Maputo é longe, não se ouvem os gritos daqueles que são mortos sem saber porquê nas aldeias de Cabo Delgado – atira Ngoenha

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O recrudescimento do terrorismo agravou a crise humanitária na província de Cabo Delgado. Numa altura em que o Governo vinca que a situação está controlada no Teatro Operacional Norte, o acadêmico Severino Ngoenha refere que o Executivo não tem ideia do que está a acontecer no terreno, visto que “Maputo é longe, não se ouvem os gritos daqueles que são mortos sem saber porquê nas aldeias de Cabo Delgado”.

O ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, confirmou, recentemente, incursões dos terroristas em alguns distritos da província de Cabo Delgado, tendo na ocasião garantido que não se trata de recrudescimento do terrorismo.

“A situação na província de Cabo Delgado continua estável, não obstante as últimas ocorrências no sul da província de Cabo Delgado. Como se sabe, algumas aldeias nos distritos de Quissanga, Metuge, Ancuabe, Chiùre, sofreram alguns ataques, que originaram um deslocamento da população mais a sul, para a província de Nampula, e também para outros distritos de Cabo Delgado”.

Quem ficou perplexo com os discursos do Governo perante a situação que vive na província de Cabo Delgado é Severino Ngoenha. No entender do acadêmico, os governantes não têm ideia do que está acontecer naquele ponto do país porque Maputo é longe.

“Maputo é longe, é tão longe que os que de lá mandam não têm ideia do resto do país. Se não fosse longe, hoje o país teria parado para tentar perceber o que está a acontecer nos distritos de Quissanga, Ibo, sem falar de Chiúre e Macomia. Maputo é longe. Visto de Maputo, Moçambique é um país lindo, sem problemas, sem guerra e sem deslocados, sem funcionários a fugirem para salvar a sua pele. Mas Maputo é longe, não se ouvem os gritos daqueles que são mortos sem saber porquê nas aldeias de Cabo Delgado”, declarou Severino Ngoenha.

Ngoenha, que discursava durante a Conferência Dom Alexandre José Maria dos Santos, apontou, por outro lado, que os moçambicanos estão cegos e surdos perante a crise humanitária que vive em Cabo Delgado.

“Nós estamos longe, nós estamos cegos e surdos em relação ao que acontece com milhares dos nossos concidadãos em Cabo Delgado, neste momento, mas também em muitas outros Cabos Delgados, onde as pessoas morrem de fome, as crianças se sentam no chão, em que o analfabetismo progride e a miséria não pára de aumentar”.

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