Ossufo Momade com autoridade beliscada

EDITORIAL

Isolado e fragilizado, Venâncio Mondlane não vergou e usou das melhores armas para inverter o jogo a seu favor, a justiça, que no cenário da política doméstica é preterida por causa da aparente influência do poder político dominante. Mas Venâncio muniu-se e avançou.

Ele é agora uma formiga no grande elefante, que vai espatifando a tromba no tronco na tentativa de fazer sair o insecto. Mas se quer mesmo tirar a formiga para fora da tromba, tudo indica para uma única saída: cumprir e fazer cumprir os estatutos do partido. A Renamo deve aceitar o congresso, unificar-se e “libertar-se da Frelimo”, a fim de ser, de facto, uma alternativa política.

Ora, na semana passada, o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM) veio dar provimento à providência cautelar intentada por Venâncio Mondlane. No despacho assinado pelo juiz Eusébio Lucas estão suspensos todos os actos de nomeação e exonerações em massa levados a cabo por Ossufo Momade, o que torna os actos deste, enquanto Presidente da Renamo, nulos.

Lê-se no despacho que o Presidente da Renamo deve “suspender todos actos estruturantes por si praticados, por um lado, e abster-se de exonerar os delegados e outros membros em exercício de funções e de nomear substitutos dos exonerados fora do período de vigência de mandato dos órgãos do Partido”.

Longe dos efeitos deste despacho no cenário jurídico, no cenário sóciopolítico, o documento expõe o Presidente da Renamo, cuja ambição não lhe permite ver alicerces que asseguram o seu poder. É que a vitória do Venâncio Mondlane veio baralhar e beliscar a sua autoridade, que, agora, numa estratégia mal ensaiada, decidiu aumentar a sua visibilidade na imprensa, onde vai soltando algumas farpas para os seus opositores, para além da contínua negação de que foi cooptado pela Frelimo, ignorando os factos que põe em causa a sua legitimidade enquanto presidente da Renamo e os elementos que criam essa “perceção de ser um presidente cooptado por Nyusi”. Ossufo Momade escolhe vitimizar-se, no lugar de liderar e partir para eleição, onde deve provar que de facto tem apoio dos membros da Renamo. Marchar em direcção oposta à eleição interna significa dar razão ao Venâncio Mondlane e aumentar a divisão no seio do partido Renamo, o que acaba por beneficiar a Frelimo, dando eco a ideia de que está a serviço da Frelimo.

Em todos cenários, independentemente de partir para instância superior ou ficar indiferente, Ossufo Momade torna-se, naturalmente, um presidente ilegítimo da Renamo, devendo, para efeito, aceitar o desafio dos seus “detractores” de ir às urnas. Sob o risco de estar a dar espaço de projeção a Venâncio Mondlane, que se apresenta agora como salvador da Renamo, ao anular os actos ilegais de um representante ilegítimo do partido, que “mesmo fora do mandato” continua a exercer a função.

Mas a derrota não é apenas de Ossufo Momade, é também dos seus assessores, que, por alguma razão, escolhem pela via barulhenta, em um ano eleitoral, quando deviam carregar o seu presidente a eleição interna, para fazer manutenção do poder, se de facto tem apoio dos militantes da Renamo. O tempo não espera.

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