmas ao relento.

Esneta Marrove

Ainda prevalece a situação das salas de aulas ao relento na província de Maputo, o que de certa forma condiciona o processo de ensino e aprendizagem. Enquanto aguardam pelas melhores condições, os professores e alunos fazem das árvores salas de aulas em quase todo o território nacional.

A Escola Básica de Matibwana, arredores da província de Maputo, faz parte do rol das instituições de ensino que aguardam pela construção de salas de aulas para reduzir o número de turmas ao livre, uma vez que neste momento 10 turmas fazem das árvores suas salas de aulas.

Estudar ao relento é sinónimo de motivação para a pequena Mércia Joana. Actualmente na 6ª classe, Joana lamenta o facto de estudar debaixo das árvores desde que se iniciou nos estudos.

“É difícil estudar nestas condições, mas não podemos desistir. Estamos aqui para aprender para alcançar os nossos sonhos. Quando crescer quero ser médica, e estudar ao relento me motiva a lutar pelos meus sonhos. Os nossos professores sempre dizem que temos que estudar para mudar a situação do nosso país. Infelizmente, nos dias de chuva não estudamos e no tempo de frio sofremos muito”, disse.

Outro aluno que não disfarçou o seu descontentamento em ter aulas ao ar livre é Edson Júnior, que está a fazer a 6ª classe e espera no próximo ano ingressar no ensino secundário. De acordo com Junior, a concentração não é a mesma que estudar numa sala de aulas com portas e janelas.

“Nos distraímos com muita facilidade, não queremos muito senão salas de aulas para ajudarem a melhorar o nosso desempenho. Sofremos nos dias de chuva porque estudamos ao relento. É frustrante estudar nestas condições”, rematou.

Uma situação vista com preocupação pela direcção da escola, daí que a mesma alega não ter fundos para construir novas salas de aulas e depende das contribuições dos pais e encarregados de educação.

“Com ajuda da comunidade conseguimos reduzir o número de turmas ao ar livre de forma significativa, reduzimos nove turmas, e actualmente contamos com 38 salas ao ar livre e cada uma conta com 75 alunos”, disse Zélio Sitoe, director-adjunto da escola”.

A Escola Primária Completa de Boquisso também faz parte do rol das instituições de ensino com turmas ao relento na província de Maputo. Ao contrário das outras escolas, a Escola Primária de Boquisso tem muro de vedação. Contudo, segundo alguns alunos entrevistados pelo Evidências, há injustiça, uma vez que há alunos que estudam nas salas e outras debaixo das árvores.

“Não é justo o que está a acontecer. Enquanto nós estudamos debaixo das árvores e sem carteiras, há outros que estudam nas salas. Desde a primeira classe que estudamos ao relento. Pedimos a quem de direito para melhorar esta situação”, protestou Vánia Moisés, de 13 anos de idade.

Executivo de Maputo volta a prometer 100 salas para este ano

No ano passado, a direcção Provincial da Educação de Maputo prometeu construir pelo menos 100 salas de aulas para as mais de 50 mil crianças que estudam ao relento, entretanto esta promessa não chegou a ser cumprida na totalidade devido à falta de fundos, de acordo com Carménia Canda, directora provincial de educação.

“Nós tínhamos como meta construir 100 salas, mas até o final de anos tivemos apenas 67 concluídas nos distritos de Boane, Manhiça, Magude, Marracuene, Namaacha e Matola”, disse Canda, referindo que as 67 novas salas de aulas tiraram 15 mil crianças debaixo das árvores.

Apesar de ter concluído mais da metade das salas previstas, a directora provincial assume que estas não são proporcionais a redução de turmas ao ar livre devido à concorrência habitacional que a província vem tendo nos últimos anos, facto que leva a entidade a sentir o crescimento de turmas debaixo das árvores nos distritos de Matola, Marracuene e Boane.

“Enquanto nós construímos as salas olhando para o último número das nossas turmas ao ar livre, somos pressionados e fica a parecer que a nossa construção não muda nada. O distrito da Matola é o mais pressionado em termos de salas ao ar livre, seguido de Boane e Marracuene. Este ano esperamos construir mais 100 salas de aulas e reduzir mais turmas”, disse.

Neste processo, o mau tempo tem vindo a atrapalhar as aulas dos petizes, daí que no inverno a direcção opta em juntar os alunos com outros que estão em salas cobertas, porém esta acção não tem sido eficaz porque as turmas ficam superlotadas.

“Sabemos que as crianças se distraem com muita facilidade, razão pela qual grande parte das turmas ao ar livre está atrás das salas. Apenas temos três turmas à beira da rua, nos próximos tempos esperamos que haja uma redução significativa das salas ao ar livre e temos promessas de novas salas de aulas por parte da direcção provincial”, disse Sitoe, acrescentando que as cinco novas salas de aulas estão previstas para este ano.

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